“Tudo pelo Vasco”
Faixa da torcida
1939 Tudo pela
vitória dos “Camisas Negras”
A presença do futebol
argentino e uruguaio no Brasil foi constante nesta época seja através dos
amistosos entre os clubes, seja através das partidas entre as seleções. No
começo de 1939 era disputada a Copa Roca entre o Brasil e a Argentina em São
Januário. O resultado de 5 a 1 para os argentinos provoca uma reação que durará
por vários anos na década seguinte. A conseqüência imediata foi o deslumbre da
imprensa esportiva com o futebol argentino considerado muito superior ao
brasileiro no aspecto tático.
Esta foi a primeira vez que o Brasil
foi derrotado em casa, além de ser a maior goleada sofrida até então para o
rival. O jogo contou com a presença de mais de 50.000 pessoas e um recorde de
arrecadação: 325 contos.
Uma semana depois novamente as duas seleções se enfrentavam em
São Januário. O Brasil vence por 3 a 2, sendo que no último gol brasileiro os
argentinos não aceitaram a marcação da penalidade e se retiraram de campo. Para
sair do estádio os argentinos levaram uma hora depois de terminada a partida mesmo
assim os torcedores brasileiros ameaçavam os argentinos na saída do ônibus e
foram ofendidos no hotel em que se concentravam. O desfecho da partida teve
sérias conseqüências para o futebol dos dois países. Vasco e Botafogo que já
haviam sido convidados para o Campeonato Internacional Noturno Rioplatense
foram suspensos e vários amistosos de clubes argentinos no Brasil foram
cancelados.
Restava aos cariocas pensar no campeonato carioca. Para a
torcida vascaína começam cada vez mais a aparecer os nomes de João de Luca e
Olympio Pio, e o torcedor-símbolo Polar se afastava em virtude de sua doença.
Os dois líderes convocam a torcida pelos jornais: “estão
desenvolvendo grande atividade para arregimentar a grande Torcida Vascaína que
comparecerá ao campo da Rua Figueira de Mello, domingo próximo. Os marechais da
Torcida do Vasco querem no grande match com o São Cristóvão, levar muito bem
organizada a falange de torcedores. As gaitas, os clarins, etc., já foram
encomendados para incentivar a turma da camisa negra a vencer um dos seus mais
fortes adversários. Para hoje a noite, está marcada importante reunião no
quartel general da torcida”[1].
A organização era cada mais intensa e
exigia uma dedicação muito grande dos líderes. O principal desafio era
organizar as caravanas pela cidade. O ano de 1939 foi um ano repleto de viagens.
Em cada deslocamento, dezenas e/ou centenas de torcedores participavam de uma
nova forma de acompanhar o time, com a saída de casa com várias horas de
antecedência para se encontrarem em um lugar marcado com seus corregilionários e
daí partirem para o estádio: “Para o sul, norte e subúrbios partirão os
torcedores para aplaudir os seus favoritos. Os Clubes apresentam-se na
penúltima etapa, com capricho e abundancia de detalhes. Esperam todos o
incentivo da Torcida predileta, querem ser assistidos pelos estímulos dos seus
adeptos e por isto, movimentam-se na organização de caravanas. Formidável a
Cooperação da Torcida Vascaína. Sob as ordens de Olympio Pio Santos e João de
Lucca será levada ao Campo do Flamengo uma das maiores caravanas até aqui
organizadas para um match de campeonato. Mais de 12 ônibus da Viação Cruz de
Malta, a partir das 12.30, deixarão o Largo da Carioca com a Grande Caravana do
Vasco. Pio dos Santos, disse-nos que a caravana levará clarins, bombas e
bandeiras, para uma das mais ruidosas demonstrações de torcedores entre nós. Com
esta fama e este ardor, será mesmo Vasco 3 x 2, concluiu o terrível Chefe da
Torcida do Vasco. Foram convocados todos os associados e adeptos para irem a
Bangu, formando grande caravana com ônibus e automóveis” [2].
O local mais distante das caravanas era
em Bangu, local de difícil acesso para os moradores de regiões da Zona Sul ou
Leopoldina. O sacrifício da viagem era compensado pela animação dos componentes
que levavam instrumentos musicais nas viagens: “ A “Legião Sempre Firme” do C. R. Vasco da Gama está
seguindo o exemplo dos grandes Clubes Universitários Norte Americanos, que
se deslocam de suas sedes levando
enormes caravanas para os campos esportivos. No próximo domingo, o grande Clube
de São Januário irá jogar em Bangu e a “Legião Sempre Firme” já está preparando
vários regimentos de torcedores que seguirão em ônibus para o longínquo Campo
da Rua Ferrer. Assim sendo, no próximo domingo a rapaziada alegre do C. R.
Vasco da Gama seguirá em ônibus que partirão do Largo da Carioca, as 13 horas
em ponto e regressarão a Cidade 10 minutos após o termino da peleja. As
inscrições serão feitas diariamente na Rua Uruguaiana 97, até o dia 06. Os fans
Vascaínos terão assim uma viagem com moda e alegre, pois nos ônibus não
faltarão instrumentos para animar a rapaziada durante o percurso” [3].
Quase 40 anos depois o jornalista Zé de
São Januário, escrevendo para o Jornal dos Sports relembra a história das
torcidas organizadas e compara as caravanas dos anos 1970 (era a época da
“Invasão Corintiana”) com as caravanas dos anos 1930: “As primeiras
caravanas de torcedores de futebol foram organizadas pelo Vasco da Gama, com o
aluguel das grandes composições dos trens da Central do Brasil, para jogos em
São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Petrópolis”. As Torcidas Organizadas,
na época, exigiam dos torcedores o uso de gravata e colarinho e roupas de
passeio (...). Essa mesma caravana, em nossos dias, usaria calças desbotadas,
camisas de carnaval e chinelo ‘cara-de-gato’. Há 40 anos passados, não era
qualquer companhia que alugava ônibus para clubes desportivos. Há 40 anos
passados, o torcedor trajava-se com esmero, pois não desejava rasgar a roupa de
ninguém, ou sujá-la, arremessando garrafas, latas e outros detritos” [4].
O entusiasmo da torcida não era correspondido
plenamente em campo, apesar do clube possuir uma famosa linha média reunindo os
“Três Mosqueteiros” (Figliola, Zarzur e Dacunto), terminava-se mais um ano sem
uma conquista importante.
Restava aos vascaínos continuar vibrando com o Remo, o
esporte que mais deu títulos para o Vasco nos anos 1930. Em 1939 conquistávamos
pela 6 vez consecutiva mais um campeonato. Nas regatas os torcedores poderiam
cantar à vontade suas canções preferidas. Entre elas, a marchinha “Entra,
Vasco” (Alberto Ribeiro / Antônio Almeida),
cantada por Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda e grande sucesso no carnaval
daquele ano.
Que viessem os anos 1940!!!!
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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