“é com tristeza que eu recebo o notícia do
Romário no Vasco”
Amâncio Cesar - TOV
1999 A volta de Romário
Disputando
o torneio Rio-São Paulo no início de 1999, o Vasco chega às finais contra o
Santos. Na primeira partida na capital paulista, as câmeras focalizam um
curioso torcedor vestido como o famoso mágico do programa do Fantástico da Rede
Globo, o Mister M. Um personagem que fez sucesso ao desvendar os truques dos
outros mágicos, sempre usando uma máscara e com uma roupa preta cobrindo todo o
seu corpo. No decorrer da partida ela dá uma entrevista e acerta o placar de 3
a 1 para o Vasco.
No
dia seguinte ele já era uma celebridade. Em tempos de BBB, 15 minutos de fama
na TV transforma um simples anônimo num personagem conhecido, enfim, um novo
símbolo nas arquibancadas. José Pedro dos Santos, o Mister M, usou graxa e
liquid paper para compor seu personagem. “Com os diversos telefonemas anônimos,
inclusive com ameaças de morte, ele agora só vai aos jogos escoltado pela Força
Jovem”. Ao longo do ano, durante os jogos do Vasco sua imagem é buscada pelas
câmeras. Em outros tempos com estádios lotados sua localização seria mais
difícil, mas em jogos as 22 horas com transmissão pela TV, a imagem da massa do
passado é substituída pelos personagens folclóricos fabricados pela TV. Aos
poucos sua fama traz contatos com jogadores do clube e torcedores que lhe
procuram para descobrir quem é o homem da máscara. “Como parte do uniforme, Mister M utiliza uma
camisa autografada por Amaral. Eu tenho um ótimo relacionamento com os
jogadores. O Juninho é o meu rei, amigo especial, me deu a sua cesta de Natal e
fez a felicidade das minhas 2 filhas”. Para José Pedro, a resposta mais
gratificante vem das crianças. “Os torcedores mirins me pedem autógrafo, vivem
me cercando. Eu acho o máximo”[1].
Fora do estádio, a torcida
do Vasco que levou milhares de pessoas para São Paulo, teve muitos problemas,
mas quem sofreu bastante foi Dulce Rosalina: “para a torcida carioca foi
reservada apenas o portão 11 do Morumbi, o que aumentou o sofrimento de quem já
havia enfrentado sete horas de viagem. E quem acabou sofrendo a fúria dos
santistas foi Dulce Rosalina, da torcida Renovascão. Ela foi atingida na cabeça
por uma pedrada contudo, felizmente, o ferimento não foi tão grave[2].
Numa
pesquisa realizada pelo Jornal Lance/Ibope, entre as Torcidas Organizadas. A
FJV foi considerada a Torcida mais violenta do Brasil. Também foram
apresentados 5 quesitos: Arquibancada, Faixas/bandeiras, Organização, evolução
e componentes ativos. A FJV foi melhor em 4 dos 5 quesitos. Resultado, a FJV
foi eleita a melhor Torcida do Brasil. “A Maior Torcida Independente do Brasil,
é como seus integrantes se referem à Força Jovem, que ao longo destas três
décadas, montou uma invejável estrutura, além da Sede no Centro do Rio, têm em
seu patrimônio, 130 bandeiras, 12 faixas e uma bateria completa com 150
instrumentos”, revela o Presidente Alexandre Cebola.
Apesar
do inegável crescimento da torcida Força Jovem nos anos 1990, a década terminou
com um racha que provocou a saída de muitas lideranças. A disputa pelo poder
começou em 1998 e terminou em maio de 1999 com a fundação da Torcida Mancha
Negra. Pior do que uma dissidência foi o que veio a seguir. Em várias partidas,
as torcidas entravam em confronto aberto: “Antes da partida que o Vasco goleou
o Madureira por 8 X 1, as Torcidas Organizadas Força Jovem e Mancha Negra do
Vasco, brigaram nas arquibancadas, exigindo a presença do policiamento. A
Mancha Negra é uma dissidência recente da FJV e seus integrantes queriam vingar
a agressão da facção rival a José Pedro dos Santos, 29 anos, torcedor conhecido
por Mister M[3].
