"Sem torcedor
não há futebol, sem futebol não há alegria"
Associação
Nacional dos Torcedores
2010
Oito Bandeirões
O
início de temporada foi feito no Espírito Santo com a participação entusiasmada
de milhares de torcedores que recepcionaram os jogadores no aeroporto e
acompanharam com bastante interesse os treinamentos da equipe não parando de
cantar a música símbolo da volta do time a elite do futebol Brasileiro: “ O
sentimento não pode parar, pois todo Vascaíno tem amor infinito, cantarei de
coração, Vascooooooo da Gamaaaaaaaa”. A recepção dos jogadores foi organizada
pela 27ª Família da Força Jovem que
contava com cerca de 1.500 participantes e um patrimônio invejável: uma sede
própria, 12 Bandeiras, 3 Faixas (sendo uma de 20 metros) e bateria própria.
A
principal contratação para a temporada era o atacante Dodô que recebeu uma música
em sua homenagem feita pelo MC Charles: “Dodô é o Poder”, uma adaptação de um
funk. Outra música que prometia contagiar a galera em 2010 foi a escolhida pela
GDA, também uma adaptação da música de Raul Seixas e Paulo Coelho, uma paródia
de “Eu nasci há dez mil anos atrás”, transformada em “Eu nasci amando o Vasco
demais”. Pelo Twitter, Paulo Coelho deu sua aprovação. “Como Vascaíno, preciso
confessar que a escolha não poderia ter sido melhor”. No entanto as duas
canções fizeram sucesso temporário.
Em
fevereiro a Força Jovem do Vasco (FJV) completou 40 anos de fundação recebendo
felicitações do presidente do clube: “a Força Jovem do Vasco tem sido um
diferencial na sua postura ao torcer pelo nosso grandioso Vasco, norte a sul do
Brasil”. O evento é comemorado como uma nova etapa do clube, não faltando
alfinetadas contra a antiga direção: “Eu acho que essa nova diretoria tem dado
uma resposta a altura de sua demanda e exigência, a Força Jovem teve um tempo
que ela caiu muito na antipatia do torcedor vascaíno que achava que a torcida
era uma massa de manobra da antiga direção do clube, hoje não, hoje a gente
respira novamente ares de independência”, avalia Roberto Monteiro,
ex-presidente da torcida e vereador eleito em 2008.
O bom relacionamento entre o clube e a sua
principal torcida dava a oportunidade dos jogadores prestigiarem aos atos da
torcida. A jovem promessa de craque Phillipe Coutinho participa de uma promoção
presenteando a FJV para um sorteio de sua camisa.
A revista oficial do clube
em março dedicou uma matéria especial sobre dois torcedores folclóricos da
torcida vascaína que viraram celebridades nas arquibancadas atraindo a atenção
de crianças que se aproximavam para registrar em fotografias a presença dos
fantasiados: “Mister M e o Boneco inflável do Shrek são figuraças queridas na torcida
do Vasco. O carisma de ambos pode ser avaliado na média de 500 fotos que em
dias de grandes jogos, a galera do Gigante da Colina faz questão de tirar ao
lado deles”.
A derrota do Vasco na
final da Taça Guanabara para o Botafogo causou grande tristeza para a torcida
que recebia outra notícia triste com a morte da torcedora-símbolo da TOV, Aida
de Almeida. Tia Aida, como era conhecida, morre aos 84 anos no dia 11 de abril.
Outra morte sentida foi a do radialista vascaíno Sérgio Nogueira, locutor
oficial do Estádio de São Januário e apresentador do programa “Só Dá Vasco”,
pela Rádio Bandeirantes. Em sua homenagem, a torcida União Vascaína faz uma
bandeira de 4x4 metros com o seu rosto e os dizeres "A Voz da Nação
Vascaína".
A relação positiva de
Roberto Dinamite com a torcida do Vasco começa a ter os primeiros abalos neste
semestre com a crítica de torcedores sobre as contratações para o campeonato
brasileiro. A GDA que sempre teve uma atitude mais comedida em suas notas,
parte para o ataque afirmando que “após quase 2 anos, poucas coisas mudaram
positivamente no C.R. Vasco da Gama. A inércia da administração Roberto
Dinamite, muito nos preocupa”. Entre as várias críticas estão os “são setores
que necessitam de uma atenção especial, as Vice-Presidências Jurídica e Médica.
