“Cadê os Tamancos?
Cadê os Tamancos?”
Paschoal – jogador, lembrando as provocações
1928 A Turma da Fuzarca
Após a sua inauguração em 1927, São
Januário se tornaria indiscutivelmente o principal estádio do país por vários
anos. No ano seguinte ele seria o primeiro estádio do Brasil em condições de
disputar jogos noturnos com a inauguração dos refletores em março. Contudo ele
levou três anos para se o palco da seleção brasileira se exibir. Depois da Copa
de 1930 o Brasil disputou três amistosos com as seleções da França, Iugoslávia
e Estados Unidos, todos eles em São Januário. Antes disso, entre 1927 e 1930, a
seleção brasileira disputou 4 jogos não-oficiais no Brasil, todos eles
disputados nas Laranjeiras[1].
A resistência em disputar jogos da
seleção em São Januário, neste período, demonstra a preocupação do Fluminense
com a força do Vasco e o poder político dos tricolores na política esportiva. O
que estava em disputa era, especialmente, para o Fluminense, ter perdido para o
Vasco, a referência de possuir o principal local esportivo da cidade, da
capital do Brasil.
O novo estádio seria mais um passo
decisivo para as mudanças que se operavam no interior do futebol, entre elas,
as principais serão: a popularização crescente do mesmo entre diversas camadas
sociais e na maior exigência dos torcedores de melhor qualidade técnica dos
jogadores de seus clubes, o que certamente incentivou a profissionalização dos
mesmos.
Em função dos conflitos na Argentina
em 1925 e das intrigas entre dirigentes paulistas e cariocas, a seleção
brasileira de futebol não participou das Olimpíadas em junho de 1928. A final
entre Uruguai e Argentina consagrou o futebol sul-americano em todo o mundo.
Enquanto
isso, o América despontava como o melhor time do campeonato carioca de 1928,
Vasco e Flamengo travavam uma disputa a parte para resolver as pendências entre
as suas torcidas. Depois de perder em São Januário por 3 a 0, o Flamengo se
preparou para enfrentar o Vasco no jogo de volta no acanhado estádio da rua
Payssandu e o medo preconceito contra
jogadores e torcedores vascaínos são evidenciados numa matéria escrita para um
jornal, acusando a torcida cruzmaltina de ser arruaceira e que a força policial
deveria proteger os rubro-negros e tentando intimidar os jogadores: “Os
boateiros, essa gente desocupada que vive a idealizar impossíveis e a sonhar
com absurdos, se incumbiram de espalhar pela nossa cidade, que grandes
acontecimentos, e das mais graves consequências, aparecerão, hoje, a tarde, no
Field da Rua Paysandu, onde o Flamengo lutará com o Vasco da Gama. Estejam
descançados os boateiros, porquanto nada de anormal ocorrerá no campo do
valioso rubro negro. As ordens ali são severíssimas, e qualquer valentão que
surja com ares de atleta ou boxeur será, imediatamente posto para a rua, se for
assistente e retirado de campo, se for jogador. A comissão de associados do
clube, encarregada pela diretoria flamenga, para proceder ao policiamento do
campo, tem ordens de agir com o máximo rigor para com os desordeiros que andam
ultimamente pelos nossos fields. Estes serão retirados dali e removidos
imediatamente para a Delegacia mais próxima. Os jogadores que tentem por em
prática jogo violento estão em maus lençóis, pois, logo serão retirados de
campo pelos árbitros e serão incluídos nas sumulas, como elementos prejudiciais
ao esporte. Aqueles valentões que gostam de mostrar as suas qualidades de
fascinoras e desordeiros e que tem o costume de inutilizar os seus adversários
com ponta pés e trancos, que se acautelem.Aliás nós já esperávamos que
surgissem estes boatos, que foram espalhados por torcedores do clube da cruz de
malta. Entretanto, se algum adepto do Vasco ou do club local tinha intenções de
se exibir, como boxeur, ou melhor, como desordeiro, que deixe em casa ou esqueça
essa vontade, pois o arrependimento, quando vier, será tardio e doloroso.
