“Perigo: não
fumem. Dinamite em campo” Concurso
de frases promovido pelas Torcidas do Vasco
1981 Do
piquete ao Piquet
O nome de Lamartine Babo estará sempre ligado ao futebol
de todos os clubes cariocas. Embora o compositor fosse fervoroso torcedor do
America, ele foi o responsável, em 1944, por fazer o hino não oficial de todos
os 12 times cariocas da época. Em homenagem a esta grande figura da música
popular, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense, apresentou como enredo
principal a obra do compositor de memoráveis músicas e marchinhas. Com o
samba-enredo "O Teu Cabelo Não Nega - Só Dá Lalá", centenas de
torcedores desfilaram pela escola.
Um
passo importante na reivindicação dos torcedores veio em maio com a criação da
ASTORJ (Associação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro). Entre as
principais metas da nova entidade estava o controle do preço dos ingressos. Com
a inflação galopante desde 1979, os torcedores estavam preocupados com o
aumento excessivo dos valor dos ingressos, acima dos índices da inflação. A
atuação da ASTORJ expressava o sentimento geral
de que o espetáculo esportivo não poderia ser decidido apenas entre os
dirigentes dos clubes e da federação carioca de futebol.
Um
dos frutos da criação da ASTORJ foi a greve geral promovida pelas torcidas em
junho, nas reivindicações outros assuntos entravam na pauta de lutas: as
fraudes e denúncias de corrupção em diversas partidas de futebol. Neste período
a imprensa deu voz aos torcedores e fez inúmeras reportagens que confirmavam as
denúncias. É inegável que, neste período, a ASTORJ, assume um compromisso de
ser uma organização popular voltada para transformar o futebol e combater o
elitismo dos dirigentes esportivos. A
reportagem esclarece o objetivo da 1ª reunião: “A Associação das Torcidas
Organizadas (ASTORJ) vai realizar sexta feira sua primeira reunião, na Sede da
FUGAP e na segunda sua Diretoria irá a reunião do Conselho Arbitral, na
Federação, para exigir a redução dos preços dos ingressos no Maracanã e outros
Estádios. A Chefe da Renovascão, Dulce Rosalina, Relações Públicas da
Associação, disse que os torcedores promoverão um boicote total aos jogos se
não for atendido seu pedido”.
Alguns
meses depois algumas divergências internas começam a aparecer e os líderes não
conseguem unificar o seu discurso e a sua prática: “como consequência das
denúncias sobre corrupção no futebol, a ASTORJ (Associação das Torcidas
Organizadas do Rio de Janeiro), resolveu protestar nas partidas deste fim de
semana, colocando suas faixas nos Estádios pelo avesso. A finalidade é
demonstrar o repúdio do torcedor aos fatos denunciados e exigir a apuração
rigorosa do caso, segundo um dos membros da Diretoria, Ely Mendes da Força
Jovem. A manifestação com as faixas não conta com o apoio da Vice Presidente da
Associação e Chefe da Renovascão, Dulce Rosalina, que considera não haver motivo para desprestigiar
clubes e jogadores não envolvidos em denúncias e promete colocar suas faixas no
Maracanã normalmente amanhã”.
Não
era só acompanhando o futebol que os vascaínos vibravam no ano de 1981. As
alegrias começava pelas manhãs dos domingos acompanhando as vitórias do piloto
de Fórmula 1, Nelson Piquet, um vascaíno convicto. Em diversas reportagens o
ídolo fazia questão de ressaltar o amor ao clube de seu coração. Por exemplo, em
entrevista a Revista Placar em maio, Nélson comemorava a vitória na corrida
em San Marino dizendo que sua alegria só
não era completa porque o Vasco havia sido eliminado do Campeonato Brasileiro.
Dulce Rosalina ouviu esta entrevista na rádio e logo providenciou o envio de
uma camisa do Vasco ao piloto. Piquet gostou, vestiu-a e desfilou com ela nos
boxes do GP da Bélgica. A festa vascaína com seu idolo das pistas ficou
completa com o seu primeiro título mundial em 1981.
