quarta-feira, 29 de março de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1984 FINAL CARIOCA

                                                                                     “Fora Calçada”
                                                                             Pichação em São Januário

1984                       Final Carioca

Depois de uma péssima campanha no campeonato carioca de 1983, os dirigentes vascaínos pressionados pela torcida resolvem fazer uma série de contratações e montar uma equipe forte.  Foi o que aconteceu: o time chegou as finais do brasileiro de 1984 disputando o título com o Fluminense.
            Era uma final inédita desde que o campeonato brasileiro começou a ser disputado, entre dois clubes da mesma cidade. A expectativa geral de grandes públicos nas finais e recordes de arrecadação de renda. Nas semifinais os dois clubes cariocas já tinham demonstrado a força de suas galeras com o Maracanã lotado apenas com as torcidas cariocas nos jogos entre Vasco e Grêmio e entre Fluminense e Corinthians.
            Nas finais foram dois jogos com mais de 100 mil pessoas que travaram uma disputa acalorada no estádio. De um lado o tricolor e o já tradicional canto; “A benção João de Deus”, de outro, a torcida vascaína contando suas músicas a plenos pulmões e o mesmo entusiasmo. Na última partida o duelo das torcidas foi interrompido para a união em torno do grito das “Diretas Já”. No período em que o país foi tomado por imensas multidões que se reuniam nas ruas pedindo a volta das eleições diretas para presidente através da Emenda Constitucional, em pleno estádio do Maracanã as duas torcidas cantavam “um,dois, três, quatro, cinco mil, queremos eleger o presidente do Brasil”. Era uma manifestação espontânea que surpreendeu a todos, inclusive aqueles que achavam que o futebol só servia para alienar as pessoas.
            Como sempre acontecia nos jogos decisivos, os jornais reservavam um espaço para explicar o que era uma torcida organizada e como aquela festa toda era montada, sempre destacando o esforço e o sacrifício dos torcedores: “eles chegam ao Estádio com horas de antecedência, viajam com seus times para qualquer lugar, gritam, xingam, aplaudem, reclamam dos juízes, e as vezes, ainda brigam. Eles se agrupam nas chamadas Torcidas Organizadas e fazem de tudo para ver seu time deixar o campo com a vitórias. Ontem, no Maracanã, estavam presentes dezenas de Torcidas Organizadas: Vasquita, Motivascão, Vasbicão, Influente, Young Flu, Fiel Tricolor, Dragões Tricolores, enfim muitas facções do Vasco e Fluminense”. Outra reportagem registra o uso de fumaças pelos vascaínos pela primeira vez: “Uma novidade paulista chega ao Rio, para o primeiro jogo da decisão do Campeonato Brasileiro entre Vasco e Fluminense. As Torcidas do Vasco, seguindo o exemplo do Palmeiras e Corinthians, encomendaram 50 tubos de fumaça colorida e garantem que farão um espetáculo maravilhoso, na entrada de seu time em campo. Um dos Diretores da Força Jovem (considerada a mais fanática do Clube), José Alberto Pereira, o Beto Metralha, disse que a fumaça tem as cores vermelha, preta e branca e vai saudar o time”.
            Neste período o futebol italiano campeão do mundo em 1982, dominava o futebol internacional, contratando os melhores jogadores do mundo para atuarem em seu país. Com o Brasil o assédio dos italianos não foi diferente. Praticamente 30% dos jogadores da seleção brasileira de 1982 atuavam na Itália e as investidas prosseguiam. Falcão, Sócrates, Zico, Edinho, Cerezzo, Júnior, Pedrinho, Dirceu já estavam lá.
            A intensa mercantilização do futebol foi se consolidando e eram cada vez mais visíveis as mudanças que se faziam na “economia da bola”. As camisas passavam a contar com as propagandas desde 1983, o assédio de clubes europeus se intensificava, inclusive sobre jovens promessas, como Geovani, Mauricinho, Bebeto, Branco etc.
            O presidente Calçada foi alvo de inúmeros protestos em função da venda de vários jogadores para o exterior neste período. O problema se estendia para os outros clubes, a relação entre dirigentes e torcedores eram constantemente estremecidas a partir deste período com inúmeras acusações de transações feitas de forma escusa e de enriquecimento dos dirigentes.
            O medo da torcida tinha uma razão clara o Vasco com vice-campeão brasileiro e com vários jogadores na seleção era um dos alvos preferidos dos clubes estrangeiros. Em junho o técnico interino da seleção Edu Coimbra, então técnico do Vasco, convoca a seleção para os três únicos jogos do Brasil. Roberto, artilheiro do campeonato brasileiro fazia sua ultima apresentação pelo Brasil.
            Entre julho e setembro de 1984, as relações da diretoria do Vasco (especialmente o presidente Calçada) e as torcidas organizadas do clube estiveram bastante tensas. A dificuldade na renovação de contrato com Roberto e as derrotas provocaram uma onde de protestos que estremeceram o bom ambiente do início do ano. Eis algumas manchetes dos jornais: TORCIDA DO VASCO NÃO IRÁ VER JOGO EM CAMPOS, CLUBE SE VINGA E BARRA OS TORCEDORES NA PORTA, GRANDE MANIFESTAÇÃO EM SÃO JANUÁRIO, TORCIDA AMEAÇA QUEBRAR O VASCO.Numa das manifestações o grupo levou cartazes que diziam: Presidente Mercenário, Fora Diretoria Incompetente, Calçada Na Rua, Já e Aqui Jaz Calçada”.
            Não só o dirigente foi o alvo das críticas, um manifesto é escrito e entregue a imprensa prometendo o boicote dos torcedores aos jogos do Vasco em Campos e Volta Redonda. Entre os assinantes do documento estavam: Dulce Rosalina da Renovascão, João Teixeira da Vasbicão, Amâncio César da TOV, Ely Mendes da Força Jovem, Ivan da Motivascão e Geraldo da Furacão da Colina”.
            O presidente parte para o ataque e acusa os torcedores de receberem dinheiro do clube para as viagens e de não serem sócios e daí não terem legitimidade para fazer as críticas: ““Alguns torcedores que assinaram o manifesto, nem sócios do Vasco são. Então, com que direito acham que podem dar palpites nas decisões dos dirigentes? Alguns dos que estão liderando o boicote ao time, anunciando que não irão a Campos, volta e meia organizam caravanas com o auxílio do Clube, que financia parte do aluguel dos ônibus para as viagens”, conclui o dirigente.
            Do lado dos torcedores havia reações mais pacíficas e outras mais agressivas. Alguns sugeriam pichar os muros, outros diziam que deveria haver quebra-quebra e ameaçaram jogar ovos no presidente na hora que ele fosse entrar no clube. Um torcedor resumiu a situação: “estamos cansados de tudo isto. Chegou a hora de mudar, O Vasco não é um estabelecimento para vender seus jogadores”.
            Em setembro o alvo é a federação carioca de futebol que não aceitou os pedidos do presidente da ASTORJ, Wilson Amorin, para a redução do preço dos ingressos: “o Conselho Arbitral da Federação decidiu por 8 votos a 2, manter os novos preços de ingressos de arquibancada e geral”. Os torcedores, revoltados prometeram abandonar as arquibancadas em todos os estádios e ocuparem apenas as gerais. Ely Mendes (FJV), prometeu liderar sua torcida para realizar a manifestação.
            A última grande manifestação da torcida foi promover um protesto diferente fazendo um silêncio total como se não tivessem torcedores no estádio. Além disso, não levaram bandeiras ou faixas.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

 
Vasco Jornal do Brasil 1984

Vasco Jornal Última Hora 1984












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