“O club atravessava uma grande crise econômica nesta
época”
José da Silva Rocha – Memorialista do Vasco
1907 O
football é um modismo?
Em São Paulo o futebol
ganhava cada vez mais adeptos e o seu campeonato enchia os estádios que reuniam
de 3 a 4 mil pessoas, no Rio de Janeiro a disputa pelo esporte preferido ainda
pendia para o remo que não só reunia maior público em seus principais eventos,
como a imprensa fazia uma cobertura maior.
Competir com um domingo de regatas
era algo para uma outra diversão que começava a contagiar a cidade. Era o
incipiente desenvolvimento das salas de cinema. Nesse ano, ocorre a
proliferação de inúmeros locais de exibição dos filmes graças ao incremento na
energia elétrica com o início de funcionamento da usina de Ribeirão das Lajes.
“Só entre agosto e dezembro desse ano, inauguraram dezoito novas salas”[1].
Em maio a Liga Metropolitana de
Futebol tomava uma decisão que mostrava o seu caráter elitista e racista: era
proibida a inclusão de jogadores de cor. A medida atingia diretamente o Bangu,
um dos fundadores da Liga que não aceita o novo regulamento e pede desfiliação.
Apesar disso, os oito clubes filiados obedecem as novas regras e se preparam
para o segundo campeonato.
A
saída do Bangu não causou nenhum protesto na grande imprensa da época. Para ela
o que valia era ressaltar o glamour
da arquibancada tricolor. Nas reportagens sobre os jogos geralmente vinha
apenas uma pequena descrição do jogo. O que valia era propagar que o público
dos estádios era composto “pelas mais distintas famílias da sociedade
fluminense”, que as damas usavam “chapéus emplumados”, era o “sport da mais
fina flor da sociedade”. Era o tempo em que os torcedores de Botafogo e do
Fluminense encomendavam da Europa fitas para serem colocadas nos chapéus com as
cores alusivas de seus clubes.
Enquanto a Liga excluía negros e
trabalhadores, outros clubes surgiam pela cidade com regras menos excludentes. Esse
processo de popularização da prática do futebol nos possibilita uma releitura
da história desse esporte na cidade. O
historiador Leonardo Pereira adverte para o perigo de reproduzir o preconceito
das elites ao narrar a trajetória de nosso esporte somente pelo lado dos
poderosos: “desconsiderar a prática esportiva de grupos os quais os próprios
sportmens queriam ignorar, acaba muitas vezes por fazer da memória construída
por esses jovens esportistas a própria história do futebol na cidade” (2000,
p.87).
O mundo caminha por diferentes percursos, no
entanto, uma história oficial do futebol privilegiou contar apenas pelo ângulo
das elites que faziam de tudo para manter o futebol como monopólio de sua
classe. Ao todo 77 clubes de futebol já praticam o esporte independente da Liga
principal. Um dos clubes que surgia e tinha um perfil operário era o Carioca,
formado por operários da fábrica de tecelagem no Jardim Botânico, Aliás, este é
um dos momentos de maior crescimento do número de trabalhadores das indústrias
no início do século. O Rio de Janeiro ainda superava São Paulo na quantidade de
fábricas, concentradas em diversas atividades, especialmente a tecelagem.
A ascensão do Vasco na Primeira Divisão
em 1923 vai provar que o futebol praticado pelas camadas inferiores estava bem
vivo desde os primeiros anos e que a manutenção dos privilégios e barreiras em
sua prática estavam com seus dias contados ou, ao menos, ameaçados.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1]
Fonte: Revista Nosso Século, vol 1 (1900-1910), São Paulo, Abril Cultural,
1980, p.77.
Vasco Revista da Semana 1907 |
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