quarta-feira, 22 de março de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1982 TODOS PARA A GERAL

                 “Só porque Zico joga no Flamengo, eu vou torcer pelo Flamengo?
                                        Nada disso, eu sou é Vasco.”
                                tia do jogador do Flamengo, Dona Adélia

1982                       Todos para a Geral

Para fortalecer a ASTORJ e ganhar maior legitimidade entre as centenas de torcidas organizadas, as torcidas de cada clube passam a fundar as suas próprias entidades representativas e assumem o comando de representação das mesmas. Em abril ( dia 13) era fundada a ASTOVA (Associação das Torcidas Organizadas do Vasco da Gama), tendo como primeiro presidente Amâncio César.
            Foi um ano de muitas mobilizações e campanhas, começando com um protesto contra o aumento do preço dos ingressos em janeiro, muros pichados em São Januário em maio, boicote aos jogos com as torcidas organizadas assistindo as partidas na geral. Em julho foi a vez das faixas da torcida contra o técnico da seleção brasileira na volta da Copa da Espanha e a participação no II congresso das Torcidas Organizadas do Brasil em Porto Alegre.
            De todos os atos, o protesto mais marcante foi na primeira vez que o muro de São Januário seria pichado. Entretanto, não foi um ato que contou com adesão da ASTOVA. Entre as frases no muro se destacavam “Fora Calçada” e “Queremos Time”. Os líderes vascaínos defendiam um boicote pacífico prometendo não levar para o jogo faixas, bandeiras e baterias, pois achavam que a maioria dos jogadores não estava se empenhando como deveriam.
            Por outro lado, a Copa do Mundo da Espanha gerava uma forte expectativa no país. O entusiasmo com a seleção brasileira em 1982 tinha por base a forte identificação dos torcedores com os jogadores e o estilo de jogo ofensivo e criativo. Dos 22 convocados, apenas Dirceu e Falcão não atuavam no Brasil.
            A animação chegou as ruas pouco antes da Copa do Mundo começar em junho. Milhares de pessoas juntaram-se aos amigos e vizinhos e através de uma rede de solidariedade espontânea começaram a enfeitar as ruas de todas as maneiras, como foi em 1978. A diferença foi nas proporções, na copa da Argentina também se coloriram as ruas, mas nada comparável com o que aconteceu em 1982. A medida de a competição se aproximava, novas maneiras de embelezar o espaço público brotavam. O espírito carnavalesco fazia parte do cenário das ruas que viviam cheias de grupos pintando uma parte, desenhando nos muros, fazendo as fitas das rabiolas, bebendo e preparando um churrasco. Enfim, tudo em consonância para fazer o que as torcidas já faziam nos estádios.
            Para assistir a Copa era impossível em outro canal, a não ser a Rede Globo que comprou os direitos exclusivos, fez uma intensa cobertura dos jogos e deu grande espaço para a mobilização dos torcedores. Também na mesma emissora ganhava destaque o personagem “Zé da Galera”, interpretado pelo comediante Jô Soares, que encarnava um torcedor falando sempre com o técnico da seleção por um telefone público (orelhão). Ficou famoso o bordão: “Bota ponta, Telê!”. Na propaganda a figura do torcedor Pacheco, pela Gillete, também caía no gosto dos torcedores, se popularizando entre a galera. Quem fez muito sucesso em 1982 foi a banda iniciante Blitz, apresentando a vocalista vascaína Fernanda Abreu com apenas 21 anos, cantando a música de maior sucesso do ano: “Você não soube me amar”.
            Para os vascaínos a derrota da seleção teve uma forte dose de frustração como para toda a torcida brasileira, mas uma decepção e um toque de revolta pessoal contra o técnico Telê Santana e a insistência de não ter dado nenhuma chance a Roberto que vivia uma ótima fase, enquanto o titular, Serginho, do São Paulo, tinha atuações irregulares.
            No contexto de empolgação com a Copa de 1982, surge um novo programa televisivo em que os protagonistas são os torcedores: entra no ar “A Bronca é Livre”, apresentado por Denis Miranda, pela TV Bandeirantes, no mesmo formato de “Conversa de Arquibancada”, entretanto, o programa não fica muito tempo no ar. Na mesma época, pela Rádio Nacional, o radialista José Cabral, dedicava as segundas-feiras na hora do almoço, entre 12 e 13h, um debate com os chefes de torcidas convidados.
            Mas não só de protestos viveu o ano de 1982, nas arquibancadas ganhava cada vez mais impacto o desfile das bandeiras faltando meia hora para o jogo começar. Os torcedores saiam pelos tuneis de entrada das torcidas no meio de campo (espaço neutro) e percorriam toda a arquibancada desfraldando suas bandeiras, sendo acompanhado por aplausos e gritos de guerra em todo o estádio.
            Outro comportamento que surgia nesta época, era a torcida gritar o nome de cada jogador de seu clube a medida que o placar eletrônico mostra a escalação do time. Dependendo da fase cada jogador tinha seu nome gritado com mais ênfase. Na época, geralmente, Roberto era o nome com maior destaque.
            A festa em novembro veio com a comemoração do gol 500 de Roberto Dinamite em São Januário. O jogador que vivia uma ótima fase se consagraria com a conquista do título carioca no final do ano, depois das eleições no clube que teve como candidatos Antonio Soares Calçada, Eurico Miranda e Agathyrno Gomes (que contou com o apoio da Força Jovem). O resultado final deu a vitória a Calçada. Derrotado, Eurico ficou reclamando do esquema viciado das eleições...
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Maracanã 1982

Vasco Jornal O Globo 1982




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