domingo, 26 de março de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1983 PORCO COM BACALHAU

                                 “Domingo, eu vou ao Maracanã, vou torcer pro time que sou fã”
                                              Canto preferido de todas as torcidas nas arquibancadas
1983                       Porco com Bacalhau

Disputado no primeiro semestre de 1983, o campeonato brasileiro consolidava a aliança que se tornaria histórica entre as torcidas de Vasco e Palmeiras. Mesmo com dois jogos entre os dois clubes em abril, a tônica dominante entre as torcidas era assegurar os laços de união e confraternização. Na ocasião dos jogos foram feitos churrascos para os paulistas organizados pelos cariocas na partida no Rio de Janeiro e recepção calorosa aos vascaínos em São Paulo. No mesmo campeonato a aliança seria testada no confronto entre Vasco e Corinthians no Morumbi.
            Vale lembrar que neste ano (em janeiro) era fundada a Mancha Verde do Palmeiras, que se tornou a principal torcida desde então. Esta torcida uniformizada surgiu em função da união de outras torcidas do clube. A Mancha Verde, conforme veremos nos próximos capítulos, revolucionou o conceito de torcida. No âmbito interno do clube, seu objetivo era criar um movimento nas arquibancadas a altura da tradição do Palmeiras.
Neste ano acontece uma grande confusão envolvendo as torcidas de Vasco e Corinthians em São Paulo. Não faltaram críticas dos cariocas com relação ao comportamento dos policiais paulistas que se omitiram diante das agressões. A Diretoria do Vasco ficou de tomar providências junto a CBF e a Federação Paulista no sentido de apurar responsabilidades. A imprensa carioca registrou o sufoco na volta para o Rio de Janeiro: “a viagem prevista para oito horas no máximo, durou cerca de 13 horas, em conseqüência das agressões dos torcedores paulistas, inconformados com o resultado do jogo. Vários ônibus dos torcedores cariocas foram apedrejados na saída do Morumbi, alguns deles tiveram os vidros estilhaçados e torcedores atingidos por pedras e paus, conforme denúncia dos Líderes de Torcida. E as provocações e agressões continuam até a saída da capital paulista, já no acesso a Via Dutra”[1].
            Poucos dias depois o Jornal O Globo, que nos próximos anos faria intensa campanha contra as torcidas organizadas, dá voz aos vascaínos que prometem vingança no jogo de volta do Corinthians no Rio: “ainda revoltados com as agressões sofridas no Morumbi, após o jogo contra o Corinthians, alguns líderes de Torcidas Organizadas do Vasco compareceram ontem a noite a São Januário para comunicar aos dirigentes que agirão da mesma maneira em relação aos torcedores paulistas, quando o Corinthians vier enfrentar o Vasco no Maracanã no fim do mês”. Prossegue a reportagem com a anunciada revanche prometida pelos cariocas: “já estamos cansados de sofrer todo o tipo de agressão fora do Rio e tratar com gentilezas os torcedores dos outros Estados no Maracanã. Agora vamos dar o troco, especialmente nos corinthianos, que nos atacaram com paus e pedras no Morumbi”, prometeu Ely Mendes, Chefe da Força Jovem[2].
Demonstrando que a sua linha editorial ainda era de apoio aos torcedores organizados, a imprensa continuava noticiando as viagens dos torcedores para acompanhar o time. O sacrifício dos torcedores que viajaram 26 horas para a Bahia era o destaque do jornal para contar a dedicação e amor ao clube das torcidas organizadas. Na reportagem predomina a visão romântica dos torcedores empenhados em levar o nome do clube aos mais distantes estádios do Brasil.
As iniciativas de pacificação entre as torcidas ainda ganhavam eco entre os líderes, bem como a solicitação de medidas punitivas para os agressores e os clubes eram reivindicadas pelas lideranças. Eram soluções viáveis naqueles anos que os órgãos responsáveis não souberam levar adiante. O título da reportagem ilustra a situação vivida: TORCEDORES DO VASCO CONDENAM A VIOLÊNCIA. E GARATEM A SEGURANÇA DOS CORINTHIANOS. “Se depender das Torcidas Organizadas do Vasco a paz está decretada na guerra que vem repetindo a cada rodada da Taça Ouro, em jogos de equipes de Estados diferentes. Ontem, grande parte das 42 facções do Vasco, esteve em São Januário e houve a garantia que os torcedores corinthianos que vierem ao Rio amanhã poderão torcer e retornar em paz para São Paulo”[3].
