domingo, 25 de setembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1934 O REI MOMO É VASCAÍNO

 “aclamado o Rei da Folia”
    Affonso Silva, o Polar
1934                 O Rei Momo é Vascaíno

            O carnaval carioca nos anos 1930 passava por grandes transformações com sua popularização, aliada com a força crescente do rádio comercial e da indústria fonográfica. Novos atores sociais começam a aparecer, entre eles a figura do Rei Momo. No ano de 1934 era feita a primeira eleição para a escolha do representante oficial da folia e venceu o vascaíno Polar: “Affonso Silva foi aclamado o Rei da Folia. Encerrou-se ante ontem, o brilhante e oportuno Concurso instituído pelos nossos colegas da A Pátria, para a escolha por votação popular, do folião que devia ser aclamado Rei Momo. Após um prélio renhido e entusiasmo, os cariocas escolheram para exercer as altas funções de Rei da Folia o consagrado folião Affonso Silva, o Polar, que era candidato da casa O Mandarin. Chaby, o vigoroso folião dos Fenianos alcançou o segundo lugar, deixando Chico Rocha em terceiro” [1].
            Para o campeonato carioca o Vasco montava uma verdadeira seleção trazendo jogadores do exterior, como Domingos da Guia (Argentina) e Leônidas (Uruguai). Fausto retornava ao clube, além de outras contratações. O time ficou conhecido com “esquadrão dos 100 contos”, uma fortuna para a época.
            A vitória incontestável em campo animou os torcedores que organizaram uma caravana para São Paulo para ver o clube disputar uma partida em retribuição a visita dos paulistas ao Rio de Janeiro: “CARAVANA VASCAÍNA PARA SÃO PAULO: O Vasco está organizando um Trem especial para conduzir a São Paulo os seus associados, adeptos e amigos, afim de que os mesmos possam assistir, domingo, na Capital bandeirante, a revanche que ele proporcionará ao São Paulo F. C. As instruções para os que quiserem seguir na Caravana Vascaína, já se acham abertas na secretaria do Club de Domingos. O referido Trem especial partirá Sábado e estará de volta, domingo a noite” [2].
Para este jogo a torcida sabia que não veria mais o talento de Leonidas da Silva vestindo a camisa do Vasco. O atleta seria contratado a peso de ouro pela CBD para representar o Brasil na Copa do Mundo da Itália. Leônidas tornou-se um dos profissionais que foram contratados pela CBD no final de abril. Na volta ao Brasil, Leônidas seria transferido ao Botafogo.
A CBD praticava o amadorismo marrom, pois oficialmente era contra o profissionalismo mas a maioria dos melhores jogadores do Brasil jogavam nas ligas profissionais. Para montar a seleção brasileira, a entidade máxima do futebol brasileiro passou a assediar os jogadores com propostas econômicas vantajosas. “Os jogadores que a CBD mais cobiçava estavam praticamente todos numa só equipe o Vasco da Gama de Leônidas e seus negros famosos. Domingos, Fausto, Tinoco e o goleiro Rey foram os mais assediados” (Ribeiro, 1999. p. 55). Para evitar que o clube perdesse mais jogadores a diretoria pedia aos torcedores e associados que se cotizassem e ajudassem o clube com propostas financeiras que cobrissem a CBD. Deu certo, menos com Tinoco que também se juntou ao elenco que disputou o mundial na Itália.
Outras caravanas de torcedores teriam prosseguimento em toda a cidade do Rio de Janeiro acompanhando os atletas de várias modalidades esportivas. Até mesmo para prestigiar o basquete infantil em Vila Isabel, foram requisitados 5 ônibus especiais, organizado por João de Lucca, o chefe da torcida Vascaína, conforme sinalizava o Jornal dos Sports. Pouco depois uma outra grande caravana seguia para a Gávea para uma disputa no basquete adulto. Culminou com um amistoso em Bangu entre um combinado da CBD e o time local, assim descrito: “para conduzir a Torcida do Vasco, a “Frente Única Vascaína” fretou um Trem especial, no qual também seguirão os jogadores do combinado cebedense” (Diário da Noite 22 de dezembro).
No final do ano o Botafogo, clube que tinha maior prestígio junto a CBD, comemorava o tricampeonato (disputando com clubes de menor expressão em 1933 e 1934) conseguiu se aliar com o Vasco para formar uma nova liga de futebol no Rio de Janeiro. Embora oficialmente recusasse o profissionalismo o clube aceitava o modelo misto do profissionalismo e amadorismo. Na prática era uma tendencia inevitável para o clube não acabar: “quanto mais o clube gastava, melhor para ele. Os clubes que não gastavam, os clubes amadores, as moscas. Os sócios desertando, os torcedores não aparecendo nos campos. O Botafogo viu-se reduzido a 300 sócios, dos 3.500 que tinha” (Mario Filho, 2003, p.205). Aos poucos o Botafogo ia se convencendo que o amadorismo estava com os dias contados, era preciso largar o amadorismo e contratar jogadores, de preferência brancos, com exceção de Leônidas.
            A saída do Vasco da Liga Carioca de Futebol foi em função de uma briga entre dirigentes de Vasco e Flamengo no campeonato de remo no final de 1934. Os cartolas do Botafogo, aproveitando-se deste impasse, sugeriram aos cartolas do Vasco que recorressem a CBD. Assim, restou ao Vasco largar a Liga com Flamengo, Fluminense e América e juntar-se ao Botafogo.
A força da CBD no campo esportivo ganhou novos contornos quando o Vasco (campeão carioca de 1934) tomou a atitude de  romper com a Liga Carioca de Futebol (LCF), que era ligada a FBF e passar para o lado da CBD, se juntando ao Botafogo na criação da Federação Metropolitana de Futebol (FMF) em substituição a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). Juntamente com o Vasco saíram o São Cristóvão (vice-campeão em 1934) e o Bangu. Estes dois clubes de menores torcidas, mas de tradição e legítimos representantes das Zonas Norte e Suburbana.. O clube carioca que mais se beneficiava com esta decisão era o Botafogo tricampeão carioca pela AMEA (1932-33-34), quando disputou os dois últimos campeonatos com clubes de menor expressão. Na disputa entre a AMEA e a LCF, esta saía na vantagem em 1933 e 1934 com campeonatos de maior público, cobertura na imprensa e reunião dos maiores craques. Em 1935, com a cisão do futebol carioca, a divisão de interesse do público seria mais equilibrado.
            Em São Paulo, os dois principais clubes (Palestra e Corinthians) rompiam com a FBF e passavam para o lado da CBD, o que apontava uma possível retomada da entidade dos rumos do futebol brasileiro. O presidente do Conselho Deliberativo da CBD, Luiz Aranha, junto do delegado da entidade, Carlito Rocha, foram dois personagens importantes para a compreensão do processo que ocorria naqueles anos de embate político, ideológico e pessoal. O primeiro dirigente era irmão do futuro ministro das relações exteriores do Governo Getúlio Vargas (1930-1945), Oswaldo Aranha, e o segundo era dirigente da AMEA desde os anos 1920. Os dois foram os grandes articuladores para trazer o Vasco para o seu lado e enfraquecer a Liga Carioca de Futebol, que tinha um inegável domínio do futebol carioca desde a criação do profissionalismo em 1933. Os dois dirigentes eram ligados ao Botafogo, clube carioca que mais lutou contra o profissionalismo e a inserção dos negros em seus times.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Diário de Notícias 02 de Fevereiro de 1934.
[2] Fonte: Jornal A Noite 13 de Maio de 1934

Vasco Jornal A Noite 1934

Vasco Jornal A Noite 1934


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