domingo, 2 de julho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2010 OITO BANDEIRÕES

                                          "Sem torcedor não há futebol, sem futebol não há alegria"
                                                                      Associação Nacional dos Torcedores

2010                         Oito Bandeirões

        O início de temporada foi feito no Espírito Santo com a participação entusiasmada de milhares de torcedores que recepcionaram os jogadores no aeroporto e acompanharam com bastante interesse os treinamentos da equipe não parando de cantar a música símbolo da volta do time a elite do futebol Brasileiro: “ O sentimento não pode parar, pois todo Vascaíno tem amor infinito, cantarei de coração, Vascooooooo da Gamaaaaaaaa”. A recepção dos jogadores foi organizada pela  27ª Família da Força Jovem que contava com cerca de 1.500 participantes e um patrimônio invejável: uma sede própria, 12 Bandeiras, 3 Faixas (sendo uma de 20 metros) e  bateria própria.
            A principal contratação para a temporada era o atacante Dodô que recebeu uma música em sua homenagem feita pelo MC Charles: “Dodô é o Poder”, uma adaptação de um funk. Outra música que prometia contagiar a galera em 2010 foi a escolhida pela GDA, também uma adaptação da música de Raul Seixas e Paulo Coelho, uma paródia de “Eu nasci há dez mil anos atrás”, transformada em “Eu nasci amando o Vasco demais”. Pelo Twitter, Paulo Coelho deu sua aprovação. “Como Vascaíno, preciso confessar que a escolha não poderia ter sido melhor”. No entanto as duas canções fizeram sucesso temporário.
            Em fevereiro a Força Jovem do Vasco (FJV) completou 40 anos de fundação recebendo felicitações do presidente do clube: “a Força Jovem do Vasco tem sido um diferencial na sua postura ao torcer pelo nosso grandioso Vasco, norte a sul do Brasil”. O evento é comemorado como uma nova etapa do clube, não faltando alfinetadas contra a antiga direção: “Eu acho que essa nova diretoria tem dado uma resposta a altura de sua demanda e exigência, a Força Jovem teve um tempo que ela caiu muito na antipatia do torcedor vascaíno que achava que a torcida era uma massa de manobra da antiga direção do clube, hoje não, hoje a gente respira novamente ares de independência”, avalia Roberto Monteiro, ex-presidente da torcida e vereador eleito em 2008.
 O bom relacionamento entre o clube e a sua principal torcida dava a oportunidade dos jogadores prestigiarem aos atos da torcida. A jovem promessa de craque Phillipe Coutinho participa de uma promoção presenteando a FJV para um sorteio de sua camisa.
A revista oficial do clube em março dedicou uma matéria especial sobre dois torcedores folclóricos da torcida vascaína que viraram celebridades nas arquibancadas atraindo a atenção de crianças que se aproximavam para registrar em fotografias a presença dos fantasiados: “Mister M e o Boneco inflável do Shrek são figuraças queridas na torcida do Vasco. O carisma de ambos pode ser avaliado na média de 500 fotos que em dias de grandes jogos, a galera do Gigante da Colina faz questão de tirar ao lado deles”.
A derrota do Vasco na final da Taça Guanabara para o Botafogo causou grande tristeza para a torcida que recebia outra notícia triste com a morte da torcedora-símbolo da TOV, Aida de Almeida. Tia Aida, como era conhecida, morre aos 84 anos no dia 11 de abril. Outra morte sentida foi a do radialista vascaíno Sérgio Nogueira, locutor oficial do Estádio de São Januário e apresentador do programa “Só Dá Vasco”, pela Rádio Bandeirantes. Em sua homenagem, a torcida União Vascaína faz uma bandeira de 4x4 metros com o seu rosto e os dizeres "A Voz da Nação Vascaína".
