“os moços que se entregam ao manejo
do remo serão a arca de defesa da pátria”
Frase de Olavo Bilac
1900 Argentinos
na Festa Vascaína
Em
função dos desentendimentos do ano anterior, a temporada das regatas para o
Vasco não seria nada fácil. O clube “mais uma vez não competiu efetivamente
pelo campeonato de remo, mas mesmo assim foi conquistada a segunda vitória da
história do clube com a “Visão”, no terceiro páreo da primeira Regata de 1900”[1].
Os associados tentavam dar a volta por cima
mantendo acessa a chama de união alcançada nos primeiros meses de fundação. Foi
assim que elegeram para presidente Leandro Martins com a missão de reagrupar os
associados promovendo novas atividades recreativas. Na mesma época eles fazem
uma confraternização ao comemorar os seus dois anos de existência. O clube realiza
uma grande festa. Na ocasião eles recebem a visita da bela fragata argentina
“Sarmiento” que viajava pelo mundo em atividade de instrução. A ponta do
Quilombo (Ilha do Governador) foi o local escolhido para uma reunião social no
palacete de Antonio Sousa Gomes, pai de Rodolpho Souza Gomes, um dos
organizadores do evento vascaíno.
Ao
retornar para a cidade os vascaínos resolvem caminhar pela cidade: “organizando
os sócios do Vasco precedidos de uma banda de música e acompanhados por algumas
famílias uma ruidosa passeata pelas ruas na nossa capital”[2]. Desde cedo percebe-se um
desejo de fazer do clube uma instituição que representasse toda a cidade, que
ocupasse seus espaços públicos e ganhasse a simpatia do população local. Não
era um clube virado somente para si e seus sócios, mas voltado para expandir
suas fronteiras para além dos associados.
Em
grande reportagem realizada pela Revista da Semana é possível entender a
grandeza do clube que reunia “um número superior a 400 (sócios), quase
exclusivamente empregados do comércio”. E destaca o perfil do clube e de outros
da região, além enfatizar que se rompiam barreiras na iniciativa de levar o
remo para as camadas populares: “a esse clube, bem como a seus coirmãos do
Boqueirão do Passeio, do Natação e outros, cabe a gloriosa iniciativa de
introdução em nosso meio comercial do gosto náutico, vencendo quase
inteiramente o preconceito retrógrado que votava ao ostracismo um esporte de
tão benefícios efeitos”.
Lendo
as notícias divulgadas pela imprensa é nítido o interesse dos organizadores das
competições náuticas passarem uma imagem de fidalguia e distinção de classe nos
principais eventos, em contraste com a crescente participação popular. Os clubes
da região do Centro viviam o dilema de aceitarem novos sócios e atletas das
camadas populares e de se apresentar como clubes dotados de membros “da boa
sociedade”.
Essa
tensão entre a popularização e os traços elitistas de quem comandava o esporte podia
ser resolvida de várias formas. Algumas mais excludentes, como a separação nas
arquibancadas criando locais reservados, nos barcos enfeitados e agrupando os
mais elegantes, ou divulgando o grande público que assistia de diversos lugares
em toda a Enseada de Botafogo. Um exemplo de seu caráter elitista e do papel
desempenhado pela representação da grande imprensa era o apregoado anúncio de mulheres
que “enfeitavam” a festa, é a reportagem da Gazeta de Notícias do dia 13 de
agosto de 1900: “nas arquibancadas que o Conselho Superior de Regatas destinou
aos seus convidados eram indescritíveis o entusiasmo com que todos acompanhavam
as peripécias de cada um dos páreos e as ovações feitas aos seus vencedores.
Ali estava representada uma grande parte do que de melhor tem a sociedade
fluminense. Além das arquibancadas, completamente repleta de mimosas
representantes do belo sexo, ainda no grande pavilhão central e em grande
número nas canoas viam-se outras não menos mimosas, ostentando a beleza das
suas toillettes claras”.
A
presença feminina nas regatas será quase que obrigatória nas reportagens da
época que ressaltavam uma mudança de hábito com o desenvolvimento urbano
trazendo um afrouxamento dos laços familiares e um esvaziamento do poder das
associações religiosas que perdiam espaço para as novas formas de sociabilidade
como os eventos culturais e esportivos que se alastravam pela metrópole.
Em
dezembro era anunciado e realização de obras na garagem do Vasco que garantiram
um aumento de 30 metros. Garantindo mais espaço para o aumento do número de
barcos, totalizando 23 embarcações. Também era anunciada a formação de uma escola
de natação para em breve. Ela iria se juntar a escola de ginástica do clube,
local de grande freqüência dos associados.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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