“ão,ão,ão derruba a do anão” e “au,au,au.
Estátua para o Animal”
Torcida provoca Romário e apóia Edmundo
2012 A Despedida do Animal
Edmundo,
Juninho e Felipe. Três
dos maiores jogadores da história do clube protagonizaram as manchetes dos
jornais e a atenção de sua torcida no início do ano de 2012. O atacante fazia
sua partida de despedida depois de abandonar os gramados em 2008. Os meias comandavam
em campo o toque de classe do time que prometia colocar a nau vascaína no
caminho das grandes vitórias. A esperança maior era o título da Taça Libertadores,
mas antes o desafio seria o campeonato carioca e a promessa de acabar com o
jejum de quase dez anos que incomodava bastante
a exigente torcida.
A boa fase do time
motivava o mercado editorial que lançava mais um livro sobre o clube. Desta vez
era uma série de contos escritos pelo sociólogo Mauricio Murad, o músico Nei
Lopes e o professor de literatura da UFF, Luis Maffei. “Contos da Colina. 11 ídolos do
Vasco e sua imensa torcida bem feliz”. A obra conta doze contos, onze com uma
estória em torno de um craque vascaíno, e um em que o protagonista é a torcida
cruz-maltina.
No final de março, em partida amistosa contra o
Barcelona do Equador (mesmo adversário da final da Liberadores em 1998) diante
de 21.000 pessoas, Edmundo fazia sua despedida do clube em que atuou por 241
vezes marcando 137 gols: “A emoção entrou em campo bem antes de a bola rolar.
Com os refletores do estádio apagados, Edmundo entrou em campo sozinho para ser
saudado pelos milhares de torcedores que lotaram São Januário para ver o ídolo
com a camisa do Vasco pela última vez. Número 10 às costas, o ex-atacante não
conseguiu segurar a emoção e precisou enxugar as lágrimas. O próximo passo foi
receber a braçadeira de capitão do apoiador Juninho Pernambucano. Depois de uma
bela queima de fogos, Edmundo ainda recebeu uma placa do presidente Roberto
Dinamite e fez o seu papel de ídolo ao cantar todo o hino vascaíno, que era
tocado no alto-falante do estádio, em coro com os torcedores”.
Na partida que terminou 9 a 1, Edmundo marcou dois
gols mas a emoção final ficou aos 40 minutos do segundo tempo quando o ídolo
foi substituído e saiu dando a volta olímpica pelo estádio que o aplaudiu de
pé.
Um mês depois Felipe, que havia recebido a braçadeira
de Edmundo na sua despedida, faz uma de suas melhores exibições com a camisa do
Vasco e marca dois gols na eliminação do Flamengo na semifinal do campeonato
carioca. Em resposta ao atacante o Flamengo que havia provocado os vascaínos na
véspera da partida decisiva, Felipe deu o troco e afirmou: “as partidas se
ganham dentro de campo e não fora. Agora sim eu posso responder ao Vagner Love.
Ele tem 28 dias para descansar e treinar para o Brasileiro. Realmente se ganha
dentro de campo. Quem ganha a vida com a boca é cantor. Ele tem 28 dias para
aproveitar”.
A decepção da torcida com a derrota para o Botafogo na
final da Taça Rio só não foi maior que a tristeza com a eliminação para o
Corinthians nas quartas-de-finais da Libertadores em São Paulo, em partida que
o clube carioca teve grande atuação e viu o atacante Diego Souza perder um gol
incrível que, certamente, daria a classificação para a próxima fase.
Em 2012 voltou a funcionar a Associação das Torcidas
Organizadas do Vasco (ASTOVAS) depois de ficar mais de uma década desativada.
Faziam parte da entidade os representantes das seguintes torcidas: Força Jovem,
Ira Jovem, Guerreiros do Almirante, Renovascão, União Vascaína, Super Jovem,
Rasta do Vasco, Vasboêmios, Vila Vasqueire, TOV e Pequenos Vascaínos. Tendo
como presidente Claudinho, ex-Presidente
da Força Jovem.
Neste período dois livros importantes aumentariam a
coleção de obras de leitores vascaínos. O trio Alexandre Mesquita, Eugênio Leal
e Jefferson Almeida lançavam “Jogos Memoráveis do Vasco”. Outro livro
importante foi a Torcida Brasileira, organizado por Bernardo Holanda, Victor
Melo e João Malaia. Este último que havia defendido sua tese sobre o Vasco em
2010, escreve sobre as torcidas cariocas entre 1910 e 1940, destacando que nos
anos 1920 tínhamos a maior torcida da cidade.
No meio do ano a principal notícia foi a aprovação da
Lei Geral da Copa (12.663/12) no dia 5 de junho de 2012 sancionado
pela Presidência da República. A lei trazia vários artigos polêmicos como a
liberação do consumo de bebidas alcoólicas dentro dos estádios, isentar a FIFA
dos pagamentos das taxas áreas de restrições comerciais próximas aos locais dos
eventos e a previsão de exclusividade da FIFA da divulgação, publicidade,
realização de propagandas e vendas relacionadas aos eventos futebolísticos,
delimitando um perímetro de 2 (dois) quilômetros dos locais de eventos.
Em 2012 a Câmara Municipal do Rio de Janeiro fazia seu
último tributo ao “Dia do Vasco” em agosto. O evento criado pelo vereador
Roberto Monteiro não teve prosseguimento nos próximos anos. Entre os muito
homenageados estava o guitarrista Celso Blues Boy, falecido neste mês de
agosto, em Santa Catarina.
