quarta-feira, 24 de maio de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1999 A VOLTA DE ROMÁRIO

                                        “é com tristeza que eu recebo o notícia do Romário no Vasco”
                                                                                      Amâncio Cesar - TOV

1999                      A volta de Romário

Disputando o torneio Rio-São Paulo no início de 1999, o Vasco chega às finais contra o Santos. Na primeira partida na capital paulista, as câmeras focalizam um curioso torcedor vestido como o famoso mágico do programa do Fantástico da Rede Globo, o Mister M. Um personagem que fez sucesso ao desvendar os truques dos outros mágicos, sempre usando uma máscara e com uma roupa preta cobrindo todo o seu corpo. No decorrer da partida ela dá uma entrevista e acerta o placar de 3 a 1 para o Vasco.
No dia seguinte ele já era uma celebridade. Em tempos de BBB, 15 minutos de fama na TV transforma um simples anônimo num personagem conhecido, enfim, um novo símbolo nas arquibancadas. José Pedro dos Santos, o Mister M, usou graxa e liquid paper para compor seu personagem. “Com os diversos telefonemas anônimos, inclusive com ameaças de morte, ele agora só vai aos jogos escoltado pela Força Jovem”. Ao longo do ano, durante os jogos do Vasco sua imagem é buscada pelas câmeras. Em outros tempos com estádios lotados sua localização seria mais difícil, mas em jogos as 22 horas com transmissão pela TV, a imagem da massa do passado é substituída pelos personagens folclóricos fabricados pela TV. Aos poucos sua fama traz contatos com jogadores do clube e torcedores que lhe procuram para descobrir quem é o homem da máscara.  “Como parte do uniforme, Mister M utiliza uma camisa autografada por Amaral. Eu tenho um ótimo relacionamento com os jogadores. O Juninho é o meu rei, amigo especial, me deu a sua cesta de Natal e fez a felicidade das minhas 2 filhas”. Para José Pedro, a resposta mais gratificante vem das crianças. “Os torcedores mirins me pedem autógrafo, vivem me cercando. Eu acho o máximo”[1].
Fora do estádio, a torcida do Vasco que levou milhares de pessoas para São Paulo, teve muitos problemas, mas quem sofreu bastante foi Dulce Rosalina: “para a torcida carioca foi reservada apenas o portão 11 do Morumbi, o que aumentou o sofrimento de quem já havia enfrentado sete horas de viagem. E quem acabou sofrendo a fúria dos santistas foi Dulce Rosalina, da torcida Renovascão. Ela foi atingida na cabeça por uma pedrada contudo, felizmente, o ferimento não foi tão grave[2].
Numa pesquisa realizada pelo Jornal Lance/Ibope, entre as Torcidas Organizadas. A FJV foi considerada a Torcida mais violenta do Brasil. Também foram apresentados 5 quesitos: Arquibancada, Faixas/bandeiras, Organização, evolução e componentes ativos. A FJV foi melhor em 4 dos 5 quesitos. Resultado, a FJV foi eleita a melhor Torcida do Brasil. “A Maior Torcida Independente do Brasil, é como seus integrantes se referem à Força Jovem, que ao longo destas três décadas, montou uma invejável estrutura, além da Sede no Centro do Rio, têm em seu patrimônio, 130 bandeiras, 12 faixas e uma bateria completa com 150 instrumentos”, revela o Presidente Alexandre Cebola.
Apesar do inegável crescimento da torcida Força Jovem nos anos 1990, a década terminou com um racha que provocou a saída de muitas lideranças. A disputa pelo poder começou em 1998 e terminou em maio de 1999 com a fundação da Torcida Mancha Negra. Pior do que uma dissidência foi o que veio a seguir. Em várias partidas, as torcidas entravam em confronto aberto: “Antes da partida que o Vasco goleou o Madureira por 8 X 1, as Torcidas Organizadas Força Jovem e Mancha Negra do Vasco, brigaram nas arquibancadas, exigindo a presença do policiamento. A Mancha Negra é uma dissidência recente da FJV e seus integrantes queriam vingar a agressão da facção rival a José Pedro dos Santos, 29 anos, torcedor conhecido por Mister M[3].
