“Não Há Nada Mais
Vascaíno Do Que Ser Força Jovem”.
Slogan da torcida
1992 Invicto em São Januário
Depois
de acompanhar duas campanhas bisonhas nos campeonatos brasileiros em 1990 e
1991, a torcida vascaína começa o ano de 1992 plenamente confiante de que o ano
seria positivo. Logo na estréia em São Paulo (a FJV leva 15 ônibus), a equipe
carioca derrota a paulista com uma goleada por 4 a 1. Transmitido ao vivo para
o Rio de Janeiro, era o primeiro contato do grande público com uma jovem
promessa vinda das divisões de base: Edmundo. Em sua estréia, uma atuação
consagradora dele e do time.
E
foi uma campanha espetacular até as semifinais contra o Flamengo, quando fomos
eliminados. Na final, novamente uma disputa entre cariocas (como em 1984),
Botafogo e Flamengo decidem o campeonato em duas partidas. Como na primeira
terminou com a vitória do rubro-negro por 3 a 0, a segunda partida contou com
presença maciça da torcida da Gávea que lotou o Maracanã. Torcedores apoiados
nas grades que se rompem caem das arquibancadas nas cadeiras, provocando
dezenas de feridos e algumas mortes.
Depois desse fato, para provocar a maior torcida adversária, a Força
Jovem começa cantar uma versão da música de Gal Costa: “Ô balancê, balancê,
escute o que eu vou te dizer, a festa da Raça esta em extinção, vocês viram na
televisão, coitadinha da Raça, a Raça do Urubu (Tomou no...), tentou voar do
Maraca legal, e caiu na geral, ô balancê, balancê...” e a música, “Nada mais
gostoso que cair da arquibancada, Raça Fla já caiu de lá, ê ê ê ê já Raça Fla
”.[1]
Em
virtude deste acidente, o Maracanã ficou interditado no segundo semestre,
justamente o período de disputa do campeonato carioca. São Januário passa a ser
o palco principal desta competição.
Com
um novo presidente (Buião), a FJV dá um novo passo de divulgação de seu
trabalho com a criação do próprio jornal. Já no primeiro número, uma crônica do
jornalista Sergio Cabral relata o seu orgulho por ser vascaíno. Com 5 mil exemplares, o jornal é distribuído
em São Januário, também tema de uma reportagem do periódico, que ressalta em
seu editorial a história da Força Jovem, passadas duas décadas de muito esforço
e dedicação de diversas gerações. Nessa época, surge uma nova sede (em
Cavalcanti), descrito em seu jornal como um “ponto de encontro dos torcedores,
local de reuniões, espaço para ver os amigos e fazer novas amizades, lugar de
discussão e divertimento. O valor da sede para uma torcida organizada, esta
para um estádio para um clube de futebol. Ela é referência básica e da
demonstração de organização e poder de multiplicação de novos associados, além
de permitir que a vida dos torcedores não se limite apenas aos encontros em
dias de jogos”.
No
mesmo jornal, uma reportagem explicava como foi feito o Bandeirão, maior
símbolo visual da organização nos próximos anos, motivo de orgulho e exaltação
sobre as rivais: “bandeira custou 8 mil dólares, já que foram gastos mais de
400 litros de tinta e mais de 1.700 m2 de pano”.
Acompanhando as alterações que
ocorriam nos agrupamentos juvenis a imprensa registrava as mudanças nas músicas
das torcidas entoadas nas arquibancadas: “nem mesmo a influência de sambistas
Vascaínos do porte de Paulinho da Viola ou de um Martinho da Vila fazem com que
os jovens torcedores do Vasco se interessem
em resgatar o samba nos seus cânticos de arquibancada. As Torcidas
Organizadas do Vasco hoje em dia utilizam apenas gritos de guerra, esquecendo,
além do samba, do próprio hino do Clube, raramente ouvido em São Januário”[2].
A imprensa começa a comparar as torcidas como
organizações criminosas. “A Força Jovem é a tropa de choque da Torcida Vascaína
e seus 7 mil componentes se vangloriam da valentia. A exemplo da Máfia
Siciliana, divide-se em Famílias que dominam 10 territórios delimitados em toda
a Cidade. Extremamente violenta, canta nas arquibancadas músicas alusivas a
rival Jovem Fla. “ Dica morreu, a Jovem se f...” cantavam e se vangloriavam em
São Januário, provocando a torcida adversária no jogo passado, entre Vasco X
Flamengo”.
Os
órgãos governamentais procuram ações conjuntas com os torcedores, como a
sugestão do Secretário Estadual de
Esporte e Lazer (Marcio Braga, ex-presidente do Flamengo) que propõe um plano
para acabar com a violência. O político “se reuniu ontem no próprio Maracanã,
com vários Chefes de Facções e com a Diretoria da ASTORJ (Associação das
Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro) representada pelo Presidente Seu
Armando da Young Flu e pela Vice Presidenta Dona Lúcia da Raça Alvi Negra.
Várias propostas foram debatidas, mas no final não houve a idealização de um
plano eficaz para acabar com a violência no Estádio”.
No Maracanã uma frase pichada no muro faz uma
parodia de uma propaganda contra o fumo: O Ministério da Saúde adverte: brigar
com a Força Jovem faz mal à saúde”.
Enquanto
as novas lideranças e suas associações eram estigmatizadas pela imprensa, Dulce
Rosalina vivia um drama diferente. A torcedora mais famosa do clube
praticamente seria obrigada a se afastar dos estádios a partir deste ano
seguindo orientação de seu médico, em virtude de problemas de visão. “O Dr
Fernando Aragão está cuidando de mim com muito carinho. Não posso contrariá-lo.
Tudo que ele proíbe eu cumpro, até mesmo ir para casa, na hora em que o Vasco
está jogando, o que é um sofrimento para mim. Se Deus quiser, ainda verei
muitos gols do meu clube. Quero sair logo para não ouvir o grito da torcida.
Isso é que me da saudade”[3],
conclui Dulce.
No final de 1992 diversas
manifestações contra o presidente Collor tomam conta das ruas em todo o país.
Era o fenômeno dos “caras-pintadas”, ou melhor, jovens que pintavam seus rostos
para protestar contra o governante acusado por corrupção. Com o crescimento das
passeatas, os gritos das ruas chegam as arquibancadas. Pouco antes do
impeachment do presidente, a FJV leva para São Januário uma faixa com os
dizeres que se tornaram o grande clamor popular do ano: “Fora Collor = FJV”.
Como o Maracanã ficou fechado por
todo o segundo semestre e o estádio de São Januário ficou como o lugar
principal das partidas mais importantes, a Flapress procurou minimizar aquela
competição. Nesse sentido parte da imprensa carioca concentrou suas análises
sobre o campeonato carioca ressaltando “a menor média de público dos últimos
anos”, pois em função da interdição do
Maracanã era inevitável que as rendas fossem menores. Nada mais distante do
sentimento dos vascaínos que puderam mais uma vez se orgulhar de ter um estádio
próprio e ver seus atacantes como os melhores do Brasil: Roberto Dinamite, que
conquistava seu último título pelo clube se despedia do futebol em grande
estilo e Edmundo era a maior revelação do ano.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Outra música de grande
sucesso foi: “Sou eu, sou eu, sou eu da Força Jovem sou eu!!/ A Jovem Fla não
se cansa de apanhar!!/ A Raça Fla na corrida é a melhor!!/ Young Flu toda
pequenininha!!/ Toma porrada e cabe dentro de um fusquinha!!/ Sou eu, sou eu,
sou eu da Força Jovem sou eu!!
[2] Fonte: Jornal do Brasil.
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