quarta-feira, 31 de agosto de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1927 UMA CASA BRASILEIRA, COM CERTEZA

   “Eis o estádio que diziam nos faltar para sermos grandes”
Raul Campos – Presidente do Clube

1927               Uma casa brasileira, com certeza

Concluído em menos de um ano era inaugurado o estádio do Vasco da Gama em 21 de abril de 1927. Logo ficou conhecido como estádio de São Januário, em função de a rua ter o mesmo nome e de ser o local de passagem do Bonde de número 53.
            Para o jogo inaugural marcado para uma data estratégica que celebrava a morte de Tiradentes, “herói da inconfidência mineira”, “mártir da independência do Brasil”, a data expressava o interesse do clube em se firmar como a principal agremiação esportiva da cidade, garantindo traços da nacionalidade e mantendo um pé na tradição lusitana. Contra todos aqueles que afirmavam a origem estrangeira do clube de São Januário, a reação dos sócios e simpatizantes do novo clube ganhava cada vez mais simpatia da população carioca.
            Durante a inauguração o próprio presidente do país, Washington Luis, o mesmo que negou permissão de importação do cimento da Bélgica, talvez se penitenciando pelo erro de não acreditar na força de vontade de um grupo de abnegados, apareceu durante a festa. Coube ao aviador português Sarmento de Beires, realizador da travessia Lisboa-Rio cortar a fita simbólica. Além de diversas personalidades da sociedade carioca.
            O jogo inaugural foi contra um clube de São Paulo (Santos[1]), dando uma dimensão nacional para o evento que se realizava, assim como no ano seguinte com a inauguração dos refletores (o primeiro estádio do Brasil a possuir aquela novidade), na partida o convidado foi um clube do Uruguai (bicampeão Olímpico na época), o Wenderers.
            Nos próximos anos o campo esportivo de São Januário, com capacidade para 40.000 espectadores, será o maior estádio de futebol do Brasil[2] e da América do Sul (o estádio do Centenário no Uruguai será construído em 1930). E fonte de identidade coletiva para os torcedores vascaínos, interessados em construir uma representação coletiva positiva de seu clube em função dos preconceitos das torcidas adversárias[3] (SILVA, 2001). São Januário é um marco no futebol carioca e brasileiro ao simbolizar um monumento de luta contra a discriminação, ao transformar um palco coletivo de exibição esportiva num lugar que encarnava as disputas simbólicas que se travavam em torno do futebol e da sociedade brasileira no final dos anos 1920. Uma resposta clara contra seus adversários, especialmente contra os clubes da zona sul, como o Fluminense, que possuía o maior estádio do Rio de Janeiro, construído em 1919, para o então campeonato sul-americano disputado naquele ano. Entretanto sua construção teria o apoio do governo e não teria a contribuição direta dos torcedores, como foi feita pelos torcedores vascaínos.
Logo após a inauguração do estádio de São Januário começava o campeonato carioca e a campanha do Vasco vinha bem até as duas últimas rodadas quando os cruzmaltinos perdem para Flamengo e Fluminense. Neste ano foi promovida uma campanha do Jornal do Brasil e uma empresa de água mineral (Salutaris) para que os torcedores indicassem o clube “mais querido do Brasil”. Quando saiu o resultado final veio a surpresa com a vitória do Flamengo. Tempos depois a farsa foi desvendada. Mário Filho no livro Histórias do Flamengo, lançado em 1945, para comemorar os 50 anos de fundação do clube, revela algo que muitos já desconfiavam. Vários torcedores do Flamengo passavam pelos bares e comércios da cidade arrecadando os cupons do Vasco e terminavam jogando fora o material arrecadado.
O estádio de São Januário ainda viveu outro grande momento no final de 1927 quando serviu de palco no confronto entre paulistas e cariocas, pelo campeonato brasileiro de seleções. Outra vez com a presença do Presidente da República, Washington Luís, que “estava encantado, nunca tinha recebido tantas palmas na vida dele. Cinqüenta mil pessoas, comprimidas nas arquibancadas, nas gerais, de pé, batendo palmas para o Presidente da República. Era gostoso receber uma ovação daquelas, nada preparado, tudo espontâneo. Washington Luís descobria, ao mesmo tempo, a força e a beleza do esporte” (Mario Filho, 2003, p.159). Tudo era uma festa. Só não se contava com a reação dos jogadores paulistas que se retiraram de campo após a marcação de um pênalti a favor dos cariocas. Apesar do pedido do presidente para os paulistas retornarem. O que acabou não acontecendo.
A reação dos atletas não surpreendeu o prefeito do Distrito Federal, Antônio Prado Junior, que também era o presidente do Paulistano e da Liga Amadora de Futebol (LAF - criada no final de 1925), entidade que disputava com a APEA a hegemonia do futebol em São Paulo. O dirigente era um ferrenho defensor do amadorismo e estava em litígio com os dirigentes e atletas que representavam os paulistas (todos da APEA). Como reação a popularização do futebol, ele foi um dos maiores defensores da extinção do departamento de futebol do Paulistano em 1929. Em todo o período de existência, o Paulistano jamais enfrentou o Vasco.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] O Santos era conhecido neste ano como o clube de grandes atacantes. O que pode ser confirmado pelo resultado da partida: Santos 5 X 3 Vasco.
[2] De acordo com (MURAD, 2007) para o TRAVELL CHANNEL, “São Januário é o sétimo melhor estádio para se assistir a uma partida de futebol”(p.33).
[3] Cf. SILVA, Silvio Ricardo da. Sua torcida é bem feliz ... da relação do torcedor com o clube. Tese de doutorado (em Educação Física), Faculdade de Educação Física da Unicamp, Campinas, 2001.

Vasco Revista Vida Doméstica 1927

Vasco Jornal do Brasil 1927

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