“Casaca, casaca, casaca, a turma é boa, é
mesmo da fuzarca, Vasco, Vasco...”
Principal Grito de Guerra da Torcida
1979 Conversa
de Arquibancada
No início de 1979 as atenções da torcida estavam voltadas
para a nova comissão técnica que acabava de assumir. Nela estavam o técnico
Carlos Froner e o preparador físico Antonio Lopes, que nos anos 1980 se
tornaria um técnico consagrado.
Enquanto o futebol se preparava para o campeonato
carioca no primeiro semestre e o brasileiro no segundo semestre, o destaque foi
a conquista do campeonato carioca de basquetebol. Milhares de torcedores
compareceram ao Maracanãzinho para ver o Vasco conquistar mais um título.
Nas arquibancadas começavam aparecer notícias de uma
nova torcida organizada, a Torcida Almirante da Colina (TAC), liderada por
Chiquinho. Em março um desentendimento entre integrantes da TOV e da TAC
provocou uma briga com acusações de ambos os lados. Tudo começou com a venda de
ingressos para a caravana a Volta Redonda: “ao chegar ontem para iniciar mais
um dia de vendas, integrantes da TOV encontraram o cadeado de sua barraca
soldado e assim não puderam atender diversos torcedores que invariavelmente,
eram encaminhados ao stand da Almirante da Colina” .
Rivais e aliadas, dependendo da situação, as torcidas
do Vasco seguindo o exemplo das escolas de samba promoveram uma competição
interna para ver qual era a melhor torcida de acordo com 3 critérios: A) Animação (incentivo ao time),
B) Contingente e número de bandeiras e C) Recepção a entrada do Time em campo.
Mas a briga maior neste ano foi contra a diretoria que
realizou a venda de inúmeros jogadores, dentre eles o zagueiro Abel, um dos
maiores ídolos naquela década. Com sua garra característica, o defensor logo
conquistou a simpatia dos torcedores.
Como era um ano de eleição no clube logo os protestos
ganharam conotação política: “Não vendam nossos craques”, “Modificação total no
Vasco”, “Estamos com Calçada, Sendas e Olavo” e outras faixas e gritos eram
lidas e ouvidas em todas as facções das Torcidas do Vasco” . Quanto mais a
torcida via o sucesso de seu maior rival, mais a situação do presidente
Agathyrno se complicava. Estava chegando ao fim a ERA AGATHYRNO (1969-1979) que
contou com o apoio das torcidas organizadas na maior parte de sua gestão, com
exceção de Dulce Rosalina que já fazia oposição há mais tempo.
Se faltavam motivos para gabar-se do presente a
solução era comprar a revista especial de Placar em homenagem ao clube e sua
história. Entre as inúmeras reportagens uma delas nos enchia de orgulho, com o
título: “A HORA DO NEGRO NO CLUBE DO POVO”. Numa época de pouca circulação de
informações aquela revista era um material permanente de consulta e leitura de
um clube que tinha um passado para se orgulhar, ao contrário de seus
adversários que tiveram origem elitista
Além de Placar, a revista Manchete Esportiva (com
menor sucesso) também dedica neste ano uma matéria que envolve a confraternização das torcidas cariocas
posando juntas no gramado do Maracanã. Entre elas estavam: do Vasco (TOV,
Força Jovem, Vaspanema), do Flamengo (Torcida Jovem do Flamengo, Raça Rubro
Negra, Flamor, Flaponte), do América (Inferno Rubro), Fluminense (Fiel
Tricolor, Young Flu) e do Botafogo (Torcida Jovem do Botafogo, Fogo Lito).
Ainda no Maracanã, no mês de dezembro para mais de 100
mil pessoas elas voltavam ao gramado para exibirem suas bandeiras enquanto a
garotada aguardava a chegada do Papai Noel: “as Torcidas de Vasco, Fluminense e
Flamengo, com bandeiras enormes ocuparam o campo, fazendo evoluções. A Força
Jovem (Vasco), A Torcida Fiel Tricolor (Fluminense) e a Torcida Jovem
(Flamengo) fizeram um verdadeiro festival de bandeiras, sendo acompanhadas
pelas torcidas nas arquibancadas”. Juntar as torcidas não era uma tarefa
difícil naqueles anos, principalmente por causa de uma atração na TV. Surge uma
inovação na programação televisiva carioca em 1979, através do programa
“Conversa de Arquibancada”, pela Rede Bandeirantes (canal 7), apresentado por
Hamilton Bastos. No cenário uma bancada com os principais líderes das maiores
torcidas e uma pequena arquibancada, debatendo livremente e ao vivo os
principais problemas do futebol e a preparação dos torcedores para as partidas
da rodada. Sempre aos domingos às 14 horas, invariavelmente uma provocação aqui
e uma gozação ali provocava uma pequena tensão e algumas discussões mais
acaloradas.