A relação positiva de Roberto Dinamite com a torcida do Vasco começa a ter os primeiros abalos neste semestre com a crítica de torcedores sobre as contratações para o campeonato brasileiro. A GDA que sempre teve uma atitude mais comedida em suas notas, parte para o ataque afirmando que “após quase 2 anos, poucas coisas mudaram positivamente no C.R. Vasco da Gama. A inércia da administração Roberto Dinamite, muito nos preocupa”. Entre as várias críticas estão os “são setores que necessitam de uma atenção especial, as Vice-Presidências Jurídica e Médica. Primeiramente, a VP Jurídica, que se tornou piada  para todos(...). A ineficiência de nosso Departamento Médico é vista a “olhos nus”(...) Estamos cansados de ver contratações de jogadores de times pequenos !!!!! Portanto, pelo acima exposto, estaremos de protesto, por tempo indeterminado”[1] A Força Jovem protestou com faixas. Numa delas se lia: “Pensar Grande é Agir Como Gigante-Contratações de Peso! Técnico de Ponta!” Para Jorge Mansur, presidente da União Vascaína, as novas contratações estão longe do esperado. O metarlúgico Davi de Oliveira Santos, Presidente da TOV, está de acordo com Mansur sobre a fragilidade do elenco vascaíno e a importância da contratação de reforços de peso para a campanha no Brasileiro.“Esse Time atual do Vasco é brincadeira”, lamenta a liderança [2]. Nestes dias uma notícia divulgada pela imprensa dizia que a torcida invadiu o campo de treino para ameaçar os jogadores. A FJV em nota se pronuncia sobre os fatos ocorridos. “Cerca de 30 torcedores foram cobrar atitudes dos jogadores vascaínos no treinamento de terça-feira em São Januário. Os mais cobrados pela Torcida foram o lateral-direito Élder Granja, o volante Nilton e os atacantes Elton e Dodô. A posição da Torcida era dar uma sacudida nos atletas. Em nenhum momento houve agressão. Foi um protesto pacífico”.
A maior briga da Força Jovem neste primeiro semestre não foi contra nenhuma torcida rival e sim com a sua própria rainha, Dani Sperle. A modelo que passou a namorar o ator pornô Alexandre Frota participa de um programa de televisão (Superpop) apresentado por Luciana Gimenez. Na ocasião seu namorado (que já foi integrante da Torcida Jovem do Flamengo), rasga uma camisa do Vasco. Em nota oficial a FJV afasta a rainha do cargo e convoca um concurso para a escolha da nova rainha da torcida.
Em maio, no site oficial a torcida divulga o resultado da escolha da nova rainha após vários dias de votação pela internet, Daniele Vilas Boas vence em um concurso muito disputado e com mais de 7 mil votos e 44 % de aprovação.
Pouco antes da Copa do Mundo na África do Sul é realizado em maio no Rio de Janeiro o 2º Seminário Nacional de Torcidas Organizadas. Cerca de 200 representantes de todas as principais torcidas organizadas do Brasil discutiram formas de combater a violência nos estádios e um conjunto de medidas elaboradas pela torcidas, polícias estaduais e membros do Ministério de Esporte e o Ministério da Justiça.
O Procedimento Operacional Policial começa a ser implantado no início deste campeonato brasileiro. “O procedimento começou a ser elaborado em 2009. Representantes de Governos, da sociedade e pesquisadores trocaram experiências e sugestões que originaram um documento com mais de 100 medidas de segurança. Entre as medidas está a escolha do tipo do armamento dos policiais, a tomada de depoimentos, como articular o atendimento de saúde nos estádios, formas de monitorar o deslocamento das torcidas e como será organizado o transporte público em dias de jogo”[3].
Também no Rio de Janeiro era lançado o livro de Bernardo Hollanda sobre a História das Torcida Organizadas Cariocas, baseado em sua  tese de doutorado defendida em 2008. Nele, o historiador faz uma brilhante análise da formação das torcidas organizadas na cidade, concentrando sua análise especialmente no final dos anos 1960 com a formação da Torcidas Jovens. Seu trabalho passa a ser uma referência para o estudo do tema e sua atuação tanto na FTORJ como nos debates acadêmicos passa a ser uma constante. Junto do sociólogo Maurício Murad e da antropóloga Rosana Câmara, Bernardo atua no sentido romper com o estigma preconizado pelos meios de comunicação sobre as torcidas.