Uma
outra celebridade que começava a despontar era a estonteante Viviane Araújo,
modelo que iniciava sua carreira pela TV, é apresentada como representante da
torcida ao zagueiro Mauro Galvão. Os dois juntos posam para fotografias com a
torcedora vestida com uma roupa da Força Jovem, numa tentativa de mudar a
imagem da torcida. O jogador recebe beijos da “atriz, modelo e manequim Viviane
Araujo, a nova Rainha da Torcida Força Jovem. Cena incomum em São Januário,
cerca de 20 torcedores estenderam faixas por todo o Estádio e levaram Viviane a
campo para ser coroada por Galvão.“Isto é melhor do que treinar”, brincou o
zagueiro, posando ao lado da moça. “O Vasco vai ganhar de 3 X 0”, arriscou o
palpite Viviane, mesmo sem muito conhecimento de causa[4]..
Seu reinado durou de 1999 a 2002. Na apresentação no Maracanã contra o
Flamengo, a Força faz uma grande festa no gramado do Maracanã.
A maior rivalidade no
futebol carioca na década de 1990 continuou com Vasco e Flamengo. Durante este
período por mais que medidas diferentes fossem tomadas, as brigas e confrontos
permaneciam. A novidade era que também surgiam longe do estádio: “Acessos
ao Maracanã, como as Rampas da UERJ e do Bellini, continuam a ser palco da
violência dos torcedores. Passam-se os meses, muda-se o campeonato, mas os
torcedores continuam os mesmos. E o Não a Violência tão pedidos por todos os
jogadores de nada vale, pelo menos antes de a partida começar.Os Vascaínos
continuam proibidos de chegar ao Maracanã pela Rampa de Bellini e os rubros
negros não podem nem sonhar em entrar no Estádio pela Rampa da UERJ.Os
integrantes da FJV, se localizam em pontos estratégicos para surpreender os
flamenguistas. Um dos locais onde se instalam foi a Av. Brasil, perto do
Viaduto de Bonsucesso, onde agrediram os torcedores rubro negros que desciam
dos ônibus[5].
No
final do ano o roubo de uma bandeira do Flamengo contou com a intermediação dos
presidentes dos clubes para evitar um confronto de grandes proporções: “o
Presidente do Flamengo Edmundo dos Santos Silva, chegou a temer pela segurança
do público no clássico de domingo entre Vasco e Flamengo depois que a Torcida
Jovem do Flamengo teve uma enorme bandeira roubada na madrugada de terça feira
para quarta. Edmundo, que ligou para o Vice Presidente do Vasco Eurico Miranda,
foi as rádios e apelou que o material fosse devolvido. Embora sem provas,
integrantes da Jovem acusam a facção Vascaína Força Jovem de ter cometido o
delito.No fim da tarde, a bandeira, que tem o formato da camisa do Flamengo,
reapareceu nas proximidades da Sede da Torcida, na Cinelândia. Ricardo
Magrinho, um dos diretores da Torcida Jovem, conta que a bandeira estava
guardada numa casa alugada nas proximidades do Maracanã. O vigia teria
permitido a entrada de um sujeito, que se disse membro da Torcida, e saiu com o
material, além da bandeira, foram levados 50 bambus e instrumentos, que não
foram resgatados”[6].
Enquanto
as duas torcidas brigavam por toda a cidade, Romário se desentendia com a
diretoria do Flamengo e faz um acordo com o Vasco. Sua volta ao clube no final
de 1999 não teve a repercussão grandiosa
na torcida vascaína que olhava aquela contratação com desconfiança. Romário,
fez várias declarações de amor a torcida rubro-negra no período em que esteve
no clube da Gávea entre 1995 e 1999. Sua chegada foi uma surpresa e não foram
poucos os que não acreditavam mais em seu futebol: Para o ex Presidente da TOV Amâncio
César, “é com tristeza que eu recebo a notícia do Romário no Vasco. E acredito
que grande parte da Torcida também está triste. Ele desdenhou do Vasco e
esqueceu que um dia poderia voltar. Ele precisou ser escorraçado do Flamengo
para ter a consciência do que o Vasco é mais forte”. Já para o presidente da
Mancha Negra, Fernando Leal, “o Romário tem que reconquistar os torcedores
Vascaínos. Ele falou muita besteira”[7].
Para
encerrar, vamos destacar duas músicas que eram cantadas pelos vascaínos contra
os rubro-negros:
Força Jovem
uh terror do Rio!
Força Jovem
uh terror do Rio!
