quarta-feira, 12 de outubro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1939 TUDO PELA VITÓRIA DOS CAMISAS NEGRAS

“Tudo  pelo Vasco” 
Faixa da torcida

1939            Tudo pela vitória dos “Camisas Negras”

        A presença do futebol argentino e uruguaio no Brasil foi constante nesta época seja através dos amistosos entre os clubes, seja através das partidas entre as seleções. No começo de 1939 era disputada a Copa Roca entre o Brasil e a Argentina em São Januário. O resultado de 5 a 1 para os argentinos provoca uma reação que durará por vários anos na década seguinte. A conseqüência imediata foi o deslumbre da imprensa esportiva com o futebol argentino considerado muito superior ao brasileiro no aspecto tático.
            Esta foi a primeira vez que o Brasil foi derrotado em casa, além de ser a maior goleada sofrida até então para o rival. O jogo contou com a presença de mais de 50.000 pessoas e um recorde de arrecadação: 325 contos.
Uma semana depois novamente as duas seleções se enfrentavam em São Januário. O Brasil vence por 3 a 2, sendo que no último gol brasileiro os argentinos não aceitaram a marcação da penalidade e se retiraram de campo. Para sair do estádio os argentinos levaram uma hora depois de terminada a partida mesmo assim os torcedores brasileiros ameaçavam os argentinos na saída do ônibus e foram ofendidos no hotel em que se concentravam. O desfecho da partida teve sérias conseqüências para o futebol dos dois países. Vasco e Botafogo que já haviam sido convidados para o Campeonato Internacional Noturno Rioplatense foram suspensos e vários amistosos de clubes argentinos no Brasil foram cancelados.
Restava aos cariocas pensar no campeonato carioca. Para a torcida vascaína começam cada vez mais a aparecer os nomes de João de Luca e Olympio Pio, e o torcedor-símbolo Polar se afastava em virtude de sua doença. Os dois líderes convocam a torcida pelos jornais: “estão desenvolvendo grande atividade para arregimentar a grande Torcida Vascaína que comparecerá ao campo da Rua Figueira de Mello, domingo próximo. Os marechais da Torcida do Vasco querem no grande match com o São Cristóvão, levar muito bem organizada a falange de torcedores. As gaitas, os clarins, etc., já foram encomendados para incentivar a turma da camisa negra a vencer um dos seus mais fortes adversários. Para hoje a noite, está marcada importante reunião no quartel general da torcida”[1].
A organização era cada mais intensa e exigia uma dedicação muito grande dos líderes. O principal desafio era organizar as caravanas pela cidade. O ano de 1939 foi um ano repleto de viagens. Em cada deslocamento, dezenas e/ou centenas de torcedores participavam de uma nova forma de acompanhar o time, com a saída de casa com várias horas de antecedência para se encontrarem em um lugar marcado com seus corregilionários e daí partirem para o estádio: “Para o sul, norte e subúrbios partirão os torcedores para aplaudir os seus favoritos. Os Clubes apresentam-se na penúltima etapa, com capricho e abundancia de detalhes. Esperam todos o incentivo da Torcida predileta, querem ser assistidos pelos estímulos dos seus adeptos e por isto, movimentam-se na organização de caravanas. Formidável a Cooperação da Torcida Vascaína. Sob as ordens de Olympio Pio Santos e João de Lucca será levada ao Campo do Flamengo uma das maiores caravanas até aqui organizadas para um match de campeonato. Mais de 12 ônibus da Viação Cruz de Malta, a partir das 12.30, deixarão o Largo da Carioca com a Grande Caravana do Vasco. Pio dos Santos, disse-nos que a caravana levará clarins, bombas e bandeiras, para uma das mais ruidosas demonstrações de torcedores entre nós. Com esta fama e este ardor, será mesmo Vasco 3 x 2, concluiu o terrível Chefe da Torcida do Vasco. Foram convocados todos os associados e adeptos para irem a Bangu, formando grande caravana com ônibus e automóveis” [2].
O local mais distante das caravanas era em Bangu, local de difícil acesso para os moradores de regiões da Zona Sul ou Leopoldina. O sacrifício da viagem era compensado pela animação dos componentes que levavam instrumentos musicais nas viagens: “ A “Legião Sempre Firme” do C. R. Vasco da Gama está seguindo o exemplo dos grandes Clubes Universitários Norte Americanos, que se  deslocam de suas sedes levando enormes caravanas para os campos esportivos. No próximo domingo, o grande Clube de São Januário irá jogar em Bangu e a “Legião Sempre Firme” já está preparando vários regimentos de torcedores que seguirão em ônibus para o longínquo Campo da Rua Ferrer. Assim sendo, no próximo domingo a rapaziada alegre do C. R. Vasco da Gama seguirá em ônibus que partirão do Largo da Carioca, as 13 horas em ponto e regressarão a Cidade 10 minutos após o termino da peleja. As inscrições serão feitas diariamente na Rua Uruguaiana 97, até o dia 06. Os fans Vascaínos terão assim uma viagem com moda e alegre, pois nos ônibus não faltarão instrumentos para animar a rapaziada durante o percurso” [3].
Quase 40 anos depois o jornalista Zé de São Januário, escrevendo para o Jornal dos Sports relembra a história das torcidas organizadas e compara as caravanas dos anos 1970 (era a época da “Invasão Corintiana”) com as caravanas dos anos 1930: “As primeiras caravanas de torcedores de futebol foram organizadas pelo Vasco da Gama, com o aluguel das grandes composições dos trens da Central do Brasil, para jogos em São Paulo, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Petrópolis”. As Torcidas Organizadas, na época, exigiam dos torcedores o uso de gravata e colarinho e roupas de passeio (...). Essa mesma caravana, em nossos dias, usaria calças desbotadas, camisas de carnaval e chinelo ‘cara-de-gato’. Há 40 anos passados, não era qualquer companhia que alugava ônibus para clubes desportivos. Há 40 anos passados, o torcedor trajava-se com esmero, pois não desejava rasgar a roupa de ninguém, ou sujá-la, arremessando garrafas, latas e outros detritos” [4].
O entusiasmo da torcida não era correspondido plenamente em campo, apesar do clube possuir uma famosa linha média reunindo os “Três Mosqueteiros” (Figliola, Zarzur e Dacunto), terminava-se mais um ano sem uma conquista importante.
Restava aos vascaínos continuar vibrando com o Remo, o esporte que mais deu títulos para o Vasco nos anos 1930. Em 1939 conquistávamos pela 6 vez consecutiva mais um campeonato. Nas regatas os torcedores poderiam cantar à vontade suas canções preferidas. Entre elas, a marchinha “Entra, Vasco” (Alberto Ribeiro / Antônio Almeida), cantada por Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda e grande sucesso no carnaval daquele ano.
Que viessem os anos 1940!!!!
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal O Imparcial 07 de Maio de 1939.
[2] Fonte: Jornal O Imparcial 10 de Junho de 1939
[3] Fonte: Jornal dos Sports 04 de Julho de 1939.
[4] Fonte: Jornal dos Sports 1978.

Vasco Jornal O Globo 1939

Vasco Jornal dos Sports 1939

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