O ano de 2010 foi marcado pelo recorde de lançamento de livros sobre o nosso clube. Ao todo foram sete livros com as mais diversas abordagens, começando pela pesquisa histórica de Alexandre Mesquita e Jeferson Almeida com "Um Expresso Chamado Vitória", que conta a trajetória do time vascaíno das décadas de 1940 e 1950, narrando como se formou a base que conquistou inúmeros troféus e teve como ápice o título de campeão sul-americano, no Chile. Já o geógrafo Marcelo Matos faz uma análise do contexto sócio-espacial de nosso estádio em “SÃO JANUÁRIO, Um caldeirão no centro de um bairro”. O Ex-goleiro vascaíno Valdir Appel (jogou entre 1965-1972) lançou 'O Goleiro Acorrentado'. Estudando um passado mais recente, tivemos "Vasco: Glórias, Títulos e Garra, 1996-2009". O trabalho feito pela jovem escritora e estudante de jornalismo Elisa de Vicq de Souza Dantas. Outra obra que fez sucesso foi “Vascão, o Gigante da Colina em quadrinhos”, de Ziraldo. Registrando, Mais uma novidade editorial era 'Amor Infinito', do fotógrafo Marcelo Sadio, com as imagens da campanha vitoriosa na série B, de 2009. Em novembro era lançado '365 motivos para ser vascaíno’, de Bruno Mazzeo e Sergio Almeida.
A moda entre as torcidas vascaínas em 2010 foi criar seus bandeirões. Na da menos que 8 bandeiras gigantescas eram abertas durante o clássico com o Flamengo no dia 01 de agosto. A torcida do Vasco deu um show de beleza e criatividade no Maracanã com a exibição de 8 bandeirões: o da Vasqueire, o Camisão e a da Cruz de Malta da GDA, o da Força Jovem, o da Pequenos Vascaínos, o da União Vascaína, o da Ira Jovem, e o da Rasta. Cada torcida monta uma verdadeira operação de guerra para trazer a bandeira para o estádio. A Pequenos Vascaínos descreve as características de seu pavilhão: “tem 100 metros de comprimento e 41 de altura, mas os números são ainda mais impressionantes, foram usados, 30 mil metros de linha e dez galões de tinta. O peso? São 400 quilos que só podem ser carregados por, pelo menos, 25 pessoas”.
Entre os torcedores outra moda que se popularizava era exibir nas redes sociais as tatuagens com imagens do clube. Com o sucesso do lançamento da camisa 3 do clube inspirada na Cruz Templária, o departamento de marketing criou a campanha “Vasco na Pele”, em que o tatuador Eric Codo fez 802 Cruzes Templárias na pele dos torcedores, conseguindo com esta proeza entrar para o Livro dos Recordes.
Em agosto por ocasião da comemoração dos 112 anos do clube, é realizado, pelo quarto ano consecutivo na Câmara dos Vereadores, o “Dia do Vasco”, sendo homenageados com a Medalha Pedro Ernesto (principal comenda da cidade) o Vice-Presidente médico do clube, Manoel Moutinho e o Ministro da Igualdade Social, Eloi Araújo. A Força Jovem foi homenageada pelo seu aniversário de 40 anos, através do primeiro presidente da torcida, Manoel Português, assim como alguns ex-jogadores: Alfinete, Gaúcho e Roberto Dinamite.
Na mesma semana houve outra comemoração da torcida em São Januário com a presença de um trio elétrico levando a rainha da torcida Daniele Vilas Boas e do MC Charles. Em seguida milhares de torcedores caminharam de São Januário até o Maracanã para o jogo com o Fluminense.
O jogo acabou sendo trágico para um dos diretores da torcida Força Jovem do Vasco (FJV), Antonio Marcos Alves de Oliveira, de 31 anos, conhecido como Marquinhos ou Gabiru. Segundo testemunhas, ele foi espancado por torcedores da Força Flu quando passava pela passarela da estação de trem de São Cristóvão, em direção ao Maracanã.
No final do ano de 2010 o site semprevasco realiza quatro grandes entrevistas com torcedores vascaínos com o título: “Torcidas Organizadas, associações ou  alas dentro do clube?”. Respondem as mais diversas perguntas Amâncio César (TOV), Beto Grajaú (FJV), Carlos Miranda (GDA) e a cardiologista, Dra. Zoraia Grigolato. Também a Revista Oficial do Vasco dedica suas páginas neste ano com reportagens sobre a Pequenos Vascaínos, a rainha da FJV, Jorge Mansur (União Vascaína) e Beto (Rasta).
A Confederação Nacional das Torcidas Organizadas (CONATORG) realiza em Brasília uma assembléia no auditório da CUT-DF com a presença de lideranças de todo o país. Do Vasco foram representantes da Ira Jovem e da Força Jovem. Entre as principais deliberações: a) protesto na Esplanada dos Ministérios; b) o protocolo de petição no STF da ADIN – Ação Direta de Inconstitucionalidade do Art. 39-B do Estatuto do Torcedor e; c) fundação da Federação Nacional das Torcidas Organizadas – FENATORG. Durante o evento foi votado uma moção de moção de agradecimento pelo empenho particular do Neguerê, vice-presidente da 22ª. Família da Força Jovem do Vasco – Distrito Federal, em favor deste movimento, sendo também acatado pela Confederação.
Em outubro de 2010, um grupo formado inicialmente de torcedores universitários no Rio de Janeiro insatisfeito com o fechamento do Maracanã e com as mudanças prometidas nos estádios, cria ANT (Associação Nacional dos Torcedores) e rapidamente centenas de pessoas de todo o Brasil começam a participar e criar filiais em seus estados. A meta do coletivo é definida em seus  sete pontos principais:
1. A exclusão do povo brasileiro dos estádios de futebol, fruto de uma política deliberada de diminuição da capacidade dos estádios, extinção de setores populares dos estádios e aumento abusivo dos ingressos
2. O desrespeito à cultura torcedora com a extinção de áreas populares como a geral, onde há uma tradição própria de participação no espetáculo que inclui assistir ao jogo de pé (o que acontece na Alemanha)
3. A falta de transparência no futebol brasileiro, há décadas nas mãos de dirigentes incompetentes e corruptos; exigimos a democratização das decisões acerca do futebol brasileiro com a participação dos torcedores; por exemplo: as sucessivas e milionárias reformas do Maracanã, feitas sem nenhuma consulta aos torcedores
4. A exploração politiqueira do futebol visando eleger candidatos que aproveitam-se da sua popularidade para conseguirem mandatos contra o povo
5. O controle das tabelas e horários dos campeonatos na mão da rede de televisão que há décadas detém o lucrativo monopólio das transmissões televisivas de jogos de futebol; horário máximo de 20h para o início das partidas durante a semana e 17h aos domingos
6. A retirada de comunidades de trabalhadores em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas
7. A falta de meios de transporte dignos durante os dias de jogos; exigimos esquemas especiais em dias de jogos
O coletivo da ANT faz campanhas nos estádios. No primeiro jogo entre Vasco e Flamengo no Engenhão é feita uma panfletagem divulgando os sete pontos de luta. O jogo é marcado pela extrema tensão entre as torcidas e com a possibilidade de novas mortes como aconteceu no clássico entre Vasco e Fluminense. O público não chegou a 30 mil pagantes. Um dos menores de todos os tempos. Através de um levantamento dos públicos nos jogos entre Vasco e Flamengo pelo Campeonato Brasileiro entre 1971 e 2001. Do total de 29 jogos, em apenas 4 vezes tivemos menos de 30.000 pagantes[4].
Em novembro o presidente da FJV se afasta do seu posto e assume em seu lugar Juninho. Na saída do cargo Claudinho lista uma série de realizações durante a sua gestão: Sede Social, altura da FJV; CNPJ da torcida regularizado; Restabelecemos  a credibilidade da Torcida com o Clube e as autoridades; Novo site modernizado; Bateria reformada; 01 faixa de viagem;-02 faixas oficiais – preta e outra branca; 50 bandeiras; 01 Bandeirão de 90 x 40 (Um dos maiores do Brasil) e uma Boutique em dias de jogos.

Eleito o melhor zagueiro do campeonato brasileiro, o zagueiro Dedé tornou-se o principal jogador do elenco. Ele que quase foi dispensado no início do ano, deu a volta por cima e conquistou o coração dos torcedores que sonhavam com o clube voltar aos melhores anos na década seguinte.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: http://www.guerreirosdoalmirante.com.br consulta em 26 de maio.
[2] Fonte: Jornal Meu Vascão.
[3] Fonte: http://www.uai.com.br.
[4] Fonte: Revista Placar: 1972 – 25.875;   1987 – 28.682;   1994 – 16.992 e  1998 – 21.848.

Vasco Maracanã 2010

Vasco Maracanã 2010


Nenhum comentário:

Postar um comentário