“Domingo, eu vou ao
Maracanã, vou torcer pro time que sou fã”
Canto
preferido de todas as torcidas nas arquibancadas
1983 Porco
com Bacalhau
Disputado no primeiro semestre de 1983, o campeonato
brasileiro consolidava a aliança que se tornaria histórica entre as torcidas de
Vasco e Palmeiras. Mesmo com dois jogos entre os dois clubes em abril, a tônica
dominante entre as torcidas era assegurar os laços de união e confraternização.
Na ocasião dos jogos foram feitos churrascos para os paulistas organizados
pelos cariocas na partida no Rio de Janeiro e recepção calorosa aos vascaínos
em São Paulo. No mesmo campeonato a aliança seria testada no confronto entre
Vasco e Corinthians no Morumbi.
Vale
lembrar que neste ano (em janeiro) era fundada a Mancha Verde do Palmeiras, que
se tornou a principal torcida desde então. Esta torcida uniformizada surgiu em
função da união de outras torcidas do clube. A Mancha Verde, conforme veremos
nos próximos capítulos, revolucionou o conceito de torcida. No âmbito interno
do clube, seu objetivo era criar um movimento nas arquibancadas a altura da
tradição do Palmeiras.
Neste ano acontece uma grande confusão envolvendo as
torcidas de Vasco e Corinthians em São Paulo. Não faltaram críticas dos
cariocas com relação ao comportamento dos policiais paulistas que se omitiram
diante das agressões. A Diretoria do Vasco ficou de tomar providências junto a
CBF e a Federação Paulista no sentido de apurar responsabilidades. A imprensa
carioca registrou o sufoco na volta para o Rio de Janeiro: “a viagem prevista
para oito horas no máximo, durou cerca de 13 horas, em conseqüência das
agressões dos torcedores paulistas, inconformados com o resultado do jogo.
Vários ônibus dos torcedores cariocas foram apedrejados na saída do Morumbi,
alguns deles tiveram os vidros estilhaçados e torcedores atingidos por pedras e
paus, conforme denúncia dos Líderes de Torcida. E as provocações e agressões
continuam até a saída da capital paulista, já no acesso a Via Dutra”[1].
Poucos
dias depois o Jornal O Globo, que nos próximos anos faria intensa campanha
contra as torcidas organizadas, dá voz aos vascaínos que prometem vingança no
jogo de volta do Corinthians no Rio: “ainda revoltados com as agressões
sofridas no Morumbi, após o jogo contra o Corinthians, alguns líderes de
Torcidas Organizadas do Vasco compareceram ontem a noite a São Januário para
comunicar aos dirigentes que agirão da mesma maneira em relação aos torcedores
paulistas, quando o Corinthians vier enfrentar o Vasco no Maracanã no fim do
mês”. Prossegue a reportagem com a anunciada revanche prometida pelos cariocas:
“já estamos cansados de sofrer todo o tipo de agressão fora do Rio e tratar com
gentilezas os torcedores dos outros Estados no Maracanã. Agora vamos dar o
troco, especialmente nos corinthianos, que nos atacaram com paus e pedras no
Morumbi”, prometeu Ely Mendes, Chefe da Força Jovem[2].
Demonstrando que a sua linha editorial ainda era de
apoio aos torcedores organizados, a imprensa continuava noticiando as viagens
dos torcedores para acompanhar o time. O sacrifício dos torcedores que viajaram
26 horas para a Bahia era o destaque do jornal para contar a dedicação e amor
ao clube das torcidas organizadas. Na reportagem predomina a visão romântica
dos torcedores empenhados em levar o nome do clube aos mais distantes estádios
do Brasil.
As iniciativas de pacificação entre as torcidas ainda
ganhavam eco entre os líderes, bem como a solicitação de medidas punitivas para
os agressores e os clubes eram reivindicadas pelas lideranças. Eram soluções
viáveis naqueles anos que os órgãos responsáveis não souberam levar adiante. O
título da reportagem ilustra a situação vivida: TORCEDORES DO VASCO CONDENAM A
VIOLÊNCIA. E GARATEM A SEGURANÇA DOS CORINTHIANOS. “Se depender das Torcidas
Organizadas do Vasco a paz está decretada na guerra que vem repetindo a cada
rodada da Taça Ouro, em jogos de equipes de Estados diferentes. Ontem, grande
parte das 42 facções do Vasco, esteve em São Januário e houve a garantia que os
torcedores corinthianos que vierem ao Rio amanhã poderão torcer e retornar em
paz para São Paulo”[3].
