domingo, 27 de agosto de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1907 O FOOTBALL É UM MODISMO?

                                    “O club atravessava uma grande crise econômica nesta época”
                                                   José da Silva Rocha – Memorialista do Vasco


1907                O football é um modismo?

        Em São Paulo o futebol ganhava cada vez mais adeptos e o seu campeonato enchia os estádios que reuniam de 3 a 4 mil pessoas, no Rio de Janeiro a disputa pelo esporte preferido ainda pendia para o remo que não só reunia maior público em seus principais eventos, como a imprensa fazia uma cobertura maior.
            Competir com um domingo de regatas era algo para uma outra diversão que começava a contagiar a cidade. Era o incipiente desenvolvimento das salas de cinema. Nesse ano, ocorre a proliferação de inúmeros locais de exibição dos filmes graças ao incremento na energia elétrica com o início de funcionamento da usina de Ribeirão das Lajes. “Só entre agosto e dezembro desse ano, inauguraram dezoito novas salas”[1].
            Em maio a Liga Metropolitana de Futebol tomava uma decisão que mostrava o seu caráter elitista e racista: era proibida a inclusão de jogadores de cor. A medida atingia diretamente o Bangu, um dos fundadores da Liga que não aceita o novo regulamento e pede desfiliação. Apesar disso, os oito clubes filiados obedecem as novas regras e se preparam para o segundo campeonato.
A saída do Bangu não causou nenhum protesto na grande imprensa da época. Para ela o que valia era ressaltar o glamour da arquibancada tricolor. Nas reportagens sobre os jogos geralmente vinha apenas uma pequena descrição do jogo. O que valia era propagar que o público dos estádios era composto “pelas mais distintas famílias da sociedade fluminense”, que as damas usavam “chapéus emplumados”, era o “sport da mais fina flor da sociedade”. Era o tempo em que os torcedores de Botafogo e do Fluminense encomendavam da Europa fitas para serem colocadas nos chapéus com as cores alusivas de seus clubes.

            Enquanto a Liga excluía negros e trabalhadores, outros clubes surgiam pela cidade com regras menos excludentes. Esse processo de popularização da prática do futebol nos possibilita uma releitura da história desse esporte na cidade.  O historiador Leonardo Pereira adverte para o perigo de reproduzir o preconceito das elites ao narrar a trajetória de nosso esporte somente pelo lado dos poderosos: “desconsiderar a prática esportiva de grupos os quais os próprios sportmens queriam ignorar, acaba muitas vezes por fazer da memória construída por esses jovens esportistas a própria história do futebol na cidade” (2000, p.87).
 O mundo caminha por diferentes percursos, no entanto, uma história oficial do futebol privilegiou contar apenas pelo ângulo das elites que faziam de tudo para manter o futebol como monopólio de sua classe. Ao todo 77 clubes de futebol já praticam o esporte independente da Liga principal. Um dos clubes que surgia e tinha um perfil operário era o Carioca, formado por operários da fábrica de tecelagem no Jardim Botânico, Aliás, este é um dos momentos de maior crescimento do número de trabalhadores das indústrias no início do século. O Rio de Janeiro ainda superava São Paulo na quantidade de fábricas, concentradas em diversas atividades, especialmente a tecelagem.
            A ascensão do Vasco na Primeira Divisão em 1923 vai provar que o futebol praticado pelas camadas inferiores estava bem vivo desde os primeiros anos e que a manutenção dos privilégios e barreiras em sua prática estavam com seus dias contados ou, ao menos, ameaçados.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Revista Nosso Século, vol 1 (1900-1910), São Paulo, Abril Cultural, 1980,  p.77.

Vasco Revista da Semana 1907

Nenhum comentário:

Postar um comentário