quarta-feira, 2 de agosto de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1900 ARGENTINOS NA FESTA VASCAÍNA

                                                     “os moços que se entregam ao manejo        
                                                        do remo serão a arca de defesa da pátria”
                                                                        Frase de Olavo Bilac

1900             Argentinos na Festa Vascaína

Em função dos desentendimentos do ano anterior, a temporada das regatas para o Vasco não seria nada fácil. O clube “mais uma vez não competiu efetivamente pelo campeonato de remo, mas mesmo assim foi conquistada a segunda vitória da história do clube com a “Visão”, no terceiro páreo da primeira Regata de 1900”[1].
         Os associados tentavam dar a volta por cima mantendo acessa a chama de união alcançada nos primeiros meses de fundação. Foi assim que elegeram para presidente Leandro Martins com a missão de reagrupar os associados promovendo novas atividades recreativas. Na mesma época eles fazem uma confraternização ao comemorar os seus dois anos de existência. O clube realiza uma grande festa. Na ocasião eles recebem a visita da bela fragata argentina “Sarmiento” que viajava pelo mundo em atividade de instrução. A ponta do Quilombo (Ilha do Governador) foi o local escolhido para uma reunião social no palacete de Antonio Sousa Gomes, pai de Rodolpho Souza Gomes, um dos organizadores do evento vascaíno.
Ao retornar para a cidade os vascaínos resolvem caminhar pela cidade: “organizando os sócios do Vasco precedidos de uma banda de música e acompanhados por algumas famílias uma ruidosa passeata pelas ruas na nossa capital”[2]. Desde cedo percebe-se um desejo de fazer do clube uma instituição que representasse toda a cidade, que ocupasse seus espaços públicos e ganhasse a simpatia do população local. Não era um clube virado somente para si e seus sócios, mas voltado para expandir suas fronteiras para além dos associados.
Em grande reportagem realizada pela Revista da Semana é possível entender a grandeza do clube que reunia “um número superior a 400 (sócios), quase exclusivamente empregados do comércio”. E destaca o perfil do clube e de outros da região, além enfatizar que se rompiam barreiras na iniciativa de levar o remo para as camadas populares: “a esse clube, bem como a seus coirmãos do Boqueirão do Passeio, do Natação e outros, cabe a gloriosa iniciativa de introdução em nosso meio comercial do gosto náutico, vencendo quase inteiramente o preconceito retrógrado que votava ao ostracismo um esporte de tão benefícios efeitos”.
Lendo as notícias divulgadas pela imprensa é nítido o interesse dos organizadores das competições náuticas passarem uma imagem de fidalguia e distinção de classe nos principais eventos, em contraste com a crescente participação popular. Os clubes da região do Centro viviam o dilema de aceitarem novos sócios e atletas das camadas populares e de se apresentar como clubes dotados de membros “da boa sociedade”.
Essa tensão entre a popularização e os traços elitistas de quem comandava o esporte podia ser resolvida de várias formas. Algumas mais excludentes, como a separação nas arquibancadas criando locais reservados, nos barcos enfeitados e agrupando os mais elegantes, ou divulgando o grande público que assistia de diversos lugares em toda a Enseada de Botafogo. Um exemplo de seu caráter elitista e do papel desempenhado pela representação da grande imprensa era o apregoado anúncio de mulheres que “enfeitavam” a festa, é a reportagem da Gazeta de Notícias do dia 13 de agosto de 1900: “nas arquibancadas que o Conselho Superior de Regatas destinou aos seus convidados eram indescritíveis o entusiasmo com que todos acompanhavam as peripécias de cada um dos páreos e as ovações feitas aos seus vencedores. Ali estava representada uma grande parte do que de melhor tem a sociedade fluminense. Além das arquibancadas, completamente repleta de mimosas representantes do belo sexo, ainda no grande pavilhão central e em grande número nas canoas viam-se outras não menos mimosas, ostentando a beleza das suas toillettes claras”.
A presença feminina nas regatas será quase que obrigatória nas reportagens da época que ressaltavam uma mudança de hábito com o desenvolvimento urbano trazendo um afrouxamento dos laços familiares e um esvaziamento do poder das associações religiosas que perdiam espaço para as novas formas de sociabilidade como os eventos culturais e esportivos que se alastravam pela metrópole.
Em dezembro era anunciado e realização de obras na garagem do Vasco que garantiram um aumento de 30 metros. Garantindo mais espaço para o aumento do número de barcos, totalizando 23 embarcações. Também era anunciada a formação de uma escola de natação para em breve. Ela iria se juntar a escola de ginástica do clube, local de grande freqüência dos associados.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte:www.paixaovascao.com.br
[2] Semana Sportiva, agosto de 1900.

Vasco Revista da Semana 1900

Vasco Jornal do Brasil 1900

Nenhum comentário:

Postar um comentário