Quanto as desordens, que os adeptos do Vasco anunciaram, fartamente, de que o
campo do Flamengo ia ser teatro, podemos asseverar aos nossos leitores que ela
não se realizarão, por dois motivos: o primeiro, porque, como já dissemos, as
ordens são severíssimas e o segundo, porque conhecemos os jogadores do clube
local, e sabemos de que espécie de gente se compõe o seu corpo de associados,
que tem a educação suficiente para não se imiscuir com a torcida anonyma e
apaixonada, como é a do Vasco da Gama. Descansem os boateiros! ....” [2]
O texto é um primor de como os o
pensamento elitista estava presente no sentimento geral de determinados
segmentos da sociedade. Os traços aristocráticos são desenhados na afirmação do
Field (campo) e na comparação explícita entre um clube e outro. Um tem corpo de
associados que serão protegidos pela polícia, o outro uma torcida anonima e
desordeira.
Mas faltou combinar com o time do
Flamengo que, em campo perde novamente par o Vasco por 2 a 1 e se afasta cada
vez mais da disputa da liderança do campeonato. Na última rodada, com o América
já campeão por antecipação, Vasco e Botafogo disputam suas partidas e seus
segundos quadros se enfrentam. Depois de uma decisão polêmica do árbitro, a
torcida do Vasco invade o gramado e “provoca” o encerramento da partida.
Novamente o Diário Carioca escreve contra os vascaínos e acusa o clube de ser
protegido pelos dirigentes do futebol carioca que não punem os “poderosos”:
“Corria o encontro animadamente e disputado debaixo da maior violência, quando
a torcida do Vasco (sempre a mesma), não se conformou ante uma decisão do
árbitro, Sr Bolivar Castro, do Fluminense, invadiu o campo esbofeteando e
maltratando covardemente, como só ela sabe fazer, o distinto, não caiu nas
graças dos Vascaínos. Já que a Amea, por se tratar do Vasco da Gama, o
“bam-bam-bam” da zona, não toma providencias, a polícia que tome a seu encargo
a defesa da vida dos sportmen, que tem de atuar partidas em que tenha de
participar algum, team do C. R. Vasco da Gama” [3].
Certamente a rivalidade entre Vasco
e Flamengo trazida desde os tempos do remo se prolongou e ampliou com o
futebol. A força do remo nos anos anteriores não era desprezível e continuou nestes
anos. Por esta época um grupo de remadores do Vasco criou um grito de guerra
que seria imortalizado nos próximos anos se tornando uma tradição no clube. De
acordo com o pesquisador vascaíno Mauro Prais em sua página na internet: “tudo começou quando os remadores e
outros sócios do clube se reuniam na garagem de barcos para comemorar vitórias
nas regatas. Invariavelmente, comparecia a estes eventos uma certa Turma da
Fuzarca, que, como seu nome sugere, animava a festa. O hoje famoso grito de
Casaca, que surgiu como expressão da confraternização entre os remadores e a
Turma da Fuzarca, passou a ser associado às conquistas vascaínas no remo e,
posteriormente, disseminou-se às outras modalidades esportivas”.
Daí
por diante em qualquer comemoração de título do clube ou em uma reunião de
celebração de amizade entre os vascaínos não poderia faltou o conta e sua
coreografia com os braços levantados em punho a bradar:
Vascaínos!
Para o Vasco, nada?
Tudo!
Então como é que é que é que é?
CASACA
CASACA
CASACA ZACA ZACA!
A TURMA
É BOA
É MESMO DA FUZARCA!
VASCO, VASCO, VASCO!
Tudo!
Então como é que é que é que é?
CASACA
CASACA
CASACA ZACA ZACA!
A TURMA
É BOA
É MESMO DA FUZARCA!
VASCO, VASCO, VASCO!
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge
Medeiros.
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