quarta-feira, 5 de julho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2011 O TREM BALA DA COLINA

                                                                      “Rei, rei, rei, Juninho é nosso rei”
                                                                               Canto da Torcida

2011                  O Trem Bala da Colina
            Ao assumir a presidência do clube em meados de 2008, Roberto Dinamite conseguiu uma trégua da torcida até o início de 2011 quando ocorrem as primeiras manifestações contra a sua administração. Em janeiro um grupo de opositores realiza um protesto em frente ao estádio de São Januário levando cartazes e bananas em alusão ao estilo do dirigente comandar o clube. Além do presidente o alvo dos protestos era o tecnico Paulo César Gusmão e os craques Carlos Alberto e Felipe. Gritos e cânticos irritados de “Vergonha, time sem vergonha”, “Vasco é tradição, não é humilhação” e “Felipe, seu pipoqueiro, fique sabendo que você só quer dinheiro”, puderam ser ouvidos durante a manifestação dos torcedores revoltados com o time que ainda não tinha vencido em cinco rodadas do Campeonato Carioca.
            A resposta de Dinamite veio em março no futebol de areia quando o  Vasco  se tornou campeão do I Mundialito de Clubes de Beach Soccer. O 'Gigante da Colina' venceu o Sporting Portugal por 4 a 2. "Essa é uma conquista inédita, é o primeiro título mundial do clube! Tem um sabor especial! O torcedor vascaíno tem que comemorar e muito essa vitória, somos os primeiros campeões mundiais!", vibrou o jogador Betinho, que é tetracampeão da Copa do Mundo FIFA de Beach Soccer (2006/07/08/09) pela Seleção Brasileira.
            O titulo inédito acabou rendendo uma camisa criada pelo departamento de marketing que exaltava o “Campeão de Terra, Mar e Areia”. Mas a verdade e que nos gramados a campanha na Taça Guanabara esteve longe de levantar um troféu e a ausência de público em São Januário foi constante. A GDA estende uma faixa de protesto no estádio: “se o time não joga, a torcida não vem”.
            Neste ano é lançado mais um livro da coleção “Ídolos Imortais”. Desta vez chegava às livrarias “Os dez mais do Vasco”, escrita pelos jornalistas Cláudio Nogueira e Rodrigo Taves. Na obra encontramos a biografia de BARBOSA - ADEMIR - DANILO - BELLINI - ORLANDO - VAVÁ - ROBERTO - ROMÁRIO - EDMUNDO – JUNINHO. Escolhidos através de uma votação de 10 jornalistas vascaínos: Tárik de Souza, Rodrigo Campos, Rafael Marques, Lédio Carmona, Hugo Lago, Fábio Tubino, Daniel Pereira e João Ernesto Ferreira, do Centro de Memória do Vasco.
Mas a temporada estava apenas começando e logo o time se recuperou e chegou à final da Taça Rio contra o Flamengo. Neste dia ocorreram inúmeros distúrbios pela cidade envolvendo brigas e conflitos entre as duas torcidas. O maior problema aconteceu na praça do Barreto em Niterói quando tiros foram disparados de um carro e tumulto generalizado no local, terminando com nove baleados e 102 torcedores presos entre eles 76 torcedores do Vasco e 25 do Flamengo. Em Campo Grande uma briga marcada pela internet acabou com alguns baleados e 1 morto.
Apesar da derrota para o Flamengo nos pênaltis, o time seguiu em frente e, pouco mais de um mês depois, se sagrou campeão da Copa do Brasil pela primeira vez.  Tanto o Vasco quanto o Coritiba buscavam o inédito título da competição nacional. Mesmo fora de casa, o Gigante trouxe o troféu para São Januário. E a conquista foi heróica, na visão de quem viveu aquela final em que  o time sofreu a intensa pressão no Paraná. O jogador Rômulo lembra a atmosfera da partida: "As ruas e o estádio estavam abarrotados. Tinha muito torcedor do Coritiba no Couto Pereira, e a torcida apoiou do início ao fim. A pressão foi grande naquele dia”, disse o volante. Ao retornar ao Rio de Janeiro, os jogadores desembarcam no aeroporto e são recebidos por uma multidão ansiosa em recepcionar os ídolos que partem em carreata pelas principais ruas do Centro até São Januário quando uma festa estava programada. Depois de 8 anos sem comemorar um título a torcida praticamente virou a madrugada comemorando o título mostrando que o clube ainda era capaz de mobilizar uma massa por toda a cidade que foi dormir ao som dos fogos e dos gritos de “ é campeão”. Uma nova música ganha as ruas da metrópole. Composta pelo MC Charles, o Trem Bala da Colina, era uma resposta criativa ao rival que tinha uma canção de um tal “bonde sem freio”. Na madrugada carioca o som do funk dizia: “Já tive Expresso da vitória, agora vamos pra ciima aqui não tem essa de bonde é o TREM BALA DA COLINA, é o trem bala bala bala bala da colina!Puxa o Trem Vamos para Cima!É o trem Bala da Colina”. Outra canção de bastante sucesso nesta Copa do Brasil, foi o “ Ahê, Pulaê, deixa o caldeirão ferver”