Uma outra celebridade que começava a despontar era a estonteante Viviane Araújo, modelo que iniciava sua carreira pela TV, é apresentada como representante da torcida ao zagueiro Mauro Galvão. Os dois juntos posam para fotografias com a torcedora vestida com uma roupa da Força Jovem, numa tentativa de mudar a imagem da torcida. O jogador recebe beijos da “atriz, modelo e manequim Viviane Araujo, a nova Rainha da Torcida Força Jovem. Cena incomum em São Januário, cerca de 20 torcedores estenderam faixas por todo o Estádio e levaram Viviane a campo para ser coroada por Galvão.“Isto é melhor do que treinar”, brincou o zagueiro, posando ao lado da moça. “O Vasco vai ganhar de 3 X 0”, arriscou o palpite Viviane, mesmo sem muito conhecimento de causa[4].. Seu reinado durou de 1999 a 2002. Na apresentação no Maracanã contra o Flamengo, a Força faz uma grande festa no gramado do Maracanã.
A maior rivalidade no futebol carioca na década de 1990 continuou com Vasco e Flamengo. Durante este período por mais que medidas diferentes fossem tomadas, as brigas e confrontos permaneciam. A novidade era que também surgiam longe do estádio: “Acessos ao Maracanã, como as Rampas da UERJ e do Bellini, continuam a ser palco da violência dos torcedores. Passam-se os meses, muda-se o campeonato, mas os torcedores continuam os mesmos. E o Não a Violência tão pedidos por todos os jogadores de nada vale, pelo menos antes de a partida começar.Os Vascaínos continuam proibidos de chegar ao Maracanã pela Rampa de Bellini e os rubros negros não podem nem sonhar em entrar no Estádio pela Rampa da UERJ.Os integrantes da FJV, se localizam em pontos estratégicos para surpreender os flamenguistas. Um dos locais onde se instalam foi a Av. Brasil, perto do Viaduto de Bonsucesso, onde agrediram os torcedores rubro negros que desciam dos ônibus[5].
No final do ano o roubo de uma bandeira do Flamengo contou com a intermediação dos presidentes dos clubes para evitar um confronto de grandes proporções: “o Presidente do Flamengo Edmundo dos Santos Silva, chegou a temer pela segurança do público no clássico de domingo entre Vasco e Flamengo depois que a Torcida Jovem do Flamengo teve uma enorme bandeira roubada na madrugada de terça feira para quarta. Edmundo, que ligou para o Vice Presidente do Vasco Eurico Miranda, foi as rádios e apelou que o material fosse devolvido. Embora sem provas, integrantes da Jovem acusam a facção Vascaína Força Jovem de ter cometido o delito.No fim da tarde, a bandeira, que tem o formato da camisa do Flamengo, reapareceu nas proximidades da Sede da Torcida, na Cinelândia. Ricardo Magrinho, um dos diretores da Torcida Jovem, conta que a bandeira estava guardada numa casa alugada nas proximidades do Maracanã. O vigia teria permitido a entrada de um sujeito, que se disse membro da Torcida, e saiu com o material, além da bandeira, foram levados 50 bambus e instrumentos, que não foram resgatados”[6].
Enquanto as duas torcidas brigavam por toda a cidade, Romário se desentendia com a diretoria do Flamengo e faz um acordo com o Vasco. Sua volta ao clube no final de  1999 não teve a repercussão grandiosa na torcida vascaína que olhava aquela contratação com desconfiança. Romário, fez várias declarações de amor a torcida rubro-negra no período em que esteve no clube da Gávea entre 1995 e 1999. Sua chegada foi uma surpresa e não foram poucos os que não acreditavam mais em seu futebol: Para o ex Presidente da TOV Amâncio César, “é com tristeza que eu recebo a notícia do Romário no Vasco. E acredito que grande parte da Torcida também está triste. Ele desdenhou do Vasco e esqueceu que um dia poderia voltar. Ele precisou ser escorraçado do Flamengo para ter a consciência do que o Vasco é mais forte”. Já para o presidente da Mancha Negra, Fernando Leal, “o Romário tem que reconquistar os torcedores Vascaínos. Ele falou muita besteira”[7].
Para encerrar, vamos destacar duas músicas que eram cantadas pelos vascaínos contra os rubro-negros:

Força Jovem
uh terror do Rio!
Força Jovem
uh terror do Rio!

