“A enseada
inteira se engalana para os dias de certame marítimo”
Memorialista Luiz
Edmundo
1904 O
Convescote Vascaíno
Uma das formas dos clubes
garantirem o sucesso de sua existência prolongada era obter o apoio de ricos
comerciantes e industriais. Estes eram convidados para patrocinar o clube e dar
a chancela de prestígio social que as associações buscavam junto a sociedade.
Outra maneira de se afirmarem era celebrar os feitos das realizações esportivas
de seus membros para que estes assumissem maiores compromissos com a entidade.
Neste ano um domingo especial não
foi marcado por ser um “domingo de regatas”, mas pela confraternização entre os
associados e uma importante figura de prestígio no clube. Em apoio ao
presidente Alberto de Carvalho e Silva que viajaria para uma temporada na
Europa[1], os sócios do Vasco
prepararam uma homenagem ao dirigente realizando um passeio de barco até a Ilha
do Engenho em um dia festivo que incluía corrida de pedestres, corrida com
obstáculos, torneios de tiro, danças e excursões.
Os
clubes possuíam dois movimentos para os seus sócios. Um voltado para os atletas
que se dedicavam ao esporte competitivo, as disputas oficiais, os campeonatos e
a busca por troféus e medalhas. Um outro movimento atraía os sócios mais velhos
e as mulheres. Eram as atividades mais ligadas ao lazer, a diversão pura, do
sentido de confraternização em uma “grande família”. O esporte nesse contexto é
inserido muito mais como atividade recreativa que uma ação competitiva. O lazer
vem em primeiro lugar. Tanto o esporte como as atividades recreativas estão envoltas
em uma nova forma de sociabilidade em busca de um tipo de vida ao ar livre que
faz das praias um novo local de prazer e divertimento.
Por isso podemos entender porque o
remo foi o esporte que mais imagens teve com a crescente produção de revistas
mundanas que divulgavam o lazer como um novo espaço de se inserir na
sociedade e para representar “as
famílias mais elegantes e a juventude moderna em ação”.
Neste ano o clube comemorava
suas primeiras vitórias no remo e continuava o processo de substituição das embarcações
mais antigas (chamadas
baleeiras) pelas mais modernas (Yoles). Assim, “são
conquistados os primeiros troféus, em regatas oficiais, da história do clube
nas provas clássicas Jardim Botânico e Sul América”[2].
Este
também foi um ano importante para o futebol carioca com a criação de alguns
clubes tradicional que dominaram a cena esportiva nos próximos anos. São eles:
Bangu, Botafogo e América. Juntos os três novos clubes se juntariam ao
Fluminense, Payssandu e o Rio Cricket para disputarem o primeiro campeonato
carioca em 1906.
O
ano que iniciava com a dupla Rodrigues Alves (presidente) e Pereira Passos
(prefeito) no lançamento da pedra fundamental da futura Avenida Central termina
com uma grande revolta popular, quando milhares de pessoas agitam as ruas
protestando contra as obras e as mudanças que provocavam o afastamento de
milhares de pessoas do seu local de moradia.
Nesse
conjunto de mudanças é possível verificar como o esporte estava inserido pois
novas avenidas seriam rasgadas e quarteirões destruídos. Um projeto de cidade
perverso estava sendo gestado. Uma nova Zona Sul receberá as melhorias que
beneficiarão os moradores dos palacetes das Laranjeiras e de Botafogo. Estas
regiões serão beneficiadas com a melhoria do sistema de transporte e com a
abertura de túneis para Copacabana (local que passa a ser habitado a partir dos
anos1920). Para a população mais pobre restou ocupar os bairros da Zona Norte e
dos subúrbios cariocas. Uma nova cidade mais segregada vai ser o resultado a
longo prazo.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1]
Uma viagem para a Europa era algo para poucas pessoas no início do século.
Custava cerca de 3 contos e 500 mil réis, enquanto o salário da maioria dos
empregados do comércio (grupo dominante entre os sócios do Vasco) era de até
300 mil réis por mês. Fonte: Nosso Século (1900-1910), vol. 1, p. 24.
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