Ao lembrar deste dia, a atriz Juliana Paes recorda que comemorou o título assistindo pela TV em casa com seu filho de seis meses choravando na hora da decisão: “meu Deus, vou acudir o Pedro ou ver o jogo? Aí ele começou a gritar mesmo e eu fui dar de mamar. No momento em que amamentava, o juiz apitou, nem pude vibrar. Estavam começando os fogos, eu doida pra ir para a varanda, o grito entalado na garganta... Foi a comemoração mais solitária e silenciosa de toda a minha vida”.
A festa prosseguiu nesta semana com o retorno de Juninho ao clube depois de 10 anos. O jogador já havia anunciado sua volta em abril, mas somente no dia 11 de junho, justamente durante a entrega das faixas de campeão da Copa do Brasil, Juninho recebe uma grande homenagem do clube e de sua torcida. Estiveram presentes vários ex-jogadores de 2001, além de Geovani, ídolo dos anos 1980 e 90. Edmundo voltava a pisar no gramado desde a última vez em 2008 quando o clube caiu para a Série B. A cantora Fernanda Abreu atuou como mestre de cerimônias apresentando Juninho que entrou em campo através do túnel apelidado de “Trem Bala da Colina”.
Antes do campeonato brasileiro representantes das torcidas organizadas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco firmaram na sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro um pacto pela não violência. No encontro foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo MP, um acordo que também incluiu o Ministério do Esporte, a Polícia Militar, a Superintendência de Desportos do Estado do Rio (Suderj) e a Federação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (FTORJ). Pouco depois, representantes da IRA Jovem e da FJV se encontram na FTORJ para um acordo entra as partes em litígio. O resultado, de acordo com a entidade, “é possível SIM, um debate franco de idéias e cobranças, agindo com HONRA, RESPEITO e impondo a PALAVRA DE HOMENS que somos”.
Na mesma época, um grupo de músicos vascaínos se reuniu para uma grande confraternização no Citibank Hall no dia 23 de agosto que gerou a gravação do DVD “Vamos Todos Cantar de Coração”. Estiveram presentes Nelson Sargento, Martinho da Vila. Paulinho da Viola, MC Charles, Fernanda Abreu, Teresa Cristina, Erasmo Carlos, Serjão Lorosa, Luiz Melodia, Dóris Monteiro, Celso Blues Boy, Dicró, Paulinho da Mocidade e  a bateria da Unidos da Tijuca.
O mês de agosto ainda reservou grandes emoções para os vascaínos que faziam boa campanha no campeonato brasileiro e na Copa Sul-Americana. No final do mês duas partidas contra o Fluminense (dia 21) e o Flamengo no Engenhão, movimentaram o público. Contra o tricolor, um grupo de 21 vascaínos foi preso acusado de preparar uma emboscada para os rivais. Eles não haviam seguido o Termo de Ajustamento Coletivo (TAC) que previa a escolta da polícia para o deslocamento até o estádio. No jogo contra o rubro-negro, o problema aconteceu dentro do estádio. O técnico do Vasco Ricardo Gomes teve um AVC durante a partida. Enquanto os  vascaínos gritavam o seu nome, no outro lado, vinham os apupos macabros de “uh, vai morrer”. Toda a imprensa comentou a atitude ridícula e desumana dos rubro-negros. No período em que o técnico se recuperava no hospital veio a triste notícia da morte de um dos maiores simbolos da torcida vascaína, o folclórico massagista Pai Santana. Na intenet vários torcedores fazem suas homenagens edeixam mensagens carinhosas. Para o vascaíno Robert ficou a lembrança: “quando eu era pequeno meu pai me levava aos jogos do Vasco, tanto no Maracanã, quanto em São Januário, a Torcida gritava Santana Santana ...Ai ele chegava com a nossa bandeira e tremulava ela a Torcida Vascaína ia a loucura !!! Eternamente Pai Santana !!!Deus ganhou um grande Vascaíno!!!”
A boa campanha do time não impedia da torcida enxergar os problemas que afetavam o futebol brasileiro que era alvo de inúmeras denúncias na imprensa internacional contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Durante o clássico entre Vasco e Botafogo no Engenhão, em novembro, membros da Associação Nacional dos Torcedores (ANT) recolhiam assinaturas para um abaixo-assinado pedindo a saída do dirigente.  O torcedor vascaíno Ricardo Massari foi um dos interessados em assinar a petição. Ele parou até para tirar foto ao lado das placas contra o presidente da CBF. "Temos que apoiar, está na hora do torcedor perceber que ele é um dos mais prejudicados com todas essas denúncias de corrupção".