Algumas medidas simples foram tomada pelo poder público para melhorar as condições dos estádios. Ao assumir o governo do Estado do Rio de Janeiro, o governador Leonel Brizola nomeou para a presidência da SUDERJ Jorge Roberto da Silveira. Entre as primeiras medidas do novo secretario estava a reforma da Geral do Maracanã, com a elevação do piso em 50 cm.
            A geral era o local mais barato do estádio, em compensação tinha uma visão prejudicada já que ficava abaixo do piso do gramado. Em muitos locais era difícil enxergar a bola, somente a perna dos jogadores ficava ao alcance da visão.
            Esta obra foi a primeira intervenção de algum governo desde a criação do estádio em 1950. Embora a visão continuasse difícil em alguns pontos, a atuação do secretário foi elogiada pelos torcedores que consideravam o político um homem democrático e preocupado em estabelecer um diálogo com as torcidas. Em 1986 quando saiu do cargo para concorrer a deputado estadual, Jorge Roberto contou com o apoio da maior parte das lideranças das torcidas organizadas.
Depois de Sinatra em 1980, em junho deste ano o Maracanã foi palco de uma banda de rock pesado que muitos brasileiros desconheciam: o Kiss, com seu visual característico de máscaras e roupas pretas, levando mais de 100 mil pessoas ao estádio, antecipando a viabilidade comercial do Brasil ser também a rota comercial dos grandes shows de rock. Depois do Rock in Rio em 1985, Sting em 1987 e Tina Turner em 1988, também conseguiram levar multidões ao estádio Mario Filho.
Após vender Pedrinho e Elói para o futebol europeu, o Vasco via a ascensão do Fluminense com a dupla Assis e Washington (o casal 20) arrancarem para o tricampeonato (1983-84-85). E o público carioca passou a ouvir no lugar de “a benção João de Deus”, a música “Recordar é Viver, Assis acabou com você”. Logo esta canção seria incorporada por todas as outras quando um atleta virava o carrasco do rival.
Na TV, sem a transmissão direta dos jogos, restava ao torcedor acompanhar o compacto da TVE sempre as 20 horas (os jogos terminavam as 19h). Em seguida o debate e a mesa redonda comandada pelo locutor Januário Garcia, com o bordão “taí o que voce queria, bola rolando...”. Com a presença de Luiz Mendes, Sergio Noronha, Achilles Chirol, Washington Rodrigues e jogadores ou tecnicos convidados. Em seguida, as 22 horas mudar para os “Gols do Fantático”. No rádioesportivo este seria o último ano do locutor José Carlos Araújo, o Garotinho, comandar a Rádio Nacional. Ele passaria a ser o principal locutor da Radio Globo nos próximos anos e o mais ouvido da galera.
            Para o campeonato carioca de 1983 as esperanças estavam depositadas nas jovens estrelas do clube, principalmente Geovani que acabava de conquistar o campeonato mundial de juniores. O meia foi considerado o melhor jogador do torneio e grande esperança da torcida. A imprensa registrava a chegada doa jogadores ao Brasil e a recepção da torcida: “ a Força Jovem e Renovascão prestam homenagem aos jogadores, Geovani (Campeão do Mundial de Seleções Junior) e Ernani (Campeão do Torneio de Toullon pela Seleção Brasileira), com placas comemorativas. “A Torcida está satisfeita com o desempenho dos dois, além da oportunidade de ver os jogadores de seu time nas três Seleções Brasileiras, Junior, Novos e Principal.” disse Ely Mendes[4]. Apesar de tudo, o time decepciona e termina o campeonato em péssima posição. Para 1984, mudanças teriam que ser feitas...
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal O Globo 15 de Março de 1983.
[2] Fonte: Jornal O Globo 16 de Março de 1983
[3] Fonte: Jornal Última Hora 30 de Março de 1983.
[4] Fonte: Jornal do Brasil 22 de Junho de 1983.

Vasco Jornal Última Hora 1983

Vasco Jornal do Vasco 1983


Nenhum comentário:

Postar um comentário