Primeiramente, a VP Jurídica, que se tornou piada para todos(...). A ineficiência de nosso
Departamento Médico é vista a “olhos nus”(...) Estamos cansados de ver
contratações de jogadores de times pequenos !!!!! Portanto, pelo acima exposto,
estaremos de protesto, por tempo indeterminado”[1]
A Força Jovem protestou com
faixas. Numa delas se lia: “Pensar Grande é Agir Como Gigante-Contratações de
Peso! Técnico de Ponta!” Para
Jorge Mansur, presidente da União Vascaína, as novas contratações estão longe
do esperado. O
metarlúgico Davi de Oliveira Santos, Presidente da TOV, está de acordo com
Mansur sobre a fragilidade do elenco vascaíno e a importância da contratação de
reforços de peso para a campanha no Brasileiro.“Esse Time atual do Vasco é
brincadeira”, lamenta a liderança [2].
Nestes dias uma notícia divulgada pela imprensa dizia que a torcida invadiu o
campo de treino para ameaçar os jogadores. A FJV em nota se pronuncia sobre os
fatos ocorridos. “Cerca de 30 torcedores foram cobrar atitudes dos jogadores
vascaínos no treinamento de terça-feira em São Januário. Os mais cobrados pela
Torcida foram o lateral-direito Élder Granja, o volante Nilton e os atacantes
Elton e Dodô. A posição da Torcida era dar uma sacudida nos atletas. Em nenhum
momento houve agressão. Foi um protesto pacífico”.
A maior briga da Força
Jovem neste primeiro semestre não foi contra nenhuma torcida rival e sim com a
sua própria rainha, Dani Sperle. A modelo que passou a namorar o ator pornô
Alexandre Frota participa de um programa de televisão (Superpop) apresentado
por Luciana Gimenez. Na ocasião seu namorado (que já foi integrante da Torcida
Jovem do Flamengo), rasga uma camisa do Vasco. Em nota oficial a FJV afasta a
rainha do cargo e convoca um concurso para a escolha da nova rainha da torcida.
Em maio, no site oficial a
torcida divulga o resultado da escolha da nova rainha após vários dias de
votação pela internet, Daniele Vilas Boas vence em um concurso muito disputado
e com mais de 7 mil votos e 44 % de aprovação.
Pouco antes da Copa do
Mundo na África do Sul é realizado em maio no Rio de Janeiro o 2º Seminário
Nacional de Torcidas Organizadas. Cerca de 200 representantes de todas as
principais torcidas organizadas do Brasil discutiram formas de combater a
violência nos estádios e um conjunto de medidas elaboradas pela torcidas,
polícias estaduais e membros do Ministério de Esporte e o Ministério da
Justiça.
O Procedimento Operacional Policial começa a
ser implantado no início deste campeonato brasileiro. “O procedimento começou a
ser elaborado em 2009. Representantes de Governos, da sociedade e pesquisadores
trocaram experiências e sugestões que originaram um documento com mais de 100
medidas de segurança. Entre as medidas está a escolha do tipo do armamento dos
policiais, a tomada de depoimentos, como articular o atendimento de saúde nos
estádios, formas de monitorar o deslocamento das torcidas e como será
organizado o transporte público em dias de jogo”[3].
Também no Rio de Janeiro
era lançado o livro de Bernardo Hollanda sobre a História das Torcida
Organizadas Cariocas, baseado em sua
tese de doutorado defendida em 2008. Nele, o historiador faz uma
brilhante análise da formação das torcidas organizadas na cidade, concentrando
sua análise especialmente no final dos anos 1960 com a formação da Torcidas
Jovens. Seu trabalho passa a ser uma referência para o estudo do tema e sua
atuação tanto na FTORJ como nos debates acadêmicos passa a ser uma constante.
Junto do sociólogo Maurício Murad e da antropóloga Rosana Câmara, Bernardo atua
no sentido romper com o estigma preconizado pelos meios de comunicação sobre as
torcidas.
