“A Força Jovem do Vasco, perde um símbolo
de dignidade, de respeito”
Francisco
Carlos sobre a morte de Marcelo He-man
2015 O Respeito Voltou. Será?
Ao
retornar a presidência do clube, Eurico Miranda prometia que o passado recente
com dois rebaixamentos deveria ser creditado a Roberto Dinamite e que com ele
seria muito diferente. A conquista do título carioca de 2015, depois de 11 anos
de jejum, chegou a animar parte da torcida que acreditou no lema do “novo”
comandante que afirmava categoricamente: “O Respeito Voltou”.
Quem
também fazia uma campanha para se reerguer era a Força Jovem punida até 2016,
enfrentando inúmeras divisões internas e perseguições de várias ordens. Mas a
tensão entre os grupos opositores permanecia. Um cordão de isolamento, contando
com a proteção de cerca de 10 policiais, separou os diferentes segmentos em um
jogo em São Januário. A dissidência se dava pelo apoio - ou não - ao atual
presidente do clube, Eurico Miranda.
A campanha da imprensa
contra a torcida continuava. Uma notícia de que seus membros foram até São
Januário assistir um treino motivou a preocupação do novo comandante do GEPE, o
Major Silvio Luis, que mandou apurar os fatos pois a torcida estava impedida de
qualquer ato público. Em resposta a agremiação emite uma nota ressaltando: “o
nosso Departamento Jurídico, está trabalhando INCESSANTEMENTE para que o nosso
DIREITO CONSTITUCIONAL de ir e vir, possa voltar a ser LEGÍTIMO! Estamos
trabalhando pela PAZ na torcida e com os nossos sócios atendendo todas as
normas do GEPE e do Ministério Público!”
Mesmo proibida de
freqüentar os estádios os integrantes da Força Jovem participaram de um
confronto no bairro do Méier contra torcedores do Fluminense em fevereiro,
levando a polícia a prender 118 pessoas.
No início de maio
finalmente o clube voltava a vencer um campeonato carioca. Depois de eliminar o
Flamengo, o Vasco vence o Botafogo na final com destaque para o imenso mosaico
da torcida no Maracanã escrito em todo o Setor Sul “o Maracanã é nosso desde
50”. Era uma resposta à diretoria do Fluminense que insistia em ficar do lado
direito após a reabertura do Maracanã em 2013.
Nesta época, Bernardo
Holanda e Rosana Teixeira lançavam o livro “A voz da arquibancada. Narrativas
de lideranças da Federação de Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro (FTORJ)”. O
trabalho era o resultado da formação de um banco de entrevistas de História Oral
sobre as torcidas de futebol do Rio de Janeiro. Os
relatos das lideranças da FTORJ foram gravados entre julho de 2010 e janeiro de
2014, no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil,
o CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas. A
Federação contava com a adesão de dez associações, sendo duas do Vasco: Força
Jovem e a Ira.
Com apoio de diversos
setores da sociedade foi organizado na Fundição Progresso (RJ), o Primeiro
Encontro de Conscientização pela Paz nos Estádios, organizado pela ANATORG que
contou a presença massiva de lideranças das famílias da FJV. Um dos
organizadores foi Felipe Lopes (USP - Universidade de São Paulo) que realizava
um estudo sobre o comportamento dos torcedores organizados em todo mundo.
Em junho veio a triste
notícia do falecimento precoce do ex-presidente da Força Jovem, Marcelo He-Man,
aos 39 anos, vítima de câncer. O torcedor recebe uma justa homenagem de
diversas torcidas do Vasco através de seus sites. Eis alguns relatos: GDA, “uma
das maiores referências na arquibancada vascaína”; Força Independente,
“INESQUECÍVEL PRESIDENTE”; Pequenos Vascaínos, “Um mito, um ídolo, o maior presidente
da história da Força Jovem”; Ira Jovem, “íntegro, inteligente e que sempre
vislumbrava novos e bons caminhos” e a própria Força Jovem: “Se houve na
história das Torcida Organizadas, alguma Torcida independente, essa foi a FORÇA
JOVEM DE MARCELO HE-MAN”.
No dia 26 de Junho de 2015
o desembargador Mauro Pereira Martins organiza um evento chamado “I Encontro
Nacional pela Paz no Futebol”, realizado no Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro, com a presença do GEPE e de diversas torcidas organizadas do Rio de
Janeiro.
Imbuídos no espírito de
união e amizade de tempos passados o grupo dos “Dinossauros” intermediou uma
reunião entre os dois grupos da FJV para tentar extinguir de vez as desavenças
que se arrastaram nos últimos anos. Tudo parecia resolvido e apaziguado mas
algumas semanas depois os “Dinossauros” emitem uma nota de desagravo com a
quebra das promessas e a continuação dos conflitos pessoais. Daí “esclarecer a
todas as Famílias que tentamos, mais não querem ajuda,
estão cegos pelo poder a ponto de faltar com a palavra o bem mais
precioso de um homem. E isso é inadmissível!!!!
Em julho a discussão que
retornou no futebol carioca era a polêmica sobre o local das torcidas no
Maracanã no clássico entre Vasco e Fluminense. Como o tricolor fazia questão de
ficar no local tradicional dos vascaínos (a direita da tribuna – SETOR SUL), a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tomou uma medida drástica e decretou
que apenas uma torcida comparecesse ao duelo, no caso, a torcida do Fluminense.
Neste ano a polêmica começou no
campeonato carioca que teve o jogo transferido do Maracanã para o Engenhão.
Isto tudo contribuiu para a retomada da polêmica de clássicos com torcida
única, seguindo o que já havia acontecido em Minas Gerais e no Paraná.
No fim do ano (outubro) é
feita uma reunião entre membros da situação e da oposição e fica estabelecido a
formação de um Conselho composto por 4 diretores da situação da torcida e 4
diretores da antiga oposição, que irão gerir este Grêmio até março de 2017
quando realizariam novas eleições. O motivo do acordo entre os grupos
dissidentes foi uma reunião entre o Movimento Tudo Mudou, o Ministério Público
e o Grupamento Especial de Polícia em Estádios. Foi relatado pela promotora de
que o maior problema e preocupação atual das autoridades do Estado do Rio
Janeiro não eram as brigas de torcidas de clubes distintos, mas sim pela guerra
interna na Força Jovem nos eventos do C. R. Vasco da Gama. Além disso foi
cogitado também um plano de prisão em massa a ser efetuado pelas Polícias
Militar e Civil, através do Setor de Inteligência, sobre acusações de crimes
inafiançáveis como formação de quadrilha e tentativa de homicídio
Antes da última partida do
campeonato brasileiro, a Torcida União Vascaína escreve uma carta para o
atacante Nenê, o principal jogador do time. Ele lê para o time pouco antes de
entrar no gramado na partida decisiva para evitar um novo rebaixamento: “Vocês
entrarão em campo, representando mais de 20 milhões de torcedores, e a
esperança de todo esse povo, está nos pés e na atitude de cada um de vocês,
pedimos seriedade e a responsabilidade de todos vocês, e vocês sabem que
compramos qualquer briga em favor de vocês, e o apoio por parte da torcida do
Vasco não vai faltar no Couto Pereira. Essa que é a última batalha de uma
guerra que será vencida por todos nós, vocês no campo, e nós os apoiando da
arquibancada”.
Após a derrota para o
Coritiba e o terceiro rebaixamento em menos de 10 anos, o presidente Eurico
Miranda se apresenta de forma humilde, uma cena rara em sua biografia, e assume
a inteira responsabilidade pela pífia campanha do time.
Vasco 2015 |
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