“para o torcedor, aderir a um clube é aderir a sua
História”
Hilario Franco - Historiador
1936 Feitiço em São Januário
O
desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro se afirmava como um dos momentos
mais marcantes do carnaval carioca nos anos 1930. A novidade este ano seria a
apresentação inicial em São Januário, antecipando o desfile no lugar oficial. O
samba e o futebol se aproximavam cada vez mais e o clube de São Januário abria
suas portas para os foliões. “O quadro do Vasco da Gama vai enfrentar o scratch da
Saúde. O Desfile das Escolas de Samba para apresentação das marchas para o
Carnaval de 1936. Uma festa soberba será realizada hoje, no Estádio de São
Januário, em homenagem ao Jubileu Esportivo do Caboclo e Provenzano. As festas
terão início as 19hs e 30 minutos, sendo abertos os portões as 10hs. (...) A
grande novidade da noite será o desfile das Escolas de Samba, que apresentarão
as últimas novidades para o Carnaval de 1936. As Escolas inscritas no grande
certame são as mais importantes da Capital Federal, a saber: Portela,
Mangueira, Unidos da Tijuca, Lira do Amor e Paz e Amor. COMO SE DARÁ O DESFILE.
Após o encontro de futebol, os porta estandartes das Escolas representadas irão
a Tribuna de Honra, onde serão cumprimentados pelas altas autoridades
presentes” [1].
Para o campeonato carioca a grande
atração do Vasco era a contratação do veterano Feitiço, um dos maiores
atacantes do futebol paulista, que jogaria em um clube carioca pela primeira
vez. Havia uma certa apreensão dos torcedores vascaínos com relação ao estado
físico do atleta. Todos em São Januário não queriam servir de gozação para os
rivais como foi com o Flamengo em 1935. Ao contratar o veterano Friedenreich em
1935, o atacante jogou apenas 4 partidas e não marcou nenhum gol.Em todos os
clubes que defendeu, o atacante havia feito vários gols, mas no rubro-negro
carioca, ele passou em branco.
Fora
de campo a atração era a faixa “Com o Vasco onde estiver o Vasco”, que Polar e
seus amigos levavam para os estádios. A admiração de Polar na imprensa carioca
era uma realidade nítida, a ponto de seu aniversário ser nota em jornal: “Dono
de tantas simpatias no seio do Vasco da Gama, quanto desfruta de popularidade
em nossa “urbs”, Polar é uma das figuras que mais se impõem no seio do grande
grêmio da Cruz de Malta. Dedicado, a frente sempre das iniciativas que visam o
crescimento da admiração em verdade votada ao Vasco. Afonso Silva, já é uma
tradição entre os vascaínos. E por isso que a data de hoje é significativa:
registra a passagem do aniversário do popular “speaker”, dono de uma modalidade de propaganda toda original
e sobretudo, fervoroso cruzmaltino” [2].
Eram tempos de divisão do futebol carioca com dois
campeonatos disputados pelos principais clubes. De um lado, Vasco e Botafogo
pela Federação Metropolitana de Desportes (FMD), de outro, Flamengo, América e
Fluminense pela Liga Carioca de Futebol (LCF). Para os vascaínos uma conquista
significava impedir a consagração dos alvinegros que almejavam o
pentacampeonato (32-33-34-35 e 36). O ataque alvinegro intimidava com Russinho
(ex-ídolo do Vasco), Leônidas da Silva e Carvalho Leite (artilheiro de vários
campeonatos) e Patesko. Curiosamente a final do campeonato carioca não teve a
presença do Botafogo que foi suplantado pela Madureira, equipe do subúrbio
carioca que faria a final com o Vasco numa melhor de três partidas, sendo que a
última só foi disputada em 14 de março de 1937. As duas primeiras, disputadas
em dezembro, revelaram um equilíbro de forças e terminaram com uma vitória para
cada lado.
Foi o último título do Vasco na década de 1930 e
também de uma geração comandada pelo inglês Harry Welfare, ex-jogador do
Fluminense e treinador do Vasco durante os anos de 1927 até 1937 e de 1940 ate
1943. Sendo vencedor em 1929, 1934 e 1936. Nestes anos o epíteto de “campeão de
TERRA e MAR” nunca fez tanto sentido. No remo o clube conseguiu o domínio
absoluto, entre 1929 e 1939, o Vasco só não venceu em 1933.
No primeiro turno a surpresa foi o São Cristóvão que
disputa a final com o Vasco. O clube para os padrões da época não pedia ser
considerado uma agremiação de menor expressão pois havia realizado alguns bons
campeonato, já tinha sido campeão em 1926, revelado grandes jogadores e
constituía um elenco forte com destaque para Afonsinho, Carreiro e Roberto,
integrantes da futura seleção brasileira que disputaria o Sul-Americano na
Argentina no final de 1936 e início de 1937 e o campeonato mundial na França em
1938. Além disso tinha o seu próprio estádio na rua Figueira de Mello e uma
fiel torcida.
Com relação ao rivais da dupla Fla-Flu que disputavam
o campeonato por outra liga, enquanto o tricolor montava seu elenco com a base
da seleção paulista de 1935, o rival se reforçava com ex-ídolos vascaínos. Ao
longo deste ano forma disputados 10 partidas entre eles. Estes jogos passaram a
ter uma motivação maior quando o jornalista Mario Filho comprou o Jornal dos
Sports em maio de 1936, com apoio financeiro dos presidentes do Fluminense
(Arnaldo Guinle) e do Flamengo (Bastos Padilha). Para Flávio Costa,
ex-treinador de Vasco, Flamengo e Seleção Brasileira, quando Bastos Padilha era
presidente o Jornal dos Sports privilegiava o clube na cobertura diária
(RIBEIRO, 2010).
Um outro personagem marcante do futebol daqueles anos
faria sua estreia na narração esportiva: Ari Barroso, fez sua primeira narração
pela Radio Cruzeiro do Sul no último jogo da final do Fla-Flu de 1936. No ano
seguinte Ari se transferiria para a Rádio Tupi e viraria uma lenda esportiva
com sua locução apaixonada pelo rubro-negro.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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