O ano de 2010 foi marcado
pelo recorde de lançamento de livros sobre o nosso clube. Ao todo foram sete
livros com as mais diversas abordagens, começando pela pesquisa histórica de
Alexandre Mesquita e Jeferson Almeida com "Um Expresso Chamado Vitória",
que conta a trajetória do time vascaíno das décadas de 1940 e 1950, narrando
como se formou a base que conquistou inúmeros troféus e teve como ápice o
título de campeão sul-americano, no Chile. Já o geógrafo Marcelo Matos faz uma
análise do contexto sócio-espacial de nosso estádio em “SÃO JANUÁRIO, Um
caldeirão no centro de um bairro”. O Ex-goleiro
vascaíno Valdir Appel (jogou entre 1965-1972) lançou 'O Goleiro Acorrentado'.
Estudando um passado mais recente, tivemos "Vasco: Glórias,
Títulos e Garra, 1996-2009". O trabalho feito pela
jovem escritora e estudante de jornalismo Elisa de Vicq de Souza
Dantas. Outra obra que fez sucesso foi “Vascão, o Gigante da Colina
em quadrinhos”, de Ziraldo. Registrando, Mais uma novidade editorial era 'Amor Infinito', do fotógrafo Marcelo Sadio,
com as imagens da campanha vitoriosa na série B, de 2009. Em
novembro era lançado '365 motivos para
ser vascaíno’, de Bruno Mazzeo e Sergio Almeida.
A moda entre as torcidas vascaínas
em 2010 foi criar seus bandeirões. Na da menos que 8 bandeiras gigantescas eram
abertas durante o clássico com o Flamengo no dia 01 de agosto. A torcida do
Vasco deu um show de beleza e criatividade no Maracanã com a exibição de 8
bandeirões: o da Vasqueire, o Camisão e a da Cruz de Malta da GDA, o da Força
Jovem, o da Pequenos Vascaínos, o da União Vascaína, o da Ira Jovem, e o da
Rasta. Cada torcida monta uma verdadeira operação de guerra para trazer a
bandeira para o estádio. A Pequenos Vascaínos descreve as características de
seu pavilhão: “tem 100 metros de comprimento e 41 de altura, mas os números são
ainda mais impressionantes, foram usados, 30 mil metros de linha e dez galões
de tinta. O peso? São 400 quilos que só podem ser carregados por, pelo menos,
25 pessoas”.
Entre os torcedores outra
moda que se popularizava era exibir nas redes sociais as tatuagens com imagens
do clube. Com o sucesso do lançamento da camisa 3 do clube inspirada na Cruz
Templária, o departamento de marketing criou a campanha “Vasco na Pele”, em que o tatuador Eric
Codo fez 802 Cruzes Templárias na pele dos torcedores, conseguindo com esta
proeza entrar para o Livro dos Recordes.
Em agosto por ocasião da
comemoração dos 112 anos do clube, é realizado, pelo quarto ano consecutivo na
Câmara dos Vereadores, o “Dia do Vasco”, sendo homenageados com a Medalha Pedro
Ernesto (principal comenda da cidade) o Vice-Presidente médico do clube, Manoel
Moutinho e o Ministro da Igualdade Social, Eloi Araújo. A Força Jovem foi
homenageada pelo seu aniversário de 40 anos, através do primeiro presidente da
torcida, Manoel Português, assim como alguns ex-jogadores: Alfinete, Gaúcho e
Roberto Dinamite.
Na mesma semana houve
outra comemoração da torcida em São Januário com a presença de um trio elétrico
levando a rainha da torcida Daniele Vilas Boas e do MC Charles. Em seguida
milhares de torcedores caminharam de São Januário até o Maracanã para o jogo
com o Fluminense.
O jogo acabou sendo
trágico para um dos diretores da torcida Força Jovem do Vasco (FJV), Antonio
Marcos Alves de Oliveira, de 31 anos, conhecido como Marquinhos ou Gabiru.
Segundo testemunhas, ele foi espancado por torcedores da Força Flu quando
passava pela passarela da estação de trem de São Cristóvão, em direção ao
Maracanã.
No final do ano de 2010 o
site semprevasco realiza quatro grandes entrevistas com torcedores vascaínos
com o título: “Torcidas Organizadas, associações ou alas dentro do clube?”. Respondem as mais
diversas perguntas Amâncio César (TOV), Beto Grajaú (FJV), Carlos Miranda (GDA)
e a cardiologista, Dra. Zoraia Grigolato. Também a Revista Oficial do Vasco
dedica suas páginas neste ano com reportagens sobre a Pequenos Vascaínos, a
rainha da FJV, Jorge Mansur (União Vascaína) e Beto (Rasta).