A Força é Rei, do Vasco
A Força do Vasco, Rei, Rei
A Força do Vasco, Rei, Rei
A Jovem não precisa nem dizer
A Raça não precisa nem falar
Chegando no Maraca a porrada, vai rolar...
Chegando no Maraca a porrada, vai rolar...
A Força! Rei!
do Vasco! Rei!
A Força do Vasco! Rei! Rei! (bis)...
A Força do Vasco! Rei! Rei! (bis)...
No mesmo dia que o Vasco anunciava a
volta de Romário, um jornal paulista lembrava dos 30 anos do gol 1000 de Pelé
no Maracanã contra o Vasco. A reportagem entrevista Dulce Rosalina que conta a
emoção de torcer contra e a favor do rei: “Consolo foi que o Rei disse que era
Vasco de coração. Torcedora símbolo do Vasco de 65 anos,foi ao Maracanã há
exatos 30 anos.(...) Dulce não resistiu ao encanto do maior jogador do mundo e
aplaudiu o milésimo gol do Rei.“Não íamos brigar com o Pelé, porque ele já
havia dito que era torcedor do Vasco de coração”, diz. “Claro que eu não queria
o gol, mas depois comemorei” (...) Dulce afirma que toda a Torcida do Vasco
reverenciou o craque após a cobrança.“Era aquela emoção por causa dos mil gols
e nós batemos palmas.” Há 43 anos acompanhando os jogos do Vasco, em 1969 Dulce
integrava a Torcida Organizada do Vasco (TOV), a mais antiga e festiva do
Clube. (...) A partida tornou-se marcante para Dulce porque foi disputada
quando ela passava por uma situação delicada. Um ano antes, a aposentada quase
perdera o braço em um acidente automobilístico, a caminho de um jogo entre
Vasco e Corinthians, em São Paulo.“Naquela ocasião, eu estava começando a ir ao
Estádio novamente.”Para ela, o gol de Pelé, mesmo contra o seu time, foi o que
a motivou a voltar a acompanhar jogos de futebol[8].
Na
década de 1990, foi possível identificar 19 Torcidas Organizadas do Vasco:
Força Jovem, Torcida Organizada do Vasco (TOV), Pequenos Vascaínos, Renovascão,
Anarquia, Feminina Camisa 12, Força Independente, Mancha Negra, Resenvasco,
Servasco, Tulipas Vascaínas, Vasboavista, Vascoração, Vasguaçu, Vaspirata,
Vasqueire, Vasco Pita, Garra Cruzmaltina e Fanáticos.
O
final dos anos 1990 também estimulou a produção editorial de livros sobre
futebol. Os vascaínos poderiam ter uma coleção de livros que começava a
aparecer com mais freqüência nestes anos. São obras sobre o clube, seus ídolos,
sua história (a mais bonita de todas) e seus torcedores. Em 1999 destacaríamos
o livro de Roberto Assaf e Clóvis Martins, sobre o Clássico dos Milhões, Vasco
e Flamengo. Com uma extensa pesquisa sobre todos os jogos (total de 300) entre
os dois clubes até 1999, apresentando várias estatísticas, as súmulas dos jogos
e uma análise do contexto esportivo e social de 62 partidas. Também era lançada
em 1999 a biografia do zagueiro Mauro Galvão, que chegou ao clube em 1997 já
com mais de 30 anos e imediatamente virou ídolo absoluto quando defendeu nosso
clube. Por fim, três torcedores vascaínos lançam uma obra escrita pelo olhar do
quem sempre acompanhou o clube pelas arquibancadas e pelo ângulo emocionado dos
fãs de futebol. Trata-se de Estórias de Vascaínos de Mauro Prais, Além deles,
vale lembrar o livro oficial do clube lançado em 1998 em comemoração ao
centenário.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: s.d.
torcidasdovasco.blogspot.com
[2] Fonte: Jornal O Globo 04
de Março de 1999.
[3] Fonte: Jornal do Brasil 20
de Maio de 1999.
[4] Fonte: Jornal do Brasil 04
de Junho de 1999.
[5] Fonte: Jornal do Brasil 04
de Outubro de 1999.
[6] Fonte: Jornal do Brasil 30
de Novembro de 1999.
[7] Fonte: Jornal do Brasil 19
de Novembro de 1999.
[8] Fonte: Jornal Estado de
São Paulo 19 de Novembro de 1999 .
Vasco Jornal O Globo 1999 |
Vasco Revista Placar 1999 |
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