“Rei, rei,
rei, Juninho é nosso rei”
Canto da Torcida
2011
O Trem Bala da Colina
Ao assumir a
presidência do clube em meados de 2008, Roberto Dinamite conseguiu uma trégua
da torcida até o início de 2011 quando ocorrem as primeiras manifestações
contra a sua administração. Em janeiro um grupo de opositores realiza um
protesto em frente ao estádio de São Januário levando cartazes e bananas em
alusão ao estilo do dirigente comandar o clube. Além do presidente o alvo dos
protestos era o tecnico Paulo César Gusmão e os craques Carlos Alberto e
Felipe. Gritos e cânticos irritados de “Vergonha, time sem vergonha”, “Vasco é
tradição, não é humilhação” e “Felipe, seu pipoqueiro, fique sabendo que você
só quer dinheiro”, puderam ser ouvidos durante a manifestação dos torcedores
revoltados com o time que ainda não tinha vencido em cinco rodadas do
Campeonato Carioca.
A resposta de Dinamite
veio em março no futebol de areia quando o
Vasco se tornou campeão do I Mundialito de Clubes de Beach
Soccer. O 'Gigante da Colina' venceu o Sporting Portugal por 4 a 2. "Essa
é uma conquista inédita, é o primeiro título mundial do clube! Tem um
sabor especial! O torcedor vascaíno tem que comemorar e muito essa vitória,
somos os primeiros campeões mundiais!", vibrou o jogador Betinho, que é
tetracampeão da Copa do Mundo FIFA de Beach Soccer (2006/07/08/09) pela Seleção
Brasileira.
O titulo inédito acabou
rendendo uma camisa criada pelo departamento de marketing que exaltava o
“Campeão de Terra, Mar e Areia”. Mas a verdade e que nos gramados a campanha na
Taça Guanabara esteve longe de levantar um troféu e a ausência de público em
São Januário foi constante. A GDA estende uma faixa de protesto no estádio: “se
o time não joga, a torcida não vem”.
Neste ano é lançado mais um livro da coleção “Ídolos
Imortais”. Desta vez chegava às livrarias “Os dez mais do Vasco”, escrita pelos
jornalistas Cláudio Nogueira e Rodrigo Taves. Na obra encontramos a biografia
de BARBOSA - ADEMIR - DANILO - BELLINI - ORLANDO - VAVÁ - ROBERTO - ROMÁRIO -
EDMUNDO – JUNINHO. Escolhidos através de uma votação de 10 jornalistas
vascaínos: Tárik de Souza, Rodrigo Campos, Rafael Marques, Lédio Carmona, Hugo
Lago, Fábio Tubino, Daniel Pereira e João Ernesto Ferreira, do Centro de
Memória do Vasco.
Mas a temporada estava apenas começando e logo o
time se recuperou e chegou à final da Taça Rio contra o Flamengo. Neste dia
ocorreram inúmeros distúrbios pela cidade envolvendo brigas e conflitos entre
as duas torcidas. O maior problema aconteceu na praça do Barreto em Niterói
quando tiros foram disparados de um carro e tumulto generalizado no local,
terminando com nove baleados e 102 torcedores presos entre eles 76 torcedores
do Vasco e 25 do Flamengo. Em Campo Grande uma briga marcada pela internet
acabou com alguns baleados e 1 morto.
Apesar da derrota para o Flamengo nos pênaltis, o time
seguiu em frente e, pouco mais de um mês depois, se sagrou campeão da Copa do
Brasil pela primeira vez. Tanto o Vasco quanto o Coritiba buscavam o
inédito título da competição nacional. Mesmo fora de casa, o Gigante trouxe o
troféu para São Januário. E a conquista foi heróica, na visão de quem viveu
aquela final em que o time sofreu a
intensa pressão no Paraná. O jogador Rômulo lembra a atmosfera da partida:
"As ruas e o estádio estavam abarrotados. Tinha muito torcedor do Coritiba
no Couto Pereira, e a torcida apoiou do início ao fim. A pressão foi grande
naquele dia”, disse o volante. Ao retornar ao Rio de Janeiro, os jogadores
desembarcam no aeroporto e são recebidos por uma multidão ansiosa em
recepcionar os ídolos que partem em carreata pelas principais ruas do Centro
até São Januário quando uma festa estava programada. Depois de 8 anos sem
comemorar um título a torcida praticamente virou a madrugada comemorando o
título mostrando que o clube ainda era capaz de mobilizar uma massa por toda a
cidade que foi dormir ao som dos fogos e dos gritos de “ é campeão”. Uma nova
música ganha as ruas da metrópole. Composta pelo MC Charles, o Trem Bala da
Colina, era uma resposta criativa ao rival que tinha uma canção de um tal
“bonde sem freio”. Na madrugada carioca o som do funk dizia: “Já tive Expresso
da vitória, agora vamos pra ciima aqui não tem essa de bonde é o TREM BALA DA
COLINA, é o trem bala bala bala bala da colina!Puxa o Trem Vamos para Cima!É o
trem Bala da Colina”. Outra canção de bastante sucesso nesta Copa do Brasil,
foi o “ Ahê, Pulaê, deixa o caldeirão ferver”
Ao lembrar deste dia, a atriz Juliana Paes recorda que
comemorou o título assistindo pela TV em casa com seu filho de seis meses
choravando na hora da decisão: “meu Deus, vou acudir o Pedro ou ver o jogo? Aí
ele começou a gritar mesmo e eu fui dar de mamar. No momento em que amamentava,
o juiz apitou, nem pude vibrar. Estavam começando os fogos, eu doida pra ir
para a varanda, o grito entalado na garganta... Foi a comemoração mais
solitária e silenciosa de toda a minha vida”.
A festa prosseguiu nesta semana com o retorno de
Juninho ao clube depois de 10 anos. O jogador já havia anunciado sua volta em
abril, mas somente no dia 11 de junho, justamente durante a entrega das faixas
de campeão da Copa do Brasil, Juninho recebe uma grande homenagem do clube e de
sua torcida. Estiveram presentes vários ex-jogadores de 2001, além de Geovani,
ídolo dos anos 1980 e 90. Edmundo voltava a pisar no gramado desde a última vez
em 2008 quando o clube caiu para a Série B. A cantora Fernanda Abreu atuou como
mestre de cerimônias apresentando Juninho que entrou em campo através do túnel
apelidado de “Trem Bala da Colina”.
Antes do campeonato brasileiro representantes das
torcidas organizadas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco firmaram na sede
do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro um pacto pela não violência.
No encontro foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo
MP, um acordo que também incluiu o Ministério do Esporte, a Polícia Militar, a
Superintendência de Desportos do Estado do Rio (Suderj) e a Federação das
Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (FTORJ). Pouco depois, representantes da
IRA Jovem e da FJV se encontram na FTORJ para um acordo entra as partes em
litígio. O resultado, de acordo com a entidade, “é possível SIM, um debate
franco de idéias e cobranças, agindo com HONRA, RESPEITO e impondo
a PALAVRA DE HOMENS que somos”.
Na mesma
época, um grupo de músicos vascaínos se reuniu para uma grande confraternização
no Citibank Hall no dia 23 de agosto que gerou a gravação do DVD “Vamos Todos
Cantar de Coração”. Estiveram presentes Nelson Sargento, Martinho da Vila.
Paulinho da Viola, MC Charles, Fernanda Abreu, Teresa Cristina, Erasmo Carlos,
Serjão Lorosa, Luiz Melodia, Dóris Monteiro, Celso Blues Boy, Dicró, Paulinho
da Mocidade e a bateria da Unidos da
Tijuca.
O mês de agosto ainda reservou grandes emoções para os
vascaínos que faziam boa campanha no campeonato brasileiro e na Copa
Sul-Americana. No final do mês duas partidas contra o Fluminense (dia 21) e o
Flamengo no Engenhão, movimentaram o público. Contra o tricolor, um grupo de 21
vascaínos foi preso acusado de preparar uma emboscada para os rivais. Eles não
haviam seguido o Termo de Ajustamento Coletivo (TAC) que previa a escolta da
polícia para o deslocamento até o estádio. No jogo contra o rubro-negro, o
problema aconteceu dentro do estádio. O técnico do Vasco Ricardo Gomes teve um
AVC durante a partida. Enquanto os
vascaínos gritavam o seu nome, no outro lado, vinham os apupos macabros
de “uh, vai morrer”. Toda a imprensa comentou a atitude ridícula e desumana dos
rubro-negros. No período em que o técnico se recuperava no hospital veio a
triste notícia da morte de um dos maiores simbolos da torcida vascaína, o
folclórico massagista Pai Santana. Na intenet vários torcedores fazem suas
homenagens edeixam mensagens carinhosas. Para o vascaíno Robert ficou a
lembrança: “quando eu era pequeno meu pai me levava aos jogos do Vasco, tanto
no Maracanã, quanto em São Januário, a Torcida gritava Santana Santana ...Ai
ele chegava com a nossa bandeira e tremulava ela a Torcida Vascaína ia a
loucura !!! Eternamente Pai Santana !!!Deus ganhou um grande Vascaíno!!!”
A boa campanha do time não impedia da torcida enxergar
os problemas que afetavam o futebol brasileiro que era alvo de inúmeras
denúncias na imprensa internacional contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Durante o clássico entre Vasco e Botafogo no Engenhão, em novembro, membros da
Associação Nacional dos Torcedores (ANT) recolhiam assinaturas para um
abaixo-assinado pedindo a saída do dirigente. O
torcedor vascaíno Ricardo Massari foi um dos interessados em assinar a petição.