A Confederação Nacional
das Torcidas Organizadas (CONATORG) realiza em Brasília uma assembléia no
auditório da CUT-DF com a presença de lideranças de todo o país. Do Vasco foram
representantes da Ira Jovem e da Força Jovem. Entre as principais deliberações:
a) protesto na Esplanada dos Ministérios; b) o protocolo de petição no STF da
ADIN – Ação Direta de Inconstitucionalidade do Art. 39-B do Estatuto do
Torcedor e; c) fundação da Federação Nacional das Torcidas Organizadas –
FENATORG. Durante o
evento foi votado uma moção de moção
de agradecimento pelo empenho particular do Neguerê, vice-presidente da 22ª.
Família da Força Jovem do Vasco – Distrito Federal, em favor deste movimento,
sendo também acatado pela Confederação.
Em outubro de 2010, um
grupo formado inicialmente de torcedores universitários no Rio de Janeiro
insatisfeito com o fechamento do Maracanã e com as mudanças prometidas nos
estádios, cria ANT (Associação Nacional dos Torcedores) e rapidamente centenas
de pessoas de todo o Brasil começam a participar e criar filiais em seus
estados. A meta do coletivo é definida em seus
sete pontos principais:
1. A exclusão do povo
brasileiro dos estádios de futebol, fruto de uma política deliberada de
diminuição da capacidade dos estádios, extinção de setores populares dos
estádios e aumento abusivo dos ingressos
2. O desrespeito à cultura
torcedora com a extinção de áreas populares como a geral, onde há uma tradição
própria de participação no espetáculo que inclui assistir ao jogo de pé (o que
acontece na Alemanha)
3. A falta de
transparência no futebol brasileiro, há décadas nas mãos de dirigentes
incompetentes e corruptos; exigimos a democratização das decisões acerca do
futebol brasileiro com a participação dos torcedores; por exemplo: as sucessivas
e milionárias reformas do Maracanã, feitas sem nenhuma consulta aos torcedores
4. A exploração
politiqueira do futebol visando eleger candidatos que aproveitam-se da sua
popularidade para conseguirem mandatos contra o povo
5. O controle das tabelas
e horários dos campeonatos na mão da rede de televisão que há décadas detém o
lucrativo monopólio das transmissões televisivas de jogos de futebol; horário
máximo de 20h para o início das partidas durante a semana e 17h aos domingos
6. A retirada de comunidades
de trabalhadores em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas
7. A falta de meios de
transporte dignos durante os dias de jogos; exigimos esquemas especiais em dias
de jogos
O coletivo da ANT faz
campanhas nos estádios. No primeiro jogo entre Vasco e Flamengo no Engenhão é
feita uma panfletagem divulgando os sete pontos de luta. O jogo é marcado pela
extrema tensão entre as torcidas e com a possibilidade de novas mortes como
aconteceu no clássico entre Vasco e Fluminense. O público não chegou a 30 mil
pagantes. Um dos menores de todos os tempos. Através de um levantamento dos
públicos nos jogos entre Vasco e Flamengo pelo Campeonato Brasileiro entre 1971
e 2001. Do total de 29 jogos, em apenas 4 vezes tivemos menos de 30.000
pagantes[4].
Em novembro o presidente
da FJV se afasta do seu posto e assume em seu lugar Juninho. Na saída do cargo
Claudinho lista uma série de realizações durante a sua gestão: Sede Social, altura
da FJV; CNPJ da torcida regularizado; Restabelecemos a credibilidade da Torcida com o Clube e as
autoridades; Novo site modernizado; Bateria reformada; 01 faixa de viagem;-02
faixas oficiais – preta e outra branca; 50 bandeiras; 01 Bandeirão de 90 x 40
(Um dos maiores do Brasil) e uma Boutique em dias de jogos.
Eleito o melhor zagueiro do
campeonato brasileiro, o zagueiro Dedé tornou-se o principal jogador do elenco.
Ele que quase foi dispensado no início do ano, deu a volta por cima e
conquistou o coração dos torcedores que sonhavam com o clube voltar aos
melhores anos na década seguinte.
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