domingo, 28 de maio de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2000 AHH, É CHOCOLATE

                                 “o Vasco é o time da Virada, o Vasco é o time do Amor”
                                               Canção consagrada pelos vascaínos                                                                                             

2000                       “Ahh, é Chocolate!!!”

O ano começava com as atenções voltadas para a disputa do Campeonato Mundial de Clubes organizado pela FIFA e disputado no Rio de Janeiro e em São Paulo, com a final marcada para o Maracanã. Aliás, era o momento do público conhecer como ficou o estádio remodelado, interditado para obras que teria sua divisão das arquibancadas em 3 cores de cadeiras (brancas, verdes e amarelas). Enquanto isso a tradicional Geral era fechada por orientação da entidade máxima do futebol.
Havia a expectativa da revanche contra o Real Madrid que ficou no grupo de São Paulo, mas para isso o Vasco deveria passar na primeira fase pelo Manchester United, um time também de altíssimo nível e que trazia muitas estrelas do futebol internacional.
O jogo entre Vasco e Manchester foi disputado no Maracanã que recebeu milhares de vascaínos que também assistiram ao vivo em todo o Brasil, inclusive RJ, pela TV Bandeirantes. A Rede Globo por ser excluída, boicotou a divulgação dos jogos, se limitando a mostrar os gols nos dias seguintes.
No estádio Mario Filho além das tradicionais torcidas organizadas vascaínas, uma estranha torcida intitulada Flamanchester viu Edmundo e Romário fazerem uma exibição soberba na vitória do Vasco por 3 a 1.
Classificado para a final contra o Corinthians (que superou o Real Madrid), o Vasco empata sem gols o que acabou provocando a disputa por pênaltis. O jogo foi tenso de início ao fim e a torcida vascaína sentiu mais este clima angustiante e não teve um papel decisivo. Os corintianos, em menor número, não sentiram o peso do favoritismo vascaíno e estavam satisfeitos com o jogo defensivo das duas equipes. Talvez estivessem mais confiantes no bom desempenho do goleiro Dida na cobrança de pênaltis. E foi o que aconteceu: a cobrança errada de Edmundo deu a vitória aos paulistas que comemoraram em cima dos vascaínos uma chance tão sonhada para os cariocas.
A “insuspeita” Revista Placar comenta a atitude tímida dos vascaínos no final: “os líderes negam ter perdido no grito, mas admitem que havia algo errado.  A torcida do Vasco é assim. Se com 5 minutos sente que o negócio não está bom, ela se retrai”, analisa Alexandre de Lima, o Cebola, Presidente da Força Jovem. “A Torcida só esfriou na prorrogação, com a tensão”, diz Amâncio Cezar, Presidente de Honra da TOV. Um possível motivo é que algumas Organizadas não conseguiram nem metade dos ingressos pedidos[1]
Enquanto os vascaínos viam com dissabor seu título ser perdido em casa, a modelo e rainha da Força Jovem, Viviane Araújo, continuava com uma carreira em ascensão. Ainda em janeiro, pela segunda vez, ela seria capa da Revista Sexy e estrelava na televisão no programa humorístico de Chico Anísio (outro vascaíno), Escolinha do Professor Raimundo, interpretando a fogosa aluna Rosinha.
Começa o campeonato carioca e também uma disputa pessoal pela liderança do grupo entre Romário e Edmundo, revelando que a união entre os dois astros durante o Mundial em janeiro era temporária. Edmundo reclama publicamente de Romário que se torna o capitão do time e cobrador oficial de pênaltis e de Eurico Miranda, cartola que dá apoio a Romário. Na primeira oportunidade Edmundo dá uma entrevista e chama Romário de “príncipe” e Eurico de “rei” do clube. Pouco tempo depois, Romário dá o troco em uma entrevista no intervalo de um jogo e após marcar um gol: “todos estão felizes, o rei, o príncipe e o bobo”. A guerra pública entre os dois ídolos estava declarada. A torcida ficava mais com Edmundo, mas o melhor momento em campo era de Romário que se consagraria na final da Taça Guanabara de 2000 contra o Flamengo em pleno domingo de Páscoa. Romário marca 3 vezes na goleada de 5 a 1 com direito a ovos distribuídos antes da partida pelos dirigentes do Vasco e gritos de “Ahh, é chocolate” e “Sai da frente que o Romário é chapa quente”. Foi o melhor momento do clube naquele semestre que perderia o campeonato carioca para o maior rival[2] e veria Edmundo trocar o Vasco pelo Santos.
O campeonato brasileiro começava e a torcida vascaína tinha que ouvir das rivais a provocação intolerável depois de perder duas vezes o carioca, o Mundial e o Rio-São Paulo: “ooooôôô, vice de novo”. A resposta viria no final do ano...
No final do ano com as eleições para prefeitos e vereadores e para presidente do clube, novamente a política agita a agremiação. Áureo Ameno, radialista e famoso vascaíno se elege pedindo votos aos torcedores e Roberto Monteiro, ex-presidente da Força Jovem se candidata pela primeira vez a vereador ostentando o apoio de Lula (que seria eleito presidente em 2002).
Em novembro Eurico Miranda vence a eleição pela primeira vez como presidente do clube. A campanha conta com o apoio das maiores figuras do clube e com ajuda da FJV que faz campanha para Eurico nos estádios.
O melhor momento dos vascaínos estava reservado para a final com o Palmeiras pela Copa Mercosul. Os dois times já haviam se enfrentado numa final no início deste ano com a vitória dos paulistas no torneio Rio-São Paulo. Na ocasião a torcida vascaína estava repartida com Edmundo que foi vaiado e aplaudido pela FJV que estava dividida. Uma parte da torcida gritava “ahh, é Edmundo” e outra xingava “Edmundo vai tomar no cu”. Estas tensões internas na torcida foram objeto de estudo da dissertação de mestrado em Antropologia na UFF, de Fernando Manuel Bessa Fernandez, intituladoCampo de força: sociabilidade em uma torcida organizada de futebol”, defendido em setembro de 2000 e orientado por Simoni Guedes.
Dessa vez Edmundo não estava mais no Vasco e a final (3ª partida) era em São Paulo no Parque Antártica. A virada histórica por 4 a 3 é a melhor lembrança daquele ano na partida que ficou conhecida como a “Virada do Século”. Nunca os gritos de “o Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do Amor”, fizeram tanto sentido. A partida transmitida ao vivo pela Rede Globo, pode ser acompanhada por todo o Brasil que viu uma verdadeira festa dos torcedores no estádio que gritavam em alto e bom som “oooôôô, vice é o caralho”. A vingança dos vascaínos era contra todos aqueles que cantaram durante o ano em qualquer partida do Vasco por todo o Brasil.
Esta partida entrou para o imaginário do torcedor vascaíno que logo ganhou contornos épicos em campo e ares mitológicos na memória da torcida. A lembrança do local e com quem assistiu o jogo, a frustração e o sentimento de revolta com o resultado inicial, terminando com a explosão de alegria ao fim da partida, foi a reação mais comum. No entanto, outros torcedores foram a extremos. O cantor Erasmo Carlos relata o que aconteceu em sua casa: “meu filho Carlos Alexandre (depois do 3° gol) no ato prometeu: ‘se o Vasco fizer mais um eu fico 3 horas na piscina’. O detalhe é que chovia no Rio de Janeiro e a temperatura estava bastante fria (...) quando Romário fez o 4° gol meu filho se jogou na água e lá ficou até o fim da promessa. Nunca chorei nem gritei tanto como naquele dia”[3], relembra o músico.
Talvez se o Vasco tivesse vencido nos pênaltis o Corinthians no início do ano pelo Mundial não gerasse tanto impacto emocional como esta partida rendeu para os torcedores. Simbolicamente, a Copa Mercosul de 2000, não era um campeonato tão importante como o Mundial em janeiro, mas a forma como foi conquistada (com 1 a menos, no campo do adversário e de virada) deu uma marca histórica que nos consagrava como o “Time da Virada”.
Faltava ainda terminar com “Chave de Ouro” e vencer o Campeonato Brasileiro no final do ano contra o surpreendente São Caetano. O primeiro jogo era no mesmo palco da “Virado do Século”, o Parque Antártica. Pelo lado da torcida do Vasco não faltou motivação já que cerca de 6.000 vascaínos invadiram São Paulo em 100 ônibus carregando as torcidas organizadas, além de um avião fretado e mais os que foram por conta própria.
Na última partida em São Januário milhares de pessoas superlotam o estádio. Entretanto, uma briga nas arquibancadas provoca a derrubada do alambrado, centenas de feridos e a interrupção do jogo. Foi uma tragédia mostrada ao vivo para todo o país que poderia ter manchado aquele grande título. A decisão dependeria das autoridades esportivas e mais uma polêmica com os meios de comunicação que acusavam o clube de abarrotar o estádio.
            O capitulo final deste ano só seria escrito em janeiro de 2001...
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Revista Placar 2000.
[2] Pedrinho fez embaixadinhas na Taça Guanabara e na decisão do Campeonato Carioca do mesmo ano (2000), o Flamengo estava sagrando-se campeão estadual e o flamenguista Beto resolveu responder Pedrinho na mesma moeda: com embaixadinhas. A torcida foi à loucura com os gritos de “Uh embaixadinha! Uh embaixadinha!”.
[3] Fonte: Mesquita, Alexandre; Leal, Eugênio e Almeida, Jefferson. Jogos Memoráveis do Vasco. Rio de Janeiro. Editora IVentura, 2012.

Vasco Maracanã 2000

Vasco Jornal O Globo 2000

Nenhum comentário:

Postar um comentário