“os moços que se entregam ao manejo
do remo serão a arca de defesa da pátria”
Frase de Olavo Bilac
1902 Tragédia no Mar
Nem sempre a história de um
clube pode ser contada somente com as vitórias, as conquistas ou feitos
heróicos. O passado acaba por revelar caminhos tortuosos, fatos inesperados que
alteram os sentidos iniciais atribuídos ao esporte. As vezes, quando menos se
espera, vem uma notícia que abala os ânimos dos integrantes da agremiação ou
serve para consolidar sentimentos básicos de pertencimento. Assim foi no mês de
maio, quando um grupo de atletas sofreu com uma tempestade repentina na Baía de
Guanabara. O acidente poderia ter sido pior já que alguns conseguiram nadar e
ser salvos. “Ficou marcada como a pior da história do Vasco: a baleeira “Vascaína”,
em uma viagem de lazer até Niterói, vira e o mar agitado engole 4 de seus 13
tripulantes, entre eles o fundador e a época secretário Luiz Jacinto Ferreira
de Carvalho”[1].
A notícia comoveu toda a cidade que
passou a acompanhar o resgate dos corpos desaparecidos, contando com a
mobilização de atletas de várias agremiações: “tem continuado incessante o
trabalho dos sócios do Club Vasco da Gama e outros clubs de regatas procurando
os cadáveres dos náufragos”. Pouco depois era realizada uma missa de 7° dia na
Igreja da Candelária, recebendo o comparecimento de centenas de pessoas.
O desastre não teve maiores
proporções pois contou com ajuda heroica de dois pescadores que conseguiram
trabalhar no resgate dos 9 remadores. Em junho, o clube fazia uma homenagem
dando a José Moreno e Antonio Silveira, medalhas de ouro pelo “arrojado
comedimento que empreenderam para salvar com abnegado esforço os nove
associados que, graças a este ato de heroísmo sobreviveram ao naufrágio da
baleeira Vascaína”. A homenagem aconteceu na Associação dos Empregados do
Comércio e contou com a presença do Presidente da República[2].
Poucos antes o clube já
havia recebido a triste notícia do falecimento de seu primeiro presidente,
Francisco Couto, que retornara ao clube em 1901. A união de atletas, associados
e torcedores certamente contribuiu para o clube superar tantas infelicidades em
tão pouco tempo. O nosso caminho nunca foi fácil, restava redobrar as energias
da família cruzmaltina para retomar o rumo das alegrias que aquele esporte
proporcionava.
Neste
ano o Conselho Superior de Regatas é renomeado e passa a se chamar Federação
Brazileira de Sociedades de Remo (FBSR), quando instituiu o Campeonato
Brasileiro de Remo.
Também
neste ano era criada a revista de variedades O Malho. Esta publicação será uma
fonte valiosa de exposição do remo e um canal permanente de comunicação com o
público amante do esporte que apreciará as imagens dos remadores em ação. Com o
surgimento dela e outras revistas que aparecem também neste período, o esporte
carioca começa a ter uma maior divulgação.
Outra
revista criada nesta época e que foi muito importante para a divulgação das
atividades náuticas era a Revista da Semana, criada em 1900 e que saía como
suplemento do Jornal do Brasil. Nela foi possível conhecer a história do clube
que completava 4 anos[3], enfatizando a figura do
primeiro presidente, Francisco do Couto (que falecera em maio de 1902), o
esforço para comprar os barcos, a divisão do clube em 1901(em que vários
associados foram para o Internacional) até o desastre que resultou na morte dos
remadores na Baía de Guanabara. A reportagem tem um tom profético pois celebra
o clube como algo que marcaria a vida da cidade pela sua popularidade e por sua
paixão dos associados: “o Club de Regatas Vasco da Gama começou desde logo pelo
devotamento dos seus fundadores e sócios a recomendar-se a simpatia pública,
desenvolvendo dia-a-dia o seu valente corpo de remadores e aumentando a sua
esquadra de elegantes embarcações construídas de acordo com o que de mais
adiantado era possível entre nós conseguido”.
Não
é à toa que o clube chegará aos primeiros títulos em 1905 e 1906, se tornado o
primeiro bicampeão da cidade e referência para os outros clubes.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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