Algumas medidas simples foram tomada pelo poder
público para melhorar as condições dos estádios. Ao assumir o governo do Estado
do Rio de Janeiro, o governador Leonel Brizola nomeou para a presidência da
SUDERJ Jorge Roberto da Silveira. Entre as primeiras medidas do novo secretario
estava a reforma da Geral do Maracanã, com a elevação do piso em 50 cm.
A
geral era o local mais barato do estádio, em compensação tinha uma visão
prejudicada já que ficava abaixo do piso do gramado. Em muitos locais era
difícil enxergar a bola, somente a perna dos jogadores ficava ao alcance da
visão.
Esta
obra foi a primeira intervenção de algum governo desde a criação do estádio em
1950. Embora a visão continuasse difícil em alguns pontos, a atuação do
secretário foi elogiada pelos torcedores que consideravam o político um homem
democrático e preocupado em estabelecer um diálogo com as torcidas. Em 1986
quando saiu do cargo para concorrer a deputado estadual, Jorge Roberto contou
com o apoio da maior parte das lideranças das torcidas organizadas.
Depois de Sinatra em 1980, em junho deste ano o
Maracanã foi palco de uma banda de rock pesado que muitos brasileiros
desconheciam: o Kiss, com seu visual característico de máscaras e roupas
pretas, levando mais de 100 mil pessoas ao estádio, antecipando a viabilidade
comercial do Brasil ser também a rota comercial dos grandes shows de rock.
Depois do Rock in Rio em 1985, Sting em 1987 e Tina Turner em 1988, também
conseguiram levar multidões ao estádio Mario Filho.
Após vender Pedrinho e Elói para o futebol europeu, o
Vasco via a ascensão do Fluminense com a dupla Assis e Washington (o casal 20)
arrancarem para o tricampeonato (1983-84-85). E o público carioca passou a
ouvir no lugar de “a benção João de Deus”, a música “Recordar é Viver, Assis
acabou com você”. Logo esta canção seria incorporada por todas as outras quando
um atleta virava o carrasco do rival.
Na TV, sem a transmissão direta dos jogos, restava ao
torcedor acompanhar o compacto da TVE sempre as 20 horas (os jogos terminavam
as 19h). Em seguida o debate e a mesa redonda comandada pelo locutor Januário
Garcia, com o bordão “taí o que voce queria, bola rolando...”. Com a presença
de Luiz Mendes, Sergio Noronha, Achilles Chirol, Washington Rodrigues e
jogadores ou tecnicos convidados. Em seguida, as 22 horas mudar para os “Gols
do Fantático”. No rádioesportivo este seria o último ano do locutor José Carlos
Araújo, o Garotinho, comandar a Rádio Nacional. Ele passaria a ser o principal
locutor da Radio Globo nos próximos anos e o mais ouvido da galera.
Para
o campeonato carioca de 1983 as esperanças estavam depositadas nas jovens
estrelas do clube, principalmente Geovani que acabava de conquistar o
campeonato mundial de juniores. O meia foi considerado o melhor jogador do
torneio e grande esperança da torcida. A imprensa registrava a chegada doa
jogadores ao Brasil e a recepção da torcida: “ a Força Jovem e Renovascão
prestam homenagem aos jogadores, Geovani (Campeão do Mundial de Seleções
Junior) e Ernani (Campeão do Torneio de Toullon pela Seleção Brasileira), com
placas comemorativas. “A Torcida está satisfeita com o desempenho dos dois,
além da oportunidade de ver os jogadores de seu time nas três Seleções
Brasileiras, Junior, Novos e Principal.” disse Ely Mendes[4].
Apesar de tudo, o time decepciona e termina o campeonato em péssima posição.
Para 1984, mudanças teriam que ser feitas...
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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