A cada semana o público de casa ia se acostumando com
aqueles novos líderes populares trazendo para a TV uma experiência inédita e
aproximando os torcedores de seus pares mais assíduos das arquibancadas. Uma
grande experiência democrática numa época marcada pela anistia e abertura
política.
Foi neste programa que o intérprete Neguinho[1]
da Beija-Flor, lança uma música que se tornaria a canção preferida de todas as
torcidas cariocas com a letra: “Domingo, eu vou ao Maracanã/ vou torcer pro
time que sou fã (...) não quero cadeira numerada/, vou torcer na arquibancada,
pra sentir mais emoção...”. Logo a canção seria incorporada por todas as torcidas
que adaptariam o canto com o grito de seu clube na hora de dizer: “ e o nome
dele, são vocês que vão dizer: ô,ô,ô...Vascô”.
Foi também no
programa “Conversa de Arquibancada” que a torcida do Vasco entusiasmada
com a vitória por 4 a 2 sobre o Flamengo, provoca o rival com uma canção em
homenagem ao grande personagem do jogo. Um então desconhecido atacante vindo do
Paraná: Catinha, que com uma atuação surpreendente e dribles desconcertantes,
incendeia o estádio. Nas arquibancadas surgiu uma paródia da música de João
Roberto Kelly: “Gatinha, que dança é essa que o povo fica todo
bole?/Bole,bole,bole Gatinha”. Na versão da torcida vascaína, ficou assim:
“Catinha que dança é essa que o Nelson fica todo mole?/Bole, bole, bole
Catinha”. Nelson que era um zagueiro reserva do Flamengo, foi a maior vítima
daquele jogo e se tornou a partir daí uma figura maldita no clube.
Era um período que ainda era possível de se ver a
união e a confraternização entre as principais torcidas. As provocações paravam
quando algo parecia fugir ao controle. Sempre que uma discussão ficava mais
acirrada logo era apaziguada. Enfim os torcedores ganhavam um holofote que até
então só os jogadores e dirigentes possuíam. Um sucesso jamais visto antes,
inclusive de audiência. O que demonstrava o acerto da iniciativa do
apresentador. Um programa que marcou época, mas que não se efetivou nos anos
seguintes apesar de se ter tentado por outros momentos.
Se neste ano os canais de comunicação estavam abertos
entre as principais torcidas cariocas, a rivalidade entre os estados se
acirrava na classificação para as semifinais do campeonato brasileiro.
Considerado um time imbatível pela Flapress, o rubro-negro era derrotado em
pleno Maracanã para o Palmeiras, treinado por Telê Santana, que aplicou uma impiedosa
goleada por 4 a 1, eliminando o carioca da competição. Nas arquibancadas a
festa da torcida do Palmeiras irrita os rubro-negros que agridem covardemente
os paulistas. Aquele conflito seria o maior tumulto entre as duas torcidas até
então. Uma forte rivalidade que se estava formando para os próximos anos, junto
com ela, uma aliança histórica com a torcida do Vasco. A mais forte aliança
entre torcidas de estados diferentes.
Com o Internacional eliminando o Palmeiras e o Vasco
derrotando o Coritiba, o final do ano de 1979 chegava com a possibilidade do
clube de São Januário se redimir com a torcida e conquistar o campeonato
brasileiro daquele ano. Mesmo sem ter um grande elenco, o técnico Oto Glória
conseguiu levar o clube as finais contra o Internacional. A primeira partida
seria no Maracanã e a final no Beira-Rio.
Diante de 60 mil torcedores o Internacional
não se intimidou e confirmou o favoritismo vencendo por 2 a 0. Era um publico
muito aquém do que o Vasco poderia colocar, mas a torcida é sábia e não se
entusiasmou pelo que viu em campo. Terminava o ano com uma decepção até
esperada. No entanto, o pior estava por vir: a venda de seu maior ídolo para o
Barcelona. Roberto se despedia do clube naquele fim de ano.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida
Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Em
entrevista, o cantor relembra que a música tinha uma letra que homenageava
somente o Vasco Eu peguei um ônibus na Praça Mauá pra ir até Nova Iguaçu, onde
eu morava. Da Praça Mauá, no ônibus, eu fiz a música pro cara: 'Domingo, eu
vou ao Maracanã, vou torcer pro Vasco que sou fã...'. Apesar de ser
flamenguista. Aí uma hora eu estou vendo o samba... 'Domingo...' Eu
conheço isso. Ih, é a minha música. Eu digo: Ó, vou tirar o Vasco e vou botar o
time que sou fã, meu... E vou pegar aí todas as torcidas. Vou tirar esse Vasco
aí da parada. (O GLOBO, 28/05/2013).
Vasco Jornal do Brasil 1979 |
Vasco Jornal do Brasil 1979 |
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