A Força é Rei, do Vasco
A Força do Vasco, Rei, Rei
A Força do Vasco, Rei, Rei
A Jovem não precisa nem dizer
A Raça não precisa nem falar
Chegando no Maraca a porrada, vai rolar...
A Força! Rei!
do Vasco! Rei!
A Força do Vasco! Rei! Rei! (bis)...

            No mesmo dia que o Vasco anunciava a volta de Romário, um jornal paulista lembrava dos 30 anos do gol 1000 de Pelé no Maracanã contra o Vasco. A reportagem entrevista Dulce Rosalina que conta a emoção de torcer contra e a favor do rei: “Consolo foi que o Rei disse que era Vasco de coração. Torcedora símbolo do Vasco de 65 anos,foi ao Maracanã há exatos 30 anos.(...) Dulce não resistiu ao encanto do maior jogador do mundo e aplaudiu o milésimo gol do Rei.“Não íamos brigar com o Pelé, porque ele já havia dito que era torcedor do Vasco de coração”, diz. “Claro que eu não queria o gol, mas depois comemorei” (...) Dulce afirma que toda a Torcida do Vasco reverenciou o craque após a cobrança.“Era aquela emoção por causa dos mil gols e nós batemos palmas.” Há 43 anos acompanhando os jogos do Vasco, em 1969 Dulce integrava a Torcida Organizada do Vasco (TOV), a mais antiga e festiva do Clube. (...) A partida tornou-se marcante para Dulce porque foi disputada quando ela passava por uma situação delicada. Um ano antes, a aposentada quase perdera o braço em um acidente automobilístico, a caminho de um jogo entre Vasco e Corinthians, em São Paulo.“Naquela ocasião, eu estava começando a ir ao Estádio novamente.”Para ela, o gol de Pelé, mesmo contra o seu time, foi o que a motivou a voltar a acompanhar jogos de futebol[8].
Na década de 1990, foi possível identificar 19 Torcidas Organizadas do Vasco: Força Jovem, Torcida Organizada do Vasco (TOV), Pequenos Vascaínos, Renovascão, Anarquia, Feminina Camisa 12, Força Independente, Mancha Negra, Resenvasco, Servasco, Tulipas Vascaínas, Vasboavista, Vascoração, Vasguaçu, Vaspirata, Vasqueire, Vasco Pita, Garra Cruzmaltina e Fanáticos.
O final dos anos 1990 também estimulou a produção editorial de livros sobre futebol. Os vascaínos poderiam ter uma coleção de livros que começava a aparecer com mais freqüência nestes anos. São obras sobre o clube, seus ídolos, sua história (a mais bonita de todas) e seus torcedores. Em 1999 destacaríamos o livro de Roberto Assaf e Clóvis Martins, sobre o Clássico dos Milhões, Vasco e Flamengo. Com uma extensa pesquisa sobre todos os jogos (total de 300) entre os dois clubes até 1999, apresentando várias estatísticas, as súmulas dos jogos e uma análise do contexto esportivo e social de 62 partidas. Também era lançada em 1999 a biografia do zagueiro Mauro Galvão, que chegou ao clube em 1997 já com mais de 30 anos e imediatamente virou ídolo absoluto quando defendeu nosso clube. Por fim, três torcedores vascaínos lançam uma obra escrita pelo olhar do quem sempre acompanhou o clube pelas arquibancadas e pelo ângulo emocionado dos fãs de futebol. Trata-se de Estórias de Vascaínos de Mauro Prais, Além deles, vale lembrar o livro oficial do clube lançado em 1998 em comemoração ao centenário.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: s.d. torcidasdovasco.blogspot.com
[2] Fonte: Jornal O Globo 04 de Março de 1999.
[3] Fonte: Jornal do Brasil 20 de Maio de 1999.
[4] Fonte: Jornal do Brasil 04 de Junho de 1999.
[5] Fonte: Jornal do Brasil 04 de Outubro de 1999.
[6] Fonte: Jornal do Brasil 30 de Novembro de 1999.
[7] Fonte: Jornal do Brasil 19 de Novembro de 1999.
[8] Fonte: Jornal Estado de São Paulo 19 de Novembro de 1999 .

Vasco Jornal O Globo 1999

Vasco Revista Placar 1999



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