“Eurico, 171”
Grito de protesto
1996 A Volta do Chorão
Com
a continuação da oposição aos principais dirigentes do clube, a Força Jovem
amplia suas fontes de renda e consegue fazer
em maio uma grande festa reunindo músicos vascaínos de renome, como
Fernanda Abreu, Dicró, Paulinho Mocidade e
Celso Blues Boy. Cada um com seu estilo musical, mas conscientes que
aquela reunião serviria para ajudar a principal torcida organizada do Vasco
manter sua atitude de independência e de fiscalização diante das
arbitrariedades dos cartolas. Neste ano a agremiação trocaria novamente de
sede, saindo do subúrbio (Piedade, desde1993) e passando para o centro da
cidade, buscando um local de facil acesso para todas as regiões.
Em
setembro a Torcida Força Independente que se originou de uma dissidência da
Força Jovem no final dos anos 1980, resolveu se unir e extinguir com a antiga
dissidência. Foi um passo importante para a Força Jovem se fortalecer diante
dos torcedores vascaínos e dirigentes, provando que o caminho escolhido era o
melhor. Pouco depois a torcida faz campanha aberta para o empresário José
Moraes para a sua reeleição para vereador. O político era um antigo conhecido
da torcida e participou financeiramente para a construção do bandeirão em 1992.
No material informativo da associação são feitos vários elogios ao empresário e
adverte que o apoio tem uma causa nobre pois Moraes “informatizou a nossa Sede,
além de ter patrocinado a nossa Festa de 25 anos, em 1995. Durante todo esse
tempo temos mantido um diálogo franco e tivemos o seu compromisso de que, a
partir de sua reeleição, ele contribuirá de forma muito mais efetiva e prática
para com a nossa torcida. Não se trata de uma troca de favores mais de mãos se
estendendo em direção a um mesmo ideal, a causa Vascaína. Ele precisa de nosso
apoio e nós precisamos de sua voz e do seu poder para estar do nosso lado”. É
obvio que a torcida vivia um estrangulamento financeiro com a briga com os
dirigentes e a ação de pedir ajuda a um padrinho não era uma prática nova no
mundo do futebol, outras torcidas fizeram e esta não seria a primeira nem a
última organizada a recorrer destes expedientes. Nessa mesma eleição o
radialista Áureo Ameno fez toda a sua campanha pedindo votos para a torcida vascaína
e acabou sendo eleito.
Eurico
Miranda e a Força Jovem brigaram durante todo o ano de 1996, porém, um fato os
uniu: a revolta diante da atitude de Bebeto que volta para o Brasil e escolhe
ficar no Flamengo.
Quando
deixou o Vasco em 1992 para ir jogar na Espanha, Bebeto saiu como um grande
ídolo e nunca teve problemas com a torcida do Vasco, pelo contrário, teve o
apoio freqüente ainda mais quando ele revelou que mudar do Flamengo para o
Vasco era a oportunidade de realizar o sonho de jogar no clube de seu coração na
infância.
Aos 32 anos, Bebeto deixou o clube espanhol, voltando ao
Flamengo, para disputar o Campeonato
Brasileiro de 1996. Porém, a relação com a torcida rubro-negra não era a mesma;
poucos haviam se esquecido que, em 1989, o atacante declarou-se vascaíno na
infância, ao chegar a São Januário. Assim que chegou a Gávea fez questão de
afirmar que seu clube do coração era o rubro-negro[1].
O Flamengo fez péssima campanha no brasileirão e Bebeto acabou sendo
responsabilizado. Ainda em 1996, desligou-se novamente do Flamengo e voltou à
Espanha, agora para jogar no Sevilla, mas não se saiu bem. O mesmo aconteceu
nas Olimpíadas nos EUA quando Bebeto estava na seleção que foi derrotada
vergonhosamente para a Nigéria por 4 a 3. Praga dos vascaínos.
Bebeto foi hostilizado pela massa vascaína que passou a
chamar-lhe de “Chorão” e a própria torcida do Flamengo não lhe deu o apoio
necessário.
Outro nome que fracassou nas Olimpíadas em 1996 era
Zagalo, que passou a comandar a seleção brasileira desde agosto de 1994 após a
saída de Carlos Alberto Parreira. O técnico foi escorraçado pela torcida do
Vasco em 1991, inconformada com seu estilo de jogo adotado e de sua maneira
arrogante de ser. Em uma carta de despedida um torcedor da Força Jovem escrevia
para o treinador: “A Força
Jovem do Vasco vem através desta, mostrar toda a sua alegria com a saída do
treinador Zagalo, que finalmente caiu na real depois de ter feito o nosso
glorioso Machão da Gama passar por maus momentos. Zagalo acusa a Força Jovem de
ter sido responsável por sua saída do Clube. A ele gostaríamos de dizer o
seguinte: “Caro retranqueiro. Não é a Força Jovem, que escala o time e nem arma
táticas de jogo. Por isso a sua saída foi pela própria incompetência. Gostaria
de agradecer a Diretoria da Força Jovem, pelo seu mais recente título de “A
Correspondente do Ano”. Depois de termos superado grandes facções, esperamos
apenas um contato da famosa Máquina Tricolor para recebermos nosso troféu. Aqui
me despeço deixando um forte abraço a todos da Força Jovem do Vasco. Rogério
Manteiga, Relações Públicas da FJV”[2].
A briga entre torcedores e técnicos já era uma tradição
no futebol brasileiro. A novidade vinha da extrema mercantilização das relações
entre as grandes empresas que passam a investir fortunas em contratos polêmicos.
O melhor exemplo foi o acordo entre CBF e Nike por 10 anos com cifras de US$
170 milhões. No futebol globalizado, a presença do marketing esportivo cada
vez fala mais alto e a voz dos
torcedores nas arquibancadas e gerais vão sendo substituídas pelos desmandos
dos dirigentes e empresários que se preocupam em garantir a comercialização do
espetáculo em outros níveis.
Esta será uma tendência marcante a partir de meados dos
anos 1990 com a “reconfiguração do futebol brasileiro produzida pela alteração
na legislação esportiva e pela expansão dos mercados associados a
comercialização do espetáculo” (Proni, 1999, p.41). Junto destas mudanças
outras iniciativas já apontavam com a mudança do perfil do torcedor nos
estádios, com a elitização das praças esportivas em função do aumento do preço
dos ingressos, a expansão dos canais por assinatura e do pay-per-view: “o futebol passará a ter tratamento ‘vip’ e
empresarial, um grande negócio que vende a seus consumidores o conforto, a
comodidade e a tranquilidade” ( Pimenta, 1999, p,138).
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário