”É incalculável a população que se moveu para os festejos
(...)
a Praia de Botafogo era insuficiente para acomodar o povo”
Raul Pompéia - escritor
1903 Amigos do Remo, Inimigos do Povo
A eleição presidencial que deu a
vitória a Rodrigues Alves (1902-1906) vai marcar profundamente a vida do Rio de
Janeiro, então Capital Federal. Durante o seu governo ele nomeará para prefeito
da cidade, Pereira Passos. Os dois iniciaram um processo de grandes mudanças na
cidade. Em pouco tempo os dois governantes fazem da região central um
verdadeiro canteiro de obras mudando o visual de toda a região.
O
conjunto das obras, que ficou conhecido popularmente como “bota-abaixo”, previa
o aterramento de boa parte da região do Cais do Porto até o inicio da Avenida
Beira-Mar, com a construção de uma grande avenida nos moldes das avenidas
parisiense. Para realizar a Avenida Central, o prefeito derrubou dezenas de
imóveis, expulsando milhares de pessoas de suas casas. Mas não foram somente os
pobres os atingidos. Vários clubes de regatas tiveram suas sedes também
derrubadas.
No
entanto, a estratégia dos governantes foi socorrer os clubes e dar incentivo
para que estes ficassem ao lado delas para a implementação das reformas. Para
atrair a simpatia da população que acreditava na Grande Reforma que
modernizaria a cidade, os dois se tornaram grandes aliados das atividades das
regatas, culminando com a construção do Pavilhão em 1905.
Ao
longo dos próximos 20 anos a cidade enfrentaria novas reformas que alterariam o
mapa da região das praias e do desmonte de alguns de seus morros: “desapareceram
a Praia do Russel na Glória, a Praia da Ajuda onde foram feitos aterros em
frente à Cinelândia, a Praia de Santa Luzia que ficava em frente à Igreja de
Santa Luzia no Centro da Cidade, a Praia Dom Manuel e Praia do Peixe que
ficavam uma de cada lado da Praça 15, bem como a própria praia em frente a
Praça 15, que chegava próxima à Rua Primeiro de Março no início da colonização,
foi cada vez ficando mais afastada até se tornar cais de barcas, assim
desaparecendo do cenário natural. Entre a Praça 15 e Praça Mauá, tudo era faixa
de praia e a chamada Prainha ficava onde hoje é a Praça Mauá. Existiram também
praias em frente ao bairro da Saúde que chegava até a Rua Sacadura Cabral,
assim como a Praia da Gamboa que era local de pescadores, e o Saco ou pequena
Enseada do Alferes na mesma área. Estas áreas da Saúde e Gamboa foram aterradas
para construção do Porto do Rio de Janeiro no início do século 20”[1].
Clara
Malhano, autora do livro sobre São Januário, explica como o nosso clube foi
afetado: “as sucessivas conquistas ao mar implicaria no desaparecimento de
diversos acidentes físicos e, até mesmo, alguns logradouros públicos. O grande
projeto iria prejudicar o estabelecimento do Club de Regatas Vasco da Gama em
suas duas extremidades. Por uma delas, as ampliações do Cais do Porto se
estenderam por sobre a Ilha das Moças, eliminando uma das possibilidades de
sede própria. Por outro, a construção da Avenida Beira-Mar se estenderia por
sobre a Travessa Maia, onde o clube mantinha uma garagem de baleieras e outros
barcos, eliminando tanto a ponta do Calabouço quanto a do Gelo” ( 2002,
p.52-53).
Mesmo sofrendo com as obras
de remodelação do Porto e a criação da Avenida Central, o Vasco procurava olhar
com otimismo e comemorava em grande estilo o seu 5° aniversário com uma matinee, exercícios de ginástica,
regata íntima e batismo de duas yoles (eram barcos mais modernos, que receberam
os nomes de Albatroz e Condor). A compra de yoles foi possível em função do
governo federal facilitar na importação destas embarcações do continente
europeu .
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] http://www.riodejaneiroaqui.com/pt/praias-antigas.html
Vasco Revista O Malho 1903 |
Vasco Revista O Malho 1903 |
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