Contra o Fluminense, na penúltima rodada do campeonato brasileiro a polêmica que tomou as redes sociais foi um vídeo postado na internet com o repórter da Rede Globo comemorando um gol do Vasco. O jornalista Eric Faria vibrava com o gol. Dezenas de posts a favor e contra colocam lenham na fogueira. “Bacana ver a torcida mulamba revoltada com o Eric Faria… Só porque ele comemorou o gol do Vasco kkkkkkkkkkk. O Repórter Eric Faria comemorando o Gol do Vasco! Por isso que fica falando mal do Fla no TT. Tá explicado!!!”
Em dezembro, antes da última rodada do campeonato brasileiro, em disputa acirrada por Vasco e Corinthians, é feita a primeira manifestação da campanha “O Maraca é Nosso”. Centenas de torcedores dos diversos clubes cariocas se concentraram enfrente a estátua do Belline contra a possível privatização do estádios e as reformas previstas que acentuavam a elitização do futebol, com o provável aumento no preço dos ingressos. Liderados pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, os torcedores também questionavam os custos elevados da obra: “o pensamento do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas é que o Maracanã é um bem público, é um patrimônio de todos os cariocas e dos brasileiros. É até um patrimônio da humanidade, que a gente não pode gastar R$ 1 bilhão de dinheiro público no Maracanã e entregar à iniciativa privada. Quer dizer, o Estado fica com o prejuízo e a iniciativa privada, com o lucro”, disse Marcos Alvito, um dos líderes do movimento.
Na contra-corrente do movimento de luta contra a descaracterização do Maracanã, um site oficial entrevistava torcedores do passado para lembrarem o futebol “dos velhos tempos”, confraternização dos torcedores rivais, a Copa de 1950 e nenhuma pergunta polêmica. Manoel Bigode, um dos fundadores da Força Jovem do Vasco e idealizador da Sala das bandeiras, dá seu depoimento marcado pela emoção de assistir a Copa de 1950 e compara as diferenças daquele tempo: “um fato que para os dias de hoje seria atípico, e que na época se via muito, eram torcedores de terno, gravata e chapéu Panamá no meio da antiga geral. Não há palavras para descrever a sensação que era assistir à final da Copa do Mundo (...) já entrei junto com a torcida do Flamengo e só nos separávamos quando terminava a subida da rampa. Íamos para direita e os flamenguistas para a esquerda. Cansei de ir com a camisa do Vasco em um bar freqüentado por flamenguistas”[1].
Um problema que persistiu neste período foi a divisão da Força Jovem com dois grupos disputando o controle da agremiação. Em entrevista a imprensa o representante do GEPE explica o fato e a resposta policial: “infelizmente, existe uma divisão entre a torcida organizada do Vasco da Gama, a Força Jovem. A Polícia Militar efetua um cordão de isolamento entre a mesma torcida organizada. Houve uma dissidência dentro da Torcida. Eles não aceitam a presidência do atual líder da torcida”. Para ele o motivo principal da divisão é essencialmentede ordem monetária: “hoje, a Torcida Organizada é um grande comércio (...) As pessoas lutam por esse domínio da torcida organizada para ter esse poder na mão. Isso hoje é o principal fator de desavença entre as torcidas organizadas”[2].
Para a última partida do ano a expectativa da torcida era conseguir vencer o Flamengo e esperar por um resultado positivo do Palmeiras diante do Corinthians.  Nesta semana o sonho da conquista da Tríplice Coroa (Copa do Brasil, Brasileiro e Sul-Americana) foi desfeito com a derrota no Chile, no entanto, para incentivar os jogadores, cerca de 200 torcedores compareceram ao aeroporto para prestigiar o elenco que regressava ao país.Feliz com a recepção calorosa, o técnico Cristóvão Borges disse que o time conquistou a confiança dos torcedores por ter demonstrado garra. O torcedor demonstra confiança porque sabe que o time sempre deu resposta. Eles são nossos aliados e jogam junto. Se hoje eles acreditam no título é porque percebem a nossa entrega desde o início. Fiquei muito feliz com essa recepção, e vamos levar essa energia para o campo”. Também o presidente Roberto Dinamite não escondeu sua satisfação afirmando: “dessa torcida eu espero tudo”.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: http://www.maracanario2014.com.br em 26 de Julho de 2011.
[2] Fonte: NETVASCO (transcrição) 24 de Novembro de 2011.

Vasco vasco.com.br 2011

Vasco São Januário 2011


Nenhum comentário:

Postar um comentário