Indiscutivelmente
as maiores emoções do ano ficaram reservadas para as últimas partidas de 1981
quando o clube disputou uma série de três partidas finais contra o Flamengo. O
clube rival tinha uma grande vantagem
pois precisava de um simples empate nas
duas primeiras partidas para ficar com o título. No primeiro jogo a maioria da
torcida no Maracanã ficou do lado adversário. Entretanto, os dois gols de
Roberto fizeram a festa da torcida vascaína calar os rubro-negros.
Para
a segunda partida, os vascaínos prometiam dividir as arquibancadas: “ontem,
grande movimentação por parte dos Chefes das Facções da Torcida Vascaína e
todos obviamente animados com o sucesso do time. Mas no domingo, a tarefa de
torcer não foi das mais fáceis. Ely, Chefe da Força Jovem, contou um lance
pitoresco. “Conseguimos 5 mil bolas de aniversário para soltar no Maracanã.
Chegamos lá as 11 horas e ficamos até as 15 horas enchendo. Trinta caras para
encher tantas bolas, acabou não dando tempo. Ficamos cansados, enchemos apenas
1 mil 500 e mesmo assim fomos mais entusiasmados do que o Flamengo. Para
amanhã, papéis picados e as bolas já estão providenciados”[1].
O
segundo jogo teve novamente a vitória do Vasco, dessa vez com um sabor especial
com um gol de Roberto nos minutos finais quando os flamenguistas já comemoravam
o título. A empolgação dos vascaínos com o momento era nítida e não faltaram
provocações: “muitos torcedores lamentaram ontem em São Januário o fato de o Presidente
da Federação Otávio Pinto Guimarães, não ter permitido que os ingressos do jogo
fossem impressos com as cores dos Clubes . Iriam segundo eles, provar que a
Torcida do Vasco é a maior do país”[2].
A
cidade do Rio de Janeiro parou para acompanhar a terceira e última partida da
decisão. De um lado estavam os vascaínos, entusiasmados com o crescimento do
poder de reação de seu time na reta final. Do outro lado, estavam os
rubro-negros preocupados com um terceiro fracasso e a repercussão que isto poderia
trazer para o time que disputaria a final do mundial interclubes no Japão, na
semana seguinte. A verdade é que o título foi decidido dentro e fora do
gramado. Em campo o Flamengo iniciou bem a partida e fez logo dois gols. No
segundo tempo, o time do Vasco se reencontrou e reagiu pressionando até marcar
o gol nos 10 minutos finais. A partir daí “a torcida rubro-negra que cantava
“vou festejar”, sucesso na voz de Beth Carvalho, emudeceu. Animado, o time de
São Januário passou a pressionar, quando surgiu em pleno gramado um personagem
que passou a fazer parte do folclore do futebol carioca: Roberto Ladrilheiro”
(Assaf e Martins, 1999, p.70).
Até
hoje a história da invasão do torcedor da geral não foi bem explicada. E a
versão que ficou foi a oficial. O que de fato aconteceu foi uma vergonha e
mostrou que os rubro-negros haviam se preparado para ganhar aquele jogo de
todas as maneiras. Muitas pessoas afirmam que o Ladrilheiro não saiu da geral e
sim do banco de reservas do Flamengo.
Em
seu depoimento para o livro de Hilton Mattos, Heróis do Cimento, o torcedor diz
que o técnico Paulo Cesar Carpegiani lhe deu sinal verde para ele entrar,
dizendo “vai, vai”. Como um técnico falaria para um desconhecido para entrar em
campo e tumultuar o jogo? O Ladrilheiro “atendeu o pedido do treinador. Cruzou o campo como uma
flecha, atrapalhou a cobrança de falta de Dinamite (...) lá do alto a torcida
do Flamengo gritava histérica, saudando seu representante invasor” (Mattos,
2007, p.89). E assim se passaram alguns minutos que esfriaram a reação
vascaína.
Nenhum
cruzmaltino engoliu aquele título naquelas circunstâncias e o silêncio da
imprensa apenas confirmava como esta estava comprometida em assegurar “o
resultado do time inesquecível”. A resposta do Almirante veio ao longo de toda
a década com inúmeras vantagens para a nossa agremiação.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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