Ele parou até para tirar foto ao lado das placas contra o presidente da CBF.
"Temos que apoiar, está na hora do torcedor perceber que ele é um dos mais
prejudicados com todas essas denúncias de corrupção".
Contra o Fluminense, na penúltima rodada do campeonato
brasileiro a polêmica que tomou as redes sociais foi um vídeo postado na
internet com o repórter da Rede Globo comemorando um gol do Vasco. O jornalista
Eric Faria vibrava com o gol. Dezenas de posts a favor e contra colocam lenham
na fogueira. “Bacana ver a torcida mulamba revoltada com o Eric Faria… Só porque ele comemorou o gol do Vasco kkkkkkkkkkk. O Repórter Eric Faria comemorando o
Gol do Vasco! Por isso que fica falando mal do Fla no TT. Tá explicado!!!”
Em dezembro, antes da última rodada do campeonato
brasileiro, em disputa acirrada por Vasco e Corinthians, é feita a primeira
manifestação da campanha “O Maraca é Nosso”. Centenas de torcedores dos
diversos clubes cariocas se concentraram enfrente a estátua do Belline contra a
possível privatização do estádios e as reformas previstas que acentuavam a
elitização do futebol, com o provável aumento no preço dos ingressos. Liderados
pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, os torcedores também questionavam
os custos elevados da obra: “o pensamento do Comitê Popular da Copa e das
Olimpíadas é que o Maracanã é um bem público, é um patrimônio de todos os
cariocas e dos brasileiros. É até um patrimônio da humanidade, que a gente não
pode gastar R$ 1 bilhão de dinheiro público no Maracanã e entregar à iniciativa
privada. Quer dizer, o Estado fica com o prejuízo e a iniciativa privada, com o
lucro”, disse Marcos Alvito, um dos líderes do movimento.
Na contra-corrente do movimento de luta contra a
descaracterização do Maracanã, um site oficial entrevistava torcedores do
passado para lembrarem o futebol “dos velhos tempos”, confraternização dos
torcedores rivais, a Copa de 1950 e nenhuma pergunta polêmica. Manoel Bigode,
um dos fundadores da Força Jovem do Vasco e idealizador da Sala das bandeiras,
dá seu depoimento marcado pela emoção de assistir a Copa de 1950 e compara as
diferenças daquele tempo: “um
fato que para os dias de hoje seria atípico, e que na época se via muito, eram
torcedores de terno, gravata e chapéu Panamá no meio da antiga geral. Não há
palavras para descrever a sensação que era assistir à final da Copa do Mundo
(...) já entrei junto com a torcida do Flamengo e só nos separávamos quando
terminava a subida da rampa. Íamos para direita e os flamenguistas para a esquerda.
Cansei de ir com a camisa do Vasco em um bar freqüentado por flamenguistas”[1].
Um problema
que persistiu neste período foi a divisão da Força Jovem com dois grupos
disputando o controle da agremiação. Em entrevista a imprensa o representante
do GEPE explica o fato e a resposta policial: “infelizmente,
existe uma divisão entre a torcida organizada do Vasco da Gama, a Força Jovem.
A Polícia Militar efetua um cordão de isolamento entre a mesma torcida
organizada. Houve uma dissidência dentro da Torcida. Eles não aceitam a
presidência do atual líder da torcida”. Para ele o motivo principal da
divisão é essencialmentede ordem monetária: “hoje, a Torcida Organizada é um grande comércio (...) As
pessoas lutam por esse domínio da torcida organizada para ter esse poder na
mão. Isso hoje é o principal fator de desavença entre as torcidas organizadas”[2].
Para a última partida do ano a expectativa da torcida
era conseguir vencer o Flamengo e esperar por um resultado positivo do
Palmeiras diante do Corinthians. Nesta
semana o sonho da conquista da Tríplice Coroa (Copa do Brasil, Brasileiro e
Sul-Americana) foi desfeito com a derrota no Chile, no entanto, para incentivar
os jogadores, cerca de 200 torcedores compareceram ao aeroporto para prestigiar
o elenco que regressava ao país. “Feliz com a recepção calorosa, o técnico Cristóvão
Borges disse que o time conquistou a confiança dos torcedores por ter
demonstrado garra. O torcedor demonstra confiança porque sabe que o time sempre
deu resposta. Eles são nossos aliados e jogam junto. Se hoje eles acreditam no
título é porque percebem a nossa entrega desde o início. Fiquei muito feliz com
essa recepção, e vamos levar essa energia para o campo”. Também o presidente
Roberto Dinamite não escondeu sua satisfação afirmando: “dessa torcida eu
espero tudo”.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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