quarta-feira, 24 de agosto de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1925 VOLTAM AS BOAS RENDAS

“A torcida do Vasco incontestavelmente a maior que o Rio possui”
                  Jornal A Noite

1925                  Voltam as boas rendas

O Vasco da Gama ingressa na AMEA em 1925 após o convite dos próprios dirigentes desta entidade carioca de futebol preocupados ao constatarem que, comparando os campeonatos de 1924 da AMEA e o da LMDT, a renda dos jogos da LMTD em 1924 foi maior (com a presença da torcida do Vasco) que a renda dos jogos da AMEA. 
O comparecimento em peso da torcida vascaína nos jogos alertou os clubes tradicionais da AMEA, que estavam ameaçados pelo interesse crescente do público nos jogos mais emocionantes na liga que reunia os melhores jogadores. Assim, “de nada adiantaria a AMEA o apoio oficial da CBD, se o público nos estádios era bem inferior àquele que assistia aos jogos da LMTD. Se a curto prazo, a AMEA parece vitoriosa, nota-se que o profissionalismo e a profissionalização do futebol ocorreram de forma irreversível” (CALDAS,1990,p.88). Seria imprescindível para o sucesso do campeonato do ano de 1925 a inclusão do Vasco para a garantia do crescimento da nova liga.
Os números apresentados pelo pesquisador João Casquinha comparando os campeonatos da AMEA de 1924 e 1925, revelam um aumento impressionante na arrecadação de todos os clubes e a volta dos estádios cheios, especialmente nos jogos em que o Vasco participava. Mesmo sem ser o campeão da temporada, o Vasco foi o clube que levou o maior número de torcedores aos estádios. As rendas dos jogos do Vasco representavam metade das rendas de todos os outros jogos dos outros clubes.
No entanto, a aceitação do clube é feita com a condição de que o Vasco não poderia “jogar em casa” (no campo da rua Moraes e Silva[1]) e a agremiação teria que construir um estádio condizente com o nível dos clubes da AMEA, sendo este um dos argumentos para a exclusão do clube do campeonato de 1924 da AMEA, em vez de reconhecer que os motivos principais estavam no racismo e na preocupação elitista dos dirigentes “parecendo, esta, mais uma das estratégias ad hoc para impedir a participação do Vasco no campeonato de 1924” (SILVA e VOTRE, 2006, p.50). Para Mario Filho (2003, p.79) isto fez com que a comunidade lusitana se enchesse de brios diante do argumento de que o Vasco não era clube a altura dos demais por não possuir um estádio em condições de representar clubes da primeira divisão do principal campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro. Foi então que “do campinho da rua Moraes e Silva, o Vasco deu um salto para São Januário (...) hoje o Maracanã não deixa ver direito o esforço gigantesco”.
            No primeiro clássico do Vasco no campo esportivo das Laranjeiras (o maior estádio da época), o grande público novamente estava de volta com o reconhecimento da imprensa nos dias seguintes do acerto dos dirigentes da AMEA em aceitar o Vasco e sua torcida no seu campeonato. Um recorde de renda foi registrado e as inúmeras fotografias dos diferentes locais da praça esportiva demonstram o que todos sabiam: a torcida do Vasco era a maior torcida do futebol carioca. Sua presença era imprescindível para o sucesso econômico de qualquer campeonato. “O grandioso Stadium da Rua Guanabara foi ocupado, ontem por uma assistência talvez superior a do memorável encontro que se efetuou entre Vasco x Flamengo, no mesmo local, quando ambos competiram ainda sob a direção da Liga Metropolitana. A torcida do Vasco, incontestavelmente é a maior que o Rio possui, não deixa um único lugar desocupado”[2].
            O entusiasmo da torcida do Vasco só era comparável com o sucesso do time do Paulistano que voltava ao Brasil depois de dois meses numa excursão vitoriosa à Europa. Na volta ao país, o clube paulista é recebido de forma surpeendente pelos cariocas, “os jogadores são levados por um cortejo de carros que percorre a Avenida Rio Branco. Nas janelas, lenços e bandeiras brasileiras são desfraldadas. Nas calçadas e ruas, palmas gritos e hurras se misturam com o buzinaço de carros” (Duarte, 2012, p.171). A festa se prolonga até o Palácio do Catete, onde o presidente da República, Arthur Bernardes, recebe os atletas.
            Fazendo ótima campanha em todo o campeonato carioca o Vasco conseguia aumentar o número de sócios e torcedores. Em qualquer estádio da cidade as rendas eram sempre altas quando os “Camisas Negras” estavam em campo. Tanto em General Severiano, nas Laranjeiras, na rua Payssandu ou no estádio do Andaray, a presença maciça dos vascaínos intimidava os adversários e fazia aumentar a identidade vascaína. Mas faltava o proprio estádio para que este orgulho fosse concretizado. Durante todo o ano a cobrança feita pelos outros clubes para que o Vasco demonstrasse sua grandeza com a construção de um estádio causou enorme interesse em cumprir aquela exigência e dirimir qualquer dúvida sobre a pujança do clube.
            Além disso era preciso reagir às provocações das torcidas rivais que perturbavam os jogadores vascaínos, como o goleiro Nelson Conceição, uma das maiores vítimas do racismo naqueles anos. Em algumas ocasiões para derrotar o Vasco, as torcidas da zona sul tinham um papel fundamental se posicionando atrás do gol e fazendo uma guerra de nervos com o goleiro rival. Valia usar expedientes que eram pouco recomendados para a época, onde o palavrão era um recurso vedado de ser pronunciado nas arquibancadas repletas de boas famílias e ao lado de moças tão recatadas. Daí se posicionarem neste local estratégico do campo. Mario Filho (2003, p.140-141) relata como os sócios de Flamengo e Fluminense aproveitavam os privilégios de ficaram atrás do gol vascaíno em seus estádios nos dois tempos, impedindo os vascaínos de protegeram o seu goleiro: “com a torcida do Fluminense atrás do gol azucrinando-lhe os ouvidos” ou em jogos no estádio do Flamengo onde seus torcedores “atiravam pedrinhas nas costas de Nelson Conceição na hora que ele ia fazer uma defesa”.
Nestes estádios acanhados, as rivalidades entre os torcedores invariavelmente terminavam em brigas. Naquela época as bengalas eram muito utilizadas como instrumentos de ataque e defesa nas pancadarias entre as torcidas. Mas a partir do final do ano a polícia tinha ordens de impedir a entrada do público portando suas bengalas.
      O que não queria acabar no futebol carioca era o preconceito racial. Uma prova da continuação do racismo foi a escolha da seleção carioca para disputar o campeonato brasileiro de seleções, com o predomínio absoluto de jogadores brancos de Flamengo e Fluminense, irritando os torcedores rivais que apelidaram aquele time de seleção “Fla-flu”.
            Entretanto, em todo o ano de 1925 crescia o número de pessoas que se associavam ao Vasco e davam demonstrações de querer ajudar a agremiação a ser a mais importante da cidade. No início do ano seguinte o clube iniciaria uma campanha pelos jornais para reunir 10 mil sócios que manteriam todas as despesas necessária para uma obra inédita de mutirão de torcedores em prol  de criação de uma praça esportiva de grandes dimensões sem o apoio do Estado.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] O Vasco quando teve o mando de campo disputou suas partida no campo do Andaraí, que depois se transformou no estádio do América Futebol Clube e atualmente se tornou o Shopping Iguatemi.
[2] Fonte: Jornal A Noite 18 de Maio de 1925.

Vasco Revista O Malho 1925

Vasco Revista Careta 1925


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