quarta-feira, 16 de agosto de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1904 O CONVESCOTE VASCAÍNO

                            “A enseada inteira se engalana para os dias de certame marítimo”
                                              Memorialista Luiz Edmundo


1904                 O Convescote Vascaíno

        Uma das formas dos clubes garantirem o sucesso de sua existência prolongada era obter o apoio de ricos comerciantes e industriais. Estes eram convidados para patrocinar o clube e dar a chancela de prestígio social que as associações buscavam junto a sociedade. Outra maneira de se afirmarem era celebrar os feitos das realizações esportivas de seus membros para que estes assumissem maiores compromissos com a entidade.
            Neste ano um domingo especial não foi marcado por ser um “domingo de regatas”, mas pela confraternização entre os associados e uma importante figura de prestígio no clube. Em apoio ao presidente Alberto de Carvalho e Silva que viajaria para uma temporada na Europa[1], os sócios do Vasco prepararam uma homenagem ao dirigente realizando um passeio de barco até a Ilha do Engenho em um dia festivo que incluía corrida de pedestres, corrida com obstáculos, torneios de tiro, danças e excursões.
Os clubes possuíam dois movimentos para os seus sócios. Um voltado para os atletas que se dedicavam ao esporte competitivo, as disputas oficiais, os campeonatos e a busca por troféus e medalhas. Um outro movimento atraía os sócios mais velhos e as mulheres. Eram as atividades mais ligadas ao lazer, a diversão pura, do sentido de confraternização em uma “grande família”. O esporte nesse contexto é inserido muito mais como atividade recreativa que uma ação competitiva. O lazer vem em primeiro lugar. Tanto o esporte como as atividades recreativas estão envoltas em uma nova forma de sociabilidade em busca de um tipo de vida ao ar livre que faz das praias um novo local de prazer e divertimento.
            Por isso podemos entender porque o remo foi o esporte que mais imagens teve com a crescente produção de revistas mundanas que divulgavam o lazer como um novo espaço de se inserir na sociedade  e para representar “as famílias mais elegantes e a juventude moderna em ação”.
        Neste ano o clube comemorava suas primeiras vitórias no remo e continuava o processo de substituição das embarcações mais antigas               (chamadas baleeiras) pelas mais modernas (Yoles). Assim,são conquistados os primeiros troféus, em regatas oficiais, da história do clube nas provas clássicas Jardim Botânico e Sul América”[2].
Este também foi um ano importante para o futebol carioca com a criação de alguns clubes tradicional que dominaram a cena esportiva nos próximos anos. São eles: Bangu, Botafogo e América. Juntos os três novos clubes se juntariam ao Fluminense, Payssandu e o Rio Cricket para disputarem o primeiro campeonato carioca em 1906.
O ano que iniciava com a dupla Rodrigues Alves (presidente) e Pereira Passos (prefeito) no lançamento da pedra fundamental da futura Avenida Central termina com uma grande revolta popular, quando milhares de pessoas agitam as ruas protestando contra as obras e as mudanças que provocavam o afastamento de milhares de pessoas do seu local de moradia.
Nesse conjunto de mudanças é possível verificar como o esporte estava inserido pois novas avenidas seriam rasgadas e quarteirões destruídos. Um projeto de cidade perverso estava sendo gestado. Uma nova Zona Sul receberá as melhorias que beneficiarão os moradores dos palacetes das Laranjeiras e de Botafogo. Estas regiões serão beneficiadas com a melhoria do sistema de transporte e com a abertura de túneis para Copacabana (local que passa a ser habitado a partir dos anos1920). Para a população mais pobre restou ocupar os bairros da Zona Norte e dos subúrbios cariocas. Uma nova cidade mais segregada vai ser o resultado a longo prazo.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Uma viagem para a Europa era algo para poucas pessoas no início do século. Custava cerca de 3 contos e 500 mil réis, enquanto o salário da maioria dos empregados do comércio (grupo dominante entre os sócios do Vasco) era de até 300 mil réis por mês. Fonte: Nosso Século (1900-1910), vol. 1, p. 24.
[2] Fonte: www.paixaovascao.com.br

Vasco Jornal Tagarela 1904

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