O estádio do Engenhão passou a ser o principal local
das disputas dos clássicos cariocas com o fechamento do Maracanã entre 2010 e
2013, passando a receber grande atenção da imprensa e dos pesquisadores sobre
sua localização, dificuldade de receber grandes torcidas rivais e o aumento do
preço dos ingressos, além da diminuição do publico. Mas os maiores confrontos
não aconteciam na chegada ao estádio que tinham as partidas escoltadas pelo
GEPE e sim em locais distantes. Os jogos entre Vasco e Flamengo terminam em mortes
em 2012. Várias medidas repressivas são tomadas para impedir novos crimes. No
dia 21 de agosto, pouco depois de um clássico entre os dois clubes, a Força
Jovem do Vasco é punida pelo Ministério Público por seis meses dos estádios
após a conclusão de que a morte de um torcedor do Flamengo em maio tinha sido
executada por membros da facção. Pouco depois
o alvo da perseguição era a Torcida Jovem do Flamengo em função do assassinato no bairro de Tomas Coelho do
torcedor do Vasco Diego Leal, de 30 anos, após uma briga com flamenguistas no
domingo (dia 19), em provável ato de vingança pela morte do torcedor do
Flamengo em maio deste ano. As duas torcidas recebem a mesma punição do
Ministério Público: o afastamento dos estádios por seis meses.
Na mesma semana no jogo entre Vasco e Fluminense no
Engenhão, um grupo de torcedores do tricolor era preso acusado por roubo e
agressão. A reportagem é enfática em defender as medidas punitivas: “no país da
próxima Copa do Mundo, a menos de um ano da Copa das Confederações, surgiu,
enfim, um exemplo de como tratar o banditismo disfarçado de torcida organizada.
Desde domingo, estão no presídio de Bangu 2, na zona oeste do Rio, 21
integrantes da Young Flu. O grupo foi preso pelo Grupamento Especial de
Policiamento em Estádios (Gepe), da Polícia Militar, acusado de espancar e
assaltar dois torcedores do Vasco. A
cadeia é o lugar adequado para quem se disfarça de torcedor para cometer
barbaridades. E, como demonstra o passado recente das brigas de torcida, não
basta banir os criminosos dos estádios. No caso do grupo da Young Flu, a
confusão se deu fora e longe do Engenhão, onde Fluminense e Vasco se
enfrentaram na tarde de sábado. Mas a prisão só poderá ser considerada exemplar
se, em seguida, investigações ajudarem a extirpar o resto do bando - e não só
da Young Flu, mas de outros grupos de delinquentes no Rio e no resto do Brasil”
.
Em contraposição a esta perspectiva o historiador
Marcos Alvito escreve um texto contestando a solução policial para as torcidas
organizadas: “ao invés de perceber a violência das torcidas como fruto de
patologias individuais ou coletivas, é preciso entendê-la como uma linguagem e
se perguntar sobre a razão de, no Brasil, milhares de jovens escolherem
pertencer a estes grupos. Murad relaciona a violência dos estádios (e em torno
deles) com o alto grau de ilegalidade existente”[1]
.
Embora a temporada de 2012 não tenha sido negativa o
final do ano mostrou que a próxima temporada seria complicada. Nas últimas
partidas do ano em São Januário a torcida Guerreiros do Almirante passa a
acompanhar os jogos das sociais e protesta contra o presidente de forma
veemente: “nós estamos TEMPORARIAMENTE NAS SOCIAIS, abandonando nosso
tradicional lugar atrás do gol, para mostrar ao presidente Carlos Roberto de
Oliveira, seus antigos e novos aliados, que SOMOS SÓCIOS E QUEREMOS MUDANÇAS!
As notícias da saída de Juninho para os EUA e a falta de pagamentos dos funcionários provocaram insatifação no clube no mês de dezembro: “cerca de 50 torcedores fizeram novo protesto em São Januário na tarde desta sexta-feira. O grupo voltou a atirar bananas para dentro do clube, além de gritar palavras de ordem contra o presidente Roberto Dinamite e toda a diretoria cruzmaltina. Inflamados, os torcedores exibiam faixas com os dizeres: “Juninho é rei! Obrigado pela verdade” e “O Vasco é gigante! Mete o pé, Bananite!”, enquanto soltavam fogos e gritavam pedindo que a diretoria colocasse em dia os salários de funcionários e jogadores”.
As notícias da saída de Juninho para os EUA e a falta de pagamentos dos funcionários provocaram insatifação no clube no mês de dezembro: “cerca de 50 torcedores fizeram novo protesto em São Januário na tarde desta sexta-feira. O grupo voltou a atirar bananas para dentro do clube, além de gritar palavras de ordem contra o presidente Roberto Dinamite e toda a diretoria cruzmaltina. Inflamados, os torcedores exibiam faixas com os dizeres: “Juninho é rei! Obrigado pela verdade” e “O Vasco é gigante! Mete o pé, Bananite!”, enquanto soltavam fogos e gritavam pedindo que a diretoria colocasse em dia os salários de funcionários e jogadores”.
O fantasma de Eurico Miranda começava a voltar pelo
estádio de São Januário e atormentar o sossego da gestão de Roberto Dinamite.
Nos próximos anos, a disputa política interna voltaria com todo vigor. Para os
vascaínos que começavam a sentir saudade do velho dirigente, o final do ano
vinha com uma artilharia pesada do grupo de Eurico. Era lançado o livro “EURICO
MIRANDA.Todos contra ele”, escrito pelo jornalista Sérgio Frias, com mais de
500 páginas descrevendo as lutas e os embates do dirigente. Rapidamente o livro
esgotou nas livrarias e ganhou sucessivas edições no ano seguinte.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: Alvito, Marcos. Maçaranduba
neles!Torcidas organizadas e policiamento no Brasil. Revista Tempo | Vol.
19 n. 34 , 2012.
Vasco Engenhão 2012 |
Vasco São Januário 2012 |
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