“Só porque Zico joga no Flamengo, eu vou
torcer pelo Flamengo?
Nada disso, eu sou é Vasco.”
tia do jogador do Flamengo,
Dona Adélia
1982 Todos para a Geral
Para fortalecer a ASTORJ e ganhar maior legitimidade
entre as centenas de torcidas organizadas, as torcidas de cada clube passam a
fundar as suas próprias entidades representativas e assumem o comando de
representação das mesmas. Em abril ( dia 13) era fundada a ASTOVA (Associação
das Torcidas Organizadas do Vasco da Gama), tendo como primeiro presidente
Amâncio César.
Foi
um ano de muitas mobilizações e campanhas, começando com um protesto contra o
aumento do preço dos ingressos em janeiro, muros pichados em São Januário em
maio, boicote aos jogos com as torcidas organizadas assistindo as partidas na
geral. Em julho foi a vez das faixas da torcida contra o técnico da seleção
brasileira na volta da Copa da Espanha e a participação no II congresso das
Torcidas Organizadas do Brasil em Porto Alegre.
De
todos os atos, o protesto mais marcante foi na primeira vez que o muro de São
Januário seria pichado. Entretanto, não foi um ato que contou com adesão da
ASTOVA. Entre as frases no muro se destacavam “Fora Calçada” e “Queremos
Time”. Os líderes vascaínos defendiam um boicote pacífico prometendo não levar
para o jogo faixas, bandeiras e baterias, pois achavam que a maioria dos
jogadores não estava se empenhando como deveriam.
Por
outro lado, a Copa do Mundo da Espanha gerava uma forte expectativa no país. O
entusiasmo com a seleção brasileira em 1982 tinha por base a forte
identificação dos torcedores com os jogadores e o estilo de jogo ofensivo e
criativo. Dos 22 convocados, apenas Dirceu e Falcão não atuavam no Brasil.
A
animação chegou as ruas pouco antes da Copa do Mundo começar em junho. Milhares
de pessoas juntaram-se aos amigos e vizinhos e através de uma rede de
solidariedade espontânea começaram a enfeitar as ruas de todas as maneiras,
como foi em 1978. A diferença foi nas proporções, na copa da Argentina também
se coloriram as ruas, mas nada comparável com o que aconteceu em 1982. A medida
de a competição se aproximava, novas maneiras de embelezar o espaço público
brotavam. O espírito carnavalesco fazia parte do cenário das ruas que viviam
cheias de grupos pintando uma parte, desenhando nos muros, fazendo as fitas das
rabiolas, bebendo e preparando um churrasco. Enfim, tudo em consonância para
fazer o que as torcidas já faziam nos estádios.
Para
assistir a Copa era impossível em outro canal, a não ser a Rede Globo que
comprou os direitos exclusivos, fez uma intensa cobertura dos jogos e deu
grande espaço para a mobilização dos torcedores. Também na mesma emissora
ganhava destaque o personagem “Zé da Galera”, interpretado pelo comediante Jô
Soares, que encarnava um torcedor falando sempre com o técnico da seleção por
um telefone público (orelhão). Ficou famoso o bordão: “Bota ponta, Telê!”. Na
propaganda a figura do torcedor Pacheco, pela Gillete, também caía no gosto dos
torcedores, se popularizando entre a galera. Quem fez muito sucesso em 1982 foi
a banda iniciante Blitz, apresentando a vocalista vascaína Fernanda Abreu com
apenas 21 anos, cantando a música de maior sucesso do ano: “Você não soube me
amar”.
Para
os vascaínos a derrota da seleção teve uma forte dose de frustração como para
toda a torcida brasileira, mas uma decepção e um toque de revolta pessoal
contra o técnico Telê Santana e a insistência de não ter dado nenhuma chance a
Roberto que vivia uma ótima fase, enquanto o titular, Serginho, do São Paulo,
tinha atuações irregulares.
No
contexto de empolgação com a Copa de 1982, surge um novo programa televisivo em
que os protagonistas são os torcedores: entra no ar “A Bronca é Livre”,
apresentado por Denis Miranda, pela TV Bandeirantes, no mesmo formato de
“Conversa de Arquibancada”, entretanto, o programa não fica muito tempo no ar.
Na mesma época, pela Rádio Nacional, o radialista José Cabral, dedicava as
segundas-feiras na hora do almoço, entre 12 e 13h, um debate com os chefes de
torcidas convidados.
Mas
não só de protestos viveu o ano de 1982, nas arquibancadas ganhava cada vez
mais impacto o desfile das bandeiras faltando meia hora para o jogo começar. Os
torcedores saiam pelos tuneis de entrada das torcidas no meio de campo (espaço
neutro) e percorriam toda a arquibancada desfraldando suas bandeiras, sendo
acompanhado por aplausos e gritos de guerra em todo o estádio.
Outro
comportamento que surgia nesta época, era a torcida gritar o nome de cada
jogador de seu clube a medida que o placar eletrônico mostra a escalação do
time. Dependendo da fase cada jogador tinha seu nome gritado com mais ênfase.
Na época, geralmente, Roberto era o nome com maior destaque.
A
festa em novembro veio com a comemoração do gol 500 de Roberto Dinamite em São
Januário. O jogador que vivia uma ótima fase se consagraria com a conquista do
título carioca no final do ano, depois das eleições no clube que teve como
candidatos Antonio Soares Calçada, Eurico Miranda e Agathyrno Gomes (que contou
com o apoio da Força Jovem). O resultado final deu a vitória a Calçada.
Derrotado, Eurico ficou reclamando do esquema viciado das eleições...
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Vasco Maracanã 1982 |
Vasco Jornal O Globo 1982 |
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