“aclamado
o Rei da Folia”
Affonso Silva, o Polar
1934 O Rei Momo é Vascaíno
O carnaval carioca nos anos 1930 passava
por grandes transformações com sua popularização, aliada com a força crescente
do rádio comercial e da indústria fonográfica. Novos atores sociais começam a
aparecer, entre eles a figura do Rei Momo. No ano de 1934 era feita a primeira
eleição para a escolha do representante oficial da folia e venceu o vascaíno
Polar: “Affonso Silva foi aclamado o Rei da Folia. Encerrou-se
ante ontem, o brilhante e oportuno Concurso instituído pelos nossos colegas da
A Pátria, para a escolha por votação popular, do folião que devia ser aclamado
Rei Momo. Após um prélio renhido e entusiasmo, os cariocas escolheram para
exercer as altas funções de Rei da Folia o consagrado folião Affonso Silva, o
Polar, que era candidato da casa O Mandarin. Chaby, o vigoroso folião dos
Fenianos alcançou o segundo lugar, deixando Chico Rocha em terceiro” [1].
Para
o campeonato carioca o Vasco montava uma verdadeira seleção trazendo jogadores
do exterior, como Domingos
da Guia (Argentina) e Leônidas (Uruguai). Fausto retornava ao clube, além de
outras contratações. O time ficou conhecido com “esquadrão dos 100 contos”, uma
fortuna para a época.
A vitória incontestável em campo
animou os torcedores que organizaram uma caravana para São Paulo para ver o
clube disputar uma partida em retribuição a visita dos paulistas ao Rio de
Janeiro: “CARAVANA VASCAÍNA PARA SÃO PAULO: O Vasco está
organizando um Trem especial para conduzir a São Paulo os seus associados,
adeptos e amigos, afim de que os mesmos possam assistir, domingo, na Capital
bandeirante, a revanche que ele proporcionará ao São Paulo F. C. As instruções
para os que quiserem seguir na Caravana Vascaína, já se acham abertas na
secretaria do Club de Domingos. O referido Trem especial partirá Sábado e
estará de volta, domingo a noite” [2].
Para este jogo a torcida sabia que não veria mais o
talento de Leonidas da Silva vestindo a camisa do Vasco. O atleta seria contratado
a peso de ouro pela CBD para representar o Brasil na Copa do Mundo da Itália. Leônidas tornou-se um dos
profissionais que foram contratados pela CBD no final de abril. Na volta ao
Brasil, Leônidas seria transferido ao Botafogo.
A
CBD praticava o amadorismo marrom, pois oficialmente era contra o
profissionalismo mas a maioria dos melhores jogadores do Brasil jogavam nas
ligas profissionais. Para montar a seleção brasileira, a entidade máxima do
futebol brasileiro passou a assediar os jogadores com propostas econômicas
vantajosas. “Os jogadores que a CBD mais cobiçava estavam praticamente todos
numa só equipe o Vasco da Gama de Leônidas e seus negros famosos. Domingos,
Fausto, Tinoco e o goleiro Rey foram os mais assediados” (Ribeiro, 1999. p. 55).
Para evitar que o clube perdesse mais jogadores a diretoria pedia aos
torcedores e associados que se cotizassem e ajudassem o clube com propostas
financeiras que cobrissem a CBD. Deu certo, menos com Tinoco que também se
juntou ao elenco que disputou o mundial na Itália.
Outras caravanas de torcedores teriam prosseguimento em toda a cidade do
Rio de Janeiro acompanhando os atletas de várias modalidades esportivas. Até mesmo
para prestigiar o basquete infantil em Vila Isabel, foram requisitados 5 ônibus
especiais, organizado por João de Lucca, o chefe da torcida Vascaína, conforme
sinalizava o Jornal dos Sports. Pouco depois uma outra grande caravana seguia
para a Gávea para uma disputa no basquete adulto. Culminou com um amistoso em
Bangu entre um combinado da CBD e o time local, assim descrito: “para conduzir
a Torcida do Vasco, a “Frente Única Vascaína” fretou um Trem especial, no qual
também seguirão os jogadores do combinado cebedense” (Diário da Noite 22 de
dezembro).
No final do ano o Botafogo, clube que tinha maior
prestígio junto a CBD, comemorava o tricampeonato (disputando com clubes de
menor expressão em 1933 e 1934) conseguiu se aliar com o Vasco para formar uma
nova liga de futebol no Rio de Janeiro. Embora oficialmente recusasse o
profissionalismo o clube aceitava o modelo misto do profissionalismo e
amadorismo. Na prática era uma tendencia inevitável para o clube não acabar: “quanto mais o clube gastava, melhor
para ele. Os clubes que não gastavam, os clubes amadores, as moscas. Os sócios
desertando, os torcedores não aparecendo nos campos. O Botafogo viu-se reduzido
a 300 sócios, dos 3.500 que tinha” (Mario Filho, 2003, p.205). Aos poucos o
Botafogo ia se convencendo que o amadorismo estava com os dias contados, era
preciso largar o amadorismo e contratar jogadores, de preferência brancos, com
exceção de Leônidas.
A saída do Vasco da Liga Carioca de
Futebol foi em função de uma briga entre dirigentes de Vasco e Flamengo no
campeonato de remo no final de 1934. Os cartolas do Botafogo, aproveitando-se
deste impasse, sugeriram aos cartolas do Vasco que recorressem a CBD. Assim,
restou ao Vasco largar a Liga com Flamengo, Fluminense e América e juntar-se ao
Botafogo.
A
força da CBD no campo esportivo
ganhou novos contornos quando o Vasco (campeão carioca de 1934) tomou a atitude
de romper com a Liga Carioca de Futebol
(LCF), que era ligada a FBF e passar para o lado da CBD, se juntando ao
Botafogo na criação da Federação Metropolitana de Futebol (FMF) em substituição
a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). Juntamente com o Vasco
saíram o São Cristóvão (vice-campeão em 1934) e o Bangu. Estes dois clubes de
menores torcidas, mas de tradição e legítimos representantes das Zonas Norte e
Suburbana.. O clube carioca que mais se beneficiava com esta decisão era o
Botafogo tricampeão carioca pela AMEA (1932-33-34), quando disputou os dois
últimos campeonatos com clubes de menor expressão. Na disputa entre a AMEA e a
LCF, esta saía na vantagem em 1933 e 1934 com campeonatos de maior público, cobertura
na imprensa e reunião dos maiores craques. Em 1935, com a cisão do futebol
carioca, a divisão de interesse do público seria mais equilibrado.
Em São Paulo, os dois principais
clubes (Palestra e Corinthians) rompiam com a FBF e passavam para o lado da
CBD, o que apontava uma possível retomada da entidade dos rumos do futebol
brasileiro. O presidente do Conselho Deliberativo da CBD, Luiz Aranha, junto do
delegado da entidade, Carlito Rocha, foram dois personagens importantes para a
compreensão do processo que ocorria naqueles anos de embate político,
ideológico e pessoal. O primeiro dirigente era irmão do futuro ministro das
relações exteriores do Governo Getúlio Vargas (1930-1945), Oswaldo Aranha, e o
segundo era dirigente da AMEA desde os anos 1920. Os dois foram os grandes
articuladores para trazer o Vasco para o seu lado e enfraquecer a Liga Carioca
de Futebol, que tinha um inegável domínio do futebol carioca desde a criação do
profissionalismo em 1933. Os dois dirigentes eram ligados ao Botafogo, clube
carioca que mais lutou contra o profissionalismo e a inserção